Por Roberto Hugo da
Costa Lins
Por que tanta pressa do
nosso Governo em trazer os médicos cubanos ao Brasil?
As tentativas frustradas do
governo brasileiro de trazer médicos estrangeiros para trabalhar no SUS mostram
que as condições de trabalho oferecidas são no mínimo inadequadas. O presidente
da Ordem dos Médicos de Portugal, José Manuel Silva, declarou enfaticamente à
imprensa brasileira:
"É uma espécie de
escravidão. O médico está preso no local para onde foi alocado, não pode sair
de lá, e não tem seu título reconhecido. É como alguém que vai para um país e
lhe retiram o passaporte e ele não pode sair de lá. Não há interesse dos
médicos portugueses em participar do programa brasileiro." Assim também foi com
os espanhóis e outros europeus.
Pode-se afirmar que a forma
de contratação dos médicos cubanos é análoga ao trabalho escravo. O governo
brasileiro vai pagar ao governo cubano, por intermédio da Organização
Panamericana de Saúde (Opas), R$ 10.000 para cada médico. Por sua vez, o governo
cubano vai repassar aos seus médicos uma pequena fração desta quantia. Por
incrível que pareça, o governo brasileiro não sabe quanto os médicos cubanos
vão receber de salário.
Algumas questões devem ser
respondidas pelo governo do Brasil:
1. A quem os médicos cubanos vão prestar
contas? Ao governo cubano que lhes paga ou ao governo brasileiro que paga ao
governo de Cuba?
2. As famílias destes médicos também virão ao Brasil ou
ficarão retidas em Cuba como garantia do retorno destes profissionais?
3. Os
médicos solteiros poderão se relacionar com moças brasileiras? Este direito
lhes é proibido na Venezuela.
4. Quanto efetivamente vai receber cada médico?
Este dinheiro lhe será pago mensalmente ou ficará retido em Cuba para ser pago
quando retornarem a seu país? Os médicos importados trabalharão apenas por casa
e comida? Temos o direito de saber, pois na realidade somos todos nós que
estamos pagando.
5. E quanto aos erros médicos quem vai ser responsabilizado: o
governo cubano ou o médico?
6. É justo um fazendeiro brasileiro ser acusado de
promover trabalho escravo quando procede desta mesma forma do governo
brasileiro?
7. Apesar da urgência em oferecer atendimento médico de boa
qualidade aos cidadãos brasileiros, medidas atabalhoadas, sem discussão
adequada, com finalidade nitidamente eleitoreira, redundarão num grande
fracasso.
Não existe nenhuma nação
que permita médicos estrangeiros trabalharem em seu país sem uma avaliação
criteriosa da sua capacidade profissional. Este projeto temerário e equivocado
poderá ter desastrosas implicações sociais, médicas, diplomáticas e penais.
Roberto Hugo da
Costa Lins é médico
Fonte: "O Globo"
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