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sexta-feira, 20 de setembro de 2013

"O mínimo que você precisa é ser incomodado"

Por Leonildo Trombela

Como é possível querer aprender algo de modo indolor e cômodo? Pelo visto até hoje no Brasil há a esperança que isso venha a acontecer um dia. Não à toa, quando muitas dessas pessoas que carregam essa esperança veem algo que não sejam pôneis cintilantes e arco-íris, elas ou pulam fora ou se revoltam; estrebucham-se.
Tendo em conta isso, no baixo mundo brasileiro tem aparecido uma enxurrada de sujeitos escandalizados ou mesmo ofendidos com o tom pelo qual algumas pessoas se expressam, quando no máximo deveriam sentir um incômodo. Essas ‘almas de fino cristal’ que se abalam por tão pouco são pessoas que interpretam um aperto de mão firme como agressão grave, quando não tentativa de homicídio - o que é dizer que algumas delas podem até ser histéricas.
É nessa situação histérica que veio em boa hora a coletânea O Mínimo Que Você Precisa Saber Para Não Ser um Idiota, de autoria de Olavo de Carvalho e primorosa organização de Felipe Moura Brasil, cuja epígrafe bem poderia ser o dito do Padre Antonio Vieira no Sermão da Sexagésima:
"Pois o gostarem ou não gostarem os ouvintes! Oh, que advertência tão digna! Que médico há que repare no gosto do enfermo, quando trata de lhe dar saúde? Sarem e não gostem;"
Ora, o que teria de bom a dizer Olavo de Carvalho se fizesse só cócegas ao nosso ego? Não seria ensino, seria demagogia. Para dar outro exemplo, que relevância teria Sócrates se não fosse o sujeito insistente que era? A experiência nos mostra que só a irrelevância não incomoda.
Sobre Sócrates, Cícero disse que ele "foi o primeiro a tirar a filosofia de um pedestal, e a estabelecê-la nas cidades, e a introduzi-la nas casas das pessoas, e a forçá-la a investigar a vida comum, a ética, o bem e o mal" [1]. Assim, podemos dizer que essa coletânea de textos do filósofo brasileiro é mais um passo, dentre vários na caminhada do autor, rumo ao cumprimento pleno do projeto socrático - isto é, a filosofia -, pois ele também a tira do pedestal daintelligentsia (alguns diriam burritsia) brasileira e a coloca de modo palpável aos que pretendem algo além de uma posição social ou burocrática.
Alguns dos textos selecionados colocam incomodamente o leitor contra a parede para que ele saia da letargia. Eis aí um dos méritos do livro: incomodar já desde o título. E por fim, como bem lembrou o Padre Paulo Ricardo, Cristo disse que a verdade salva, mas Ele nunca disse que ela é agradável. A verdade não está aí para agradar ou desagradar, está aí para curar.
Sarem e não gostem.
[1] Paul Johnson. Sócrates: Um homem do nosso tempo. p.65
Publicado no revista Vila Nova.
Leonildo Trombela Júnior é jornalista e tradutor 
Fonte: "Mídia Sem Máscara"

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