Por Tuna Espinheira
Era uma vez o sertão que virou museu a céu aberto, ao
sol, a chuva, ao tempo... foi, precisamente desta maneira, que o artista,
Juraci Dórea, arrumou seu matulão e, fazendo às vezes do pregador bíblico, João
Batista, adentrou as veredas do sertão baiano, descortinando suas icônicas
esculturas, de madeiras vestidas de couro, com uma linguagem contemporânea,
desconhecida naqueles ermos, bradando no deserto. Logo/logo, viriam as
exposições itinerantes, ciganas, de quadros de pintura, com motivos populares.
Um festão em cada lugar por onde passava. E assim foi que, estas semeaduras de
arte em léguas tiranas, no agreste, através de documentações fotográficas, chegaram
à mídia e o fazer do artista ganhou botas de sete léguas e asas de albatroz e,
invertendo a normalidade do processo, saiu do assombroso museu a Deus dará,
para os espaços emblemáticos das Bienais, São Paulo, Veneza etc. E o Sertão
virou mar...
Nosso filme/documentário, assim foi em busca de contar
esta estória cuja gênese é o distante 1982, tempo abissal, sobretudo para
encontrar vestígios das esculturas pioneiras, urdidas como arte efêmera, de
vida curta. Juraci embarcou nesta canoa, foi um dos mais indômitos membros da
equipe, plantamos, de Feira de Santana, passando por Monte Santo e Canudos,
quatro novas e enormes esculturas, conversamos com muita gente sertaneja... À
mercê do calor da hora, fomos colhendo material... O combustível necessário
para que La Nave Va...
No próximo dia 15 de outubro, na luminosa tela grande do
escurinho do cinema (Orient Cineplace), em Feira de Santana, estaremos realizando a pré-estreia
deste filme, de 52 sertanejos minutos, às 20 horas. Esperando que, daí em
diante ele, o filme, possa caminhar com as suas próprias pernas... Com as
graças da corte celeste...
* Tuna Espinheira, cineasta, é o diretor de "O Imaginário de Juraci Dórea no Sertão; Veredas"
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