Por Reinaldo Azevedo
O ministro Gilberto Carvalho, da Secretaria-Geral da Presidência,
continua dedicado a fazer o terceiro turno da eleição, embora o seu partido
tenha vencido o segundo. Sabem qual é o problema? A ele, não basta vencer. Ele
precisa destruir os adversários e quer a unanimidade. Enquanto a presidente
Dilma fala em dialogar, ele continua interessado na guerra. Segundo este
gigante do pensamento, “sem dúvida nenhuma, essa vitória de um projeto acabou
significando a derrota daqueles que usam a mídia como panfleto, como semeadores
do ódio e da divisão do país, o que felizmente não aconteceu”.
Para começo de conversa, não há um "projeto", mas um poder
consolidado.
Há, sim, gente que usa "a mídia como panfleto", dedicada "a semear
o ódio e a divisão do país". São os blogs sujos financiados pelas estatais e os
sites e publicações do esgoto, que servem ao governismo. Carvalho sabe quais
são. É claro, no entanto, e ninguém é inocente, que ele estava se referindo à
edição de VEJA de sexta passada - na terça desta semana, já era a maior venda
em banca da revista em 12 anos.
A revista informou que, em seu depoimento, Alberto Youssef afirmou
à Polícia Federal e ao Ministério Público que Dilma e Lula sabiam do esquema de
roubalheira montado na Petrobras. No sábado, Folha e Estadão trouxeram a mesma
informação. Curiosamente, só a VEJA, como diria o poeta, excitou a fúria dos
algozes. Curiosamente, Carvalho concedeu uma entrevista ao UOL, do mesmo grupo
que edita a Folha, atacando a VEJA.
Carvalho, só um homem bom, está muito preocupado com a
credibilidade do que chama "mídia" e diz que a "liberdade de imprensa" é
intocável. É bem verdade que se trata de um governo que distribui anúncios
àqueles que considera amigos e os sonega quando os veículos de comunicação não
corta as cabeças que eles pedem. Mas que não se confunda isso com
autoritarismo. Disse esse grande pensador:
"Eu penso que em relação à mídia, não temos que tomar nenhuma
atitude que mude de repente o cenário da mídia ou que fira a liberdade de
imprensa. Ela é sagrada e tem que ser mantida. Eu prefiro devolver para a mídia
a reflexão. A própria mídia tem que pensar no que aconteceu no Brasil, refletir
sobre os excessos que aconteceram. Ou ela se autorregulamenta e entende o que é
a participação democrática na mídia, ou cada vez mais a sua credibilidade vai
pelo ralo".
Como Gilberto Carvalho é bom! Tão bom quanto um santo inquisidor
que manda as pessoas para a fogueira para que elas reflitam sobre os seus
pecados, enquanto ele, muito pio, encomenda a sua alma. Carvalho, o stalinista
cristão, cobra uma autocrítica disso que ele chama "mídia", como se ela fosse
um bloco, como se ela fosse "monolítica" - para empregar a palavra que Dilma
deve ter descoberto por esses dias, posto que ela a empregou nas entrevistas da
Record, da Globo, da Band e do SBT.
Doce Gilberto Carvalho! Ele está preocupado com a nossa "credibilidade" e pretende que os veículos de comunicação se abram à "participação democrática". O que será que isso quer dizer? Criar "conselhos de
redação", talvez, comandados pelo "povo" - o "povo do PT", é claro?! Saibam que
aquele famigerado Plano Nacional de Direitos Humanos trazia algo muito parecido
com isso.
Com a imprensa que está aí, que Carvalho diz ser contra o PT, o
partido obteve o quarto mandato consecutivo e já planeja o quinto. Com a
imprensa que ele tem em mente, o PT nunca mais sairia do poder, e as opiniões
divergentes seriam banidas. Reitero: ele está falando essa bobajada toda
vencendo a eleição. Imaginem se tivesse perdido.
Não pensem que sua investida é irrelevante. Não é, não! Muita
gente, a partir desta quinta, vai se empenhar em provar para Gilberto Carvalho
que ele está errado. "Você também, Reinaldo?" Eu não! Estou me lixando! Ele não
é meu juiz. Sendo quem é, tê-lo como um crítico severo do meu trabalho é, para
mim, uma honra adicional. Eu jamais vou me esquecer que este senhor tentou
jogar no colo do governo de São Paulo os protestos violentos de rua - até que
eles passassem a varrer o país e caíssem no colo de Dilma - e até os
rolezinhos, onde, segundo o valente, havia um confronto de classes e um
confronto racial. Nunca vi tamanha irresponsabilidade política.
Gilberto Carvalho ser ministro de estado é um escárnio. Ele não
tem serenidade para isso, embora fale com a mansidão dos inquisidores.
Fonte: "Blog
Reinaldo Azevedo"
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