Por Reinaldo Azevedo
Os petistas estão numa euforia espantosa. Nesta quinta-feira, cantam
a vitória, dão o resultado das urnas como líquido e certo, já contam, como se
diz em Dois Córregos, a minha terra, com o ovo na barriga da galinha - ou na
entranha da serpente. Nas redes sociais, as agressões atingem altitudes
inéditas. A violência retórica toma o lugar do pensamento; a desqualificação do
outro vira o principal argumento.
Numa disputa tão acirrada, a
despeito do que digam os institutos de pesquisa, é cedo para comemorar. O
primeiro turno nos ensinou, já lembrei aqui, que uma eleição só acaba quando
termina, com diria Chacrinha.
O que eu lamento - e isto nada
tem a ver com as minhas escolhas pessoais - é que há, sim, uma grande chance de
essa eleição ser decidida pelo discurso terrorista, pelo medo, pela mentira,
pela maledicência, pela má-fé.
Todos os votos são legítimos.
Não existe uma consciência ideal que faça escolhas ideais. Mas é preciso
repudiar a mentira, venha de onde vier; repudiar a desinformação, pouco importa
a sua origem.
O Bolsa Família vai continuar;
não depende da vontade do futuro presidente da República. A política de
valorização do salário mínimo será mantida, não importa o nome do mandatário
nos próximos quatro anos. É mentira que o Governo de São Paulo tenha omitido
informações sobre a crise hídrica ou que mantenha um racionamento informal.
Pior: busca-se decidir uma
eleição desqualificando pessoalmente um adversário. Ignora-se de modo
deliberado o que pensa para dar relevo à fofoca, à baixaria, às acusações mais
sórdidas.
Governar, acreditem, pode ser
mais difícil do que vencer a eleição. Qualquer que seja o presidente da
República, começará o mandato em 1º de janeiro sabendo que praticamente a
metade dos que compareceram às urnas escolheu outro nome. Mais: dadas as
abstenções, brancos e nulos, o próximo titular da Presidência lá terá chegado
com o voto da minoria, não da maioria. Assumirá legitimamente o posto, mas isso
não muda o fato de que a maioria fez escolhas diversas.
A violência retórica que tomou
conta da campanha, com sua indústria de mentiras, desqualificações e
difamações, tornará muito difícil o trabalho do mandatário. Infelizmente, há
forças políticas no Brasil - e é claro que me refiro especialmente ao PT - que
ainda não aprenderam que é a existência de uma oposição ativa que justifica e
legitima um governo.
Não tem jeito: os petistas
acreditam que só um resultado é legítimo nas urnas: o que lhe dá a vitória. Os
companheiros aceitam o pressuposto democrático, desde que vençam. Essa
concepção de política já chegou ao colapso. Caso se sagre vitoriosa ainda desta
vez, será por muito pouco. E será em razão do terror. Caso o PT realmente
vença, terá quatro anos turbulentos pela frente. Se é que vai conseguir, nessa
hipótese, chegar ao fim do mandato.
Fonte: "Blog Reinaldo Azevedo"
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