Por Ricardo
Noblat
Não, nem
Lula teve ainda essa coragem. Ele tem dito a Dilma que a situação é muito ruim,
mas que se todos se empenharem, dará, sim, para arquivar na Câmara dos Deputados
o pedido de impeachment.
Lula diz
isso só por ouvir dizer. Ele mesmo, com o título de ministro suspenso, e medo
de ser preso pelo juiz Sérgio Moro, está mais preocupado com seu destino do que
com o destino de Dilma.
Na semana
passada, quando telefonou para o vice-presidente Michel Temer e perguntou se
ainda havia na casa dele uma cachacinha gostosa para os dois tomarem juntos,
Lula parecia animado. Não está mais.
Temer
concordou em recebê-lo. Mas no dia seguinte, cancelou o encontro depois que
Dilma convidou o deputado Mauro Lopes (PMDB-MG) para ser ministro da Secretaria
da Aviação Civil. Lopes aceitou o convite.
A recente
convenção nacional do PMDB aprovou resolução proibindo seus filiados de
assumirem cargos no governo até que se decida se o partido romperá com Dilma. A
decisão será tomada na próxima terça-feira.
Lula tem
tentado remarcar seu encontro com Temer, mas o vice-presidente passou à
clandestinidade. Sabe-se que estaria em São Paulo, embora amigos dele informem
que Temer voou para Lisboa.
A caça de
Lula a Temer, e a de Dilma também, é uma demonstração convincente de que Lula,
Dilma e o governo estão totalmente perdidos, sem encontrar saídas para a
situação que enfrentam.
Quando se
cobra que apontem saídas, apontam as óbvias que, a essa altura, se revelam
ineficientes. Por que imaginar que uma conversa com Temer poderia manter o PMDB
no governo?
Ora,
Temer será o maior beneficiário do impeachment de Dilma. E, por mais que negue,
está tomando com discrição as providências necessárias para governar em breve.
Dilma
contou aos seus ministros de confiança que conversará com cada um dos 65
deputados que integram a Comissão Especial do Impeachment. Ela, que nunca
gostou de conversar com políticos, dirá o quê para eles?
Mais:
acenará com o quê para eles? Liberação de emendas ao Orçamento para beneficiar
os redutos eleitorais dos deputados? Não funcionará. Falta dinheiro ao governo
para tal.
Cargos no
governo a serem preenchidos por indicação dos deputados? Mas logo num governo
que pode estar a poucos meses do seu fim? E quem, no momento, quer correr esse
risco? Vai que Moro fica sabendo...
Dilma - quem sabe? - poderá apelar para o patriotismo dos deputados e prometer para
breve o anúncio de importantes medidas que debelarão a crise econômica e, por
tabela, a política.
Quem
acreditará? De resto, tudo o que Dilma possa oferecer, Temer também poderá, e
em dobro. E com uma vantagem: ele tem pinta de futuro. Dilma, de passado. E de
um passado triste.
No
entorno da presidente, não existe um só auxiliar que acredite na salvação dela.
Todos já jogaram a toalha. E todos torcem para que ela renuncie, abreviando sua
agonia e a do país.
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