Por
Ricardo Setti
Democratas,
como eu, aceitam sem hesitar o resultado das urnas.
Dilma
Vana Rousseff, 66 anos, está reeleita presidente da República Federativa do
Brasil, depois de obter 51,64% dos votos do eleitorado contra 48,36% atribuídos
ao candidato da oposição, o senador Aécio Neves (PSDB).
Dilma
permanece ao leme do Palácio do Planalto, porém, com um mandato manchado por
uma campanha indigna de uma chefe de Estado, baseada no terrorismo eleitoral,
de um lado, e, de outro, numa espantosa sequência de ataques sórdidos ao
adversário num grau que jamais ocorreu desde a volta das eleições diretas para
a Presidência, em 1989.
O terrorismo eleitoral
A
presidente colocou em dúvida que Aécio mantivesse programas sociais que
beneficiam dezenas de milhões de brasileiros, como o Bolsa Família ou o Minha
Casa Minha Vida, contra as sucessivas e formais garantias do adversário de que
continuariam e seriam aprimorados. Se Dilma apenas colocava em dúvida,
militantes do PT e partidários espalhavam a mentira como sendo por todo o país,
especialmente no Nordeste, lançando mão de todos os meios possíveis - desde
cartazes e carros de som até as redes sociais.
Algo
semelhante ocorreu com a suposta intenção de Aécio de sufocar os bancos
públicos, como também se distorceram as intenções do candidato quando a
presidente alegava que prováveis "medidas impopulares" pretendidas por Aécio na
economia seriam - como se fossem sinônimos - "medidas contra o povo". Demagogia
baixa e barata, já que apenas governantes que entram para a história ostentam a
coragem de adotar medidas impopulares do ponto de vista eleitoral, mas
necessárias para corrigir rumos da sociedade ou da economia, pensando não na eleição
seguinte, mas nas gerações futuras.
Além
do terrorismo eleitoral, também foi coisa feia a "desconstrução" dos dois
governos de Aécio em seu Estado, Minas Gerais (2003-2010), com acusações
inteiramente falsas sobre supostos "desvios de recursos" da saúde, entre outras
baixarias.
A senha para a campanha suja, com Lula à frente
O
pior, no entanto, acabaram sendo as insinuações feitas por Dilma, inclusive em
debates presidenciais, sobre a vida pessoal do adversário - a senha para
campanha suja, capitaneada do alto de palanques por um ex-presidento
Lula que parecia possesso, segundo a qual o candidato tucano tem o hábito de
ser violento com mulheres, de beber demais (este ponto Lula, pisando em terreno
perigoso para ele, se absteve de tocar) e tomar drogas.
Embora
derrotado, Aécio sai da campanha imensamente maior do que entrou.
Aquele
que a certa altura da caminhada se viu escanteado para um terceiro posto nas
intenções de votos pelos institutos de pesquisa quando a morte trágica de
Eduardo Campos (PSB) fez entrar na campanha a candidata Marina Silva, começou a
ser abandonado por companheiros e viu temporariamente minguar contribuições
financeiras, deu uma inédita, extraordinária volta por cima.
O mais forte líder de oposição do país desde a redemocratização, em 1985
Obteve
a espetacular votação de pouco mais de 51 milhões de votos dos brasileiros - em
números absolutos, quase a votação recebida por Lula quando se elegeu em 2002 -
e, entre outras proezas, foi o candidato mais votado em qualquer eleição em
todos os tempos no maior Estado brasileiro, São Paulo - recebeu 15,2 milhões de
votos, 3 milhões mais do que o governador tucano Geraldo Alckmin alcançou para
vencer a reeleição já no primeiro turno e quase dois terços dos paulistas que
compareceram às urnas.
Sai
da eleição como o mais forte líder de oposição do país desde a
redemocratização, em 1985 - como nada ocorre por acaso, um retorno à democracia
no qual seu avô, o presidente Tancredo Neves, cumpriu papel fundamental.
Um
líder com um cartel fabuloso de votos, uma postura de firmeza diante do
lulopetismo e um programa de governo moderno e coerente. Com apenas 54 anos de
idade, é, desde já, O nome da oposição para 2018.
Fonte: http://veja.abril.com.br
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