Por Reinaldo Azevedo
É evidente que estou
descontente com a situação do país, a exemplo da esmagadora maioria dos
brasileiros. E fico ainda mais chateado se penso nas oportunidades que estão
sendo perdidas e no preço que vai nos cobrar o futuro por tanto desarranjo.
Mas tenho cá as minhas
vaidades - poucas, mas de estimação. Do ponto de vista intelectual, não poderia
me sentir mais recompensado. E não porque conservadores sintam especial prazer
em demonstrar que estavam certos em seu pessimismo.
Eu nem acho que
pessimistas sejam moralmente superiores a otimistas. De natural, sou mais
tendente ao entusiasmo do que à abulia. É muito raro que a circunspecção seja
algo mais do que falta do que dizer.
Minha satisfação decorre
do fato de que eu não via fantasmas quando apontava, quase solitariamente, que
o PT não havia aderido aos pressupostos da democracia. Mais ainda, e isto é
muito importante para os meus valores: não estava sendo injusto.
Uma presidente da
República reúne um grupo de sedizentes juristas no Palácio do Planalto e
declara que um processo, cujo rito foi definido pelo Supremo, é golpe. Escolhe
para a chefia da Casa Civil um homem investigado e o faz, de forma confessa,
para lhe conferir foro especial.
Tal senhor, impedido, por
ora, de assumir o posto, vai a uma reunião de sindicalistas e prega abertamente
que estes se mobilizem contra o livre trabalho da Justiça e do Ministério
Público. Evidencia-se, sem subterfúgios e sem que se tenha de apelar a
gravações, que sua tarefa é mobilizar a máquina do estado contra a Lava Jato.
Brasil afora, franjas do
partido mobilizam grupelhos e milícias contra o tal "golpe", aquele de que se
falou no palácio, e um dos seus mais notórios esbirros, Guilherme Boulos,
promete "incendiar o país" e não lhe dar "paz" se o Congresso não fizer as
vontades dos companheiros.
Mais: a denúncia tramita
no Congresso segundo regras previstas na Constituição e nos respectivos
Regimentos Internos das duas Casas, Câmara e Senado. E tudo, reitero,
gerenciado, de forma até indevida, pelo STF.
Ao acusar o golpe,
nomear Lula e ainda incitar a resistência a prerrogativas do Judiciário e do
Legislativo, Dilma incorre em ao menos três crimes de responsabilidade com
prescrição constitucional (Artigo 85): atenta contra o livre exercício do
Judiciário (Inciso II), contra a segurança interna do país (IV) e contra a
probidade administrativa (V), crimes que encontram na Lei 1.079 as devidas
penalidades. O preço político é o impeachment, que hoje ameaça a presidente em
razão de outra canelada na Constituição: atentou contra a lei orçamentária
(Inciso VI).
Dilma vai cair, é certo.
Eu não aposto que essa gente consiga, como quer Boulos, incendiar o país. O
leão banguela põe fogo, no máximo, em pneus. De todo modo, resta evidente que o
regime democrático e de direito não é o petista. Essa gente só respeita a
Constituição e as leis quando isso lhe convém.
A própria Dilma resolveu
anunciar ao mundo um suposto golpe no Brasil, contribuindo para difamar o país
nos fóruns internacionais, adaptando Luís XV: "Depois do meu tsunami de
corrupção e incompetência, o dilúvio".
Os dias serão tensos,
sim! Mas o país tem um encontro marcado com o futuro. E quem lhe dá régua e
compasso é a Constituição.
Fonte: "Blog Reinaldo Azevedo"
Nenhum comentário:
Postar um comentário