Por Alfredo Guarischi
Cobras
não fazem política, porém lembram algumas de suas práticas. São répteis
exclusivamente carnívoros que engolem suas vítimas inteiras. A ciência
reconhece mais de 20 famílias, 465 gêneros e mais de 2.900 espécies. No Brasil,
são quase 400 espécies diferentes, sendo mais de 60 peçonhentas.
A jararaca (em biologia, família
Viperidae, gênero Bothrops) é robusta, porém menor que as outras do mesmo
gênero. De enorme capacidade adaptativa, é a espécie mais comum na Região
Sudeste brasileira. Troca de pele à medida que cresce, ao longo de toda sua
vida. Parece político?
A maioria das espécies de
jararacas vive em ambiente preferencialmente úmido, como a beira de rios, onde
também se encontram ratos e sapos, seus pratos prediletos. Dorme durante o dia
debaixo de folhagens, mas gosta de tomar sol. Com hábitos predominantemente
noturnos ou crepusculares, tem comportamento agressivo ao ver se aproximar uma
eventual vítima; suas presas inoculadoras de veneno se projetam no momento do
bote.
Perigosíssima, é a responsável
por mais de 90% das vítimas de cobras peçonhentas no Brasil. A maioria de suas
picadas atinge os membros, e seu veneno produz dor no local, equimose, edema,
hemorragia, necrose, podendo levar a paralisia dos rins. As vítimas devem ser
internadas para receber o soro específico. Mesmo que atendido a tempo e num
local que tenha experiência com esse tipo de problema, um por cento das vítimas
morre. Hoje morre mais gente de dengue e tuberculose!
No Manual de Diagnóstico e
Tratamento de Acidentes por Animais Peçonhentos, do Ministério de Saúde, que
não é atualizado desde 2001, aprendemos que são notificados 20 mil acidentes
ofídicos por ano, em geral trabalhadores no campo. Somente em 2014, surgiu
outra publicação oficial, desta vez pela Fundação Ezequiel Dias, vinculada à
Secretaria de Saúde do governo de Minas Gerais. Esse excelente manual, muito
bem ilustrado, ensina até como se prevenir de acidentes com animais
peçonhentos.
Sendo ora presas de gaviões,
corujas e falcões e ora predadoras de diversos animais, inclusive ratazanas, as
serpentes contribuem para o equilíbrio ecológico, não sendo adequado
eliminá-las sistematicamente. Cabe ao homem se prevenir dos seus ataques, mas,
se necessário, eliminá-las, para se defender. O ideal é capturá-las com técnica
adequada, para que sejam utilizadas por cientistas na produção de soro contra
seu veneno, para salvar vidas.
Recentemente, ao ouvir um
político experiente se comparar a uma jararaca, fiquei preocupado com o
simbolismo da metáfora.
No Brasil, o ecossistema e o
sistema político estão em constante e progressivo desequilíbrio. As jararacas,
escorpiões e aranhas têm seu inequívoco papel na ecologia. O que se espera é
que os políticos tenham equilíbrio para não envenenar o país. Caso isso não
aconteça, desculpem a metáfora, a cobra vai fumar, obedecendo a Constituição.
Publicado
na coluna de
Ricardo Noblat
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