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segunda-feira, 14 de março de 2016

Cine Teatro Santana


Por Adilson Simas
Nesta cidade de muitas personalidades ligadas ao cinema e ao teatro - no ano passado Dimas Oliveira escreveu um livro versando sobre cinema, e neste foi a vez de Geraldo Lima narrar o movimento teatral - vale a pena conhecer mais detalhes do  Cine Teatro Santana, por quem viveu aquele tempo e frequentava a famosa casa de espetáculos.
Eis o que conta o octogenário Antonio Moreira Ferreira, o poeta, escritor e historiador também conhecido como Antonio do Lajedinho, no livro "Feira na Década de 30", lançado em 2004.
"Em 1919,  Ruy Barbosa veio fazer uma visita aos correligionários políticos de Feira de Santana. Naquela oportunidade fez um dos mais importantes pronunciamentos políticos da época, com grande repercussão em todo o Brasil. Aquele pronunciamento foi feito no palco do Cine Teatro Santana.
É o Cine Teatro Santana, parte histórica da Feira, que ora volta nas lembranças da minha juventude.
O Cine Teatro que conheci na década de 30 era muito grande para o número de habitantes da cidade.
Situado na antiga Rua Direita, hoje Conselheiro Franco, em frente ao "Beco do Mocó", ocupava uma área aproximada de 600 a 800 metros quadrados, tendo na frente uma porta larga que servia de entrada para a sala de espera, mais duas portas na frente, para saída, e duas bilheterias entre as portas.
Ainda na frente existia 3 janelas na parte alta, no mezanino, que, com o advento do cinema, foram fechadas as laterais e transformadas em seteiras, a central onde foi instalada a máquina de projeção (a princípio parava a projeção para trocar a parte seguinte de filme).
A parte interna era mobiliada com cadeiras, tendo uma divisão na parte próxima do palco (local privilegiado para o teatro e discriminado em "geral" para cinema).
Nas laterais, a uns três metros do solo, havia uma carreira de frisas e mais outros três metros acima, ficavam os camarotes, sendo os do mezanino especiais. Tudo com realce de Arte Barroca.
Naquele palco, que tinha vários camarins, desfilaram os Grupos Dramático Sales Barbosa, do qual faziam parte Elziário Santana, Osvaldo Santos, Florisberto Moreira da Silva, Antonio Ribeiro, as irmãs Zaída, Zenita, Zorilda e outras; o Grupo Taborda que tinha Gilberto Borges da Costa, Martiniano Carneiro, Joaquim Borges da Costa, Manuel da Costa Ferreira, Aurelio Vasconcelos, Alberto Boa Ventura e outros, além do Grêmio Lítero-Dramático Rio Branco, do qual faziam parte Dr. Gastão Guimarães, Dr. Juventino Pitombo, Antonio Ferreira da Silva etc, como outros grupos que por aqui passaram.
Quando comecei a frequentá-lo, na década de 30, o cinema ainda era mudo por aqui. O seu dono era o Sr Calmon de Siqueira e os operadores eram Florisberto Moreira (Zinho) e Joaquim dos Santos (Quincas). Logo chegaram os primeiros filmes falados que trouxeram mais adeptos ao cinema.
Aos domingos eram oferecidos filmes dramáticos, estrelados por Bette Daves, Kay Francis, Eerol Flynn, Rodolfo Valentino etc. As segundas-feiras eram reservadas para os famosos bang-bangs, que tinham como tradicionais "mocinhos" o Buck Jones, Kay Maynard, George O'Brien, Tom Mix e outros.
Era a rapaziada que fazia questão de sentar nas gerais, porque ali todos aplaudiam batendo o acento da cadeira e gritando a cada castigo que o mocinho aplicava no bandido. Eram dois pandemônios: o da tela e o dos torcedores Muitas vezes era necessário parar a projeção e acender as luzes para que os torcedores se acalmassem.
Depois vieram os seriados também às segundas-feiras, que interrompiam em uma cena de suspense e aparecia na tela "VOLTE NA PRÓXIMA SEMANA". E  durante os dias seguintes os homens comentavam os acontecimento do seriado, como hoje se comentam os das novelas  na TVs".
Um dia, em nome do progresso, mutilaram o histórico Cine Teatro Santana para transformar o local em estacionamento de aluguel de automóveis.
De pé, apenas "a marca do crime": um pedaço de parede que desafia o tempo e mexe com as lembranças dos velhos contemporâneos que ainda vivem".

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