Por Henrique Raposo
Israel não faz fronteira com o pacato e próspero Luxemburgo, mas durante
décadas e décadas a sensibilidade europeia exigiu que Israel se comportasse
como um vizinho do Grão-ducado. Tel Aviv é a cabeça de uma democracia cercada
por inimigos e com um quotidiano marcado pelo terrorismo, ou seja, vive na
história, esse espaço físico e mental que exige o recurso à guerra.
Israel tinha de atirar bombas e erguer muros para sobreviver - mas tudo
isto parecia medieval aos olhos dos sofisticadíssimos europeus que nada tinham
de sofisticado, diga-se. Eram até bastante obtusos, porque não compreendiam um
ponto evidente para a restante população mundial: a tranquilidade europeia dos
anos 80, 90 e 2000 era uma excentricidade histórica, não podia ser exportada,
era uma pausa feliz e fugaz. Mas, com enorme arrogância, a Europa ocidental
pensou mesmo que podia exportar esta tranquilidade pensou que podia exportar a
ilegalização da guerra e a proibição de pensar através de conceitos clássicos
como "inimigo". Assumiu-se que todas as questões da ordem internacional eram
solúveis através da ética comunicacional de Habermas. Não, não é preciso atirar
bombas aos nossos inimigos, basta atirar argumentos e hashtags fofinhas, que
eles acabarão por se render à nossa sofisticada bondade!
Com os ataques a Paris e Bruxelas, julgo que esta atmosfera está a desaparecer
da cabeça europeia. Os europeus estão a perceber finalmente que o caos da
História está a voltar, estão a encerrar nas suas cabeças a fase da negação e
em breve compreenderão o que temos pela frente: uma espécie de guerra civil com
boa parte da população. Não, não estamos em guerra com todos os muçulmanos
europeus, mas estamos em guerra com muitos muçulmanos europeus. O problema não é
o refugiado, é o tipo que sempre viveu aqui, o gajo que cresceu em comunidades
que odeiam de facto as nossas liberdades, a começar na liberdade das mulheres.
Isto determinará uma acção policial mais abrangente e musculada. Se não
aumentarmos este músculo no sentido de prevenir ainda mais estes ataques, as
nossas sociedades caminharão indefesas para um beco sem saída: medo e o
consequente estado de emergência perpétuo.
Depois de assumirem a presença de um inimigo interno, os europeus terão de
assumir a presença de inimigos externos e terão de compreender que a guerra é
um recurso legítimo. Há que trocar Habermas por Kant, que era bem claro: as
potências do Estado de Direito têm o dever de actuar contra as potências do
Estado da Natureza ou contra os vazios de poder criadores ed anarquia. As
nossas fronteiras leste, sudeste e sul não podem continuar a importar
instabilidade para o nosso coração. Por outras palavras, Alemanha, França e
Reino Unido têm de liderar um verdadeiro exército europeu preparado para matar
e morrer. Bem-vindos à História, esse espaço mental e físico onde sempre esteve
esse grande país europeu chamado Israel.
Fonte: Israel em Portugal
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