Por Reinaldo Azevedo
O governo está em plena, como dizer?, "ofensiva de mídia". Nesta
segunda, a "represidenta" concedeu duas entrevistas: uma ao "Jornal da Record",
da TV Record, e a outra, quase em seguida, ao "Jornal Nacional", da TV Globo.
De substancial - ou quase isso - disse a mesma coisa em ambos, repetindo não
apenas fragmentos de raciocínio, mas também expressões: "o recado das eleições
é a mudança"; vai investigar a Petrobras "doa a quem doer", vai fazer um
governo inclusivo, com especial atenção "às mulheres, aos negros, aos jovens";
será a presidente de todos os brasileiros… E vai por aí.
No JN, ela se mostrou calma e pacífica, mas se irritou, foi
visível, com a repórter Adriana Araújo, da Record, que conduziu a entrevista
com extrema competência e correção. Não tem jeito: a represidenta gosta é que
lhe abram o microfone para falar. Qualquer tentativa de diálogo verdadeiro,
ainda que absolutamente pacífico, é logo rechaçada ou com grosserias
intimidadoras ou com raciocínios tortos. Todos sabem que age desse modo com
subordinados - os tais dos seus "homens meigos". A entrevista com Adriana, muito
mais reveladora, teve o condão de deixar claro, por culpa exclusiva de Dilma,
que a disposição para o diálogo da governanta é conversa para boi dormir. Já
chego lá. Antes, algumas considerações.
Os mercados derreteram ontem, e o dólar subiu às alturas. Não foi
surpresa para ninguém. Ou foi: se isso acontecia com o boato de que Dilma
poderia ganhar a eleição, veio o fato. É possível que, em movimentos de curto
prazo, haja uma subida ou outra? É. Mas o que importa é a trajetória, que é
descendente. Guido Mantega, o único ministro demitido no cargo de que se tem
notícia, disse não ver nada demais e afirmou que as Bolsas caíram no mundo
inteiro, bobagem que Dilma repetiu na entrevista da Record. Falso, é claro!
Houve quedas mínimas mundo afora, nada comparável à despencada havida no
Brasil. Criativo na análise, não apenas na contabilidade, Mantega afirmou que a
reeleição de Dilma significa aprovação da política econômica do governo. Fazer
o quê? O país não está nessa pindaíba por acaso. Foi preciso, ao longo dos
anos, uma incompetência verdadeiramente metódica, determinada, convicta.
Como os mercados derretem, então é preciso falar. Mas falar o quê?
Dilma, claro, não adiantou que medidas pretende tomar na área econômica. Até
porque, gente, quando ela tiver alguma ideia, talvez revele. De resto, nesse
caso, "o que fazer" está intimamente atrelado a "quem vai fazer". E já está
claro que não será Guido Mantega, aquele que afirmou que a política econômica
foi aprovada nas urnas.
Adriana cumpriu a sua obrigação e perguntou qual será o perfil do
próximo ministro da Fazenda, citando, por exemplo, Luiz Trabuco, presidente do
Bradesco, lembrado frequentemente como um possível nome. Dilma ficou irritada e
tentou ridicularizar a repórter: "Você está lançando um nome, Adriana?" Falando
certamente com os, como direi?, serviçais que estavam fora da câmera, ironizou: "Ela está lançando nome…" Ouve-se um pequeno alarido de solidariedade com a
chefia, como a dizer: "Oh, que absurdo!" Sabem como é aquela truculência
burocrática da servidão… A repórter reagiu muito bem e deixou claro que seu
papel era perguntar. Perfeito.
Mas furiosa mesmo Dilma ficou quando Adriana tocou nos quase oito
milhões de votos a mais que Aécio Neves teve em São Paulo. Por que teria
acontecido no estado com a maior economia do país, com a maior população?…
Dilma disse, então, coisas realmente estupefacientes. Indagou por que a
repórter não lhe perguntava sobre os 11 milhões de votos a mais que teve no
Nordeste, ao que respondeu a jornalista: "Eu lhe pergunto então…"
A Dilma que até ali vinha falando em diálogo, em inclusão, em
superar as diferenças, descambou para o eleitoralismo mais tosco e afirmou que
não podia compreender que São Paulo vivesse a maior crise de água do Brasil e
ninguém tocasse no assunto, sugerindo, o que é uma mentira descarada, que a
imprensa estaria a proteger o Governo do Estado. E emendou para espanto dos
fatos e da língua portuguesa: "Fosse com qualquer governo da situação, nós
seríamos criticados diuturna e noturnamente". Sugiro a vocês que façam uma
pesquisa nos arquivos na imprensa paulista sobre o assunto. A insistência
beirou o terrorismo.
A represidenta que diz querer a união, que afirma ser preciso
superar as divergências do período eleitoral, que anuncia ser a palavra "diálogo" a mais importante do seu segundo mandato, decidiu pautar a imprensa contra um
governo de oposição, atribuindo a sua derrota no Estado, vejam vocês!, às
deficiências do jornalismo - esse mesmo, diga-se, que a protege das
barbeiragens cometidas, aí sim, no setor elétrico.
Vale dizer: Dilma acha que fez tudo certo; que os que não votaram
nela só estavam mal informados e que o papel da boa imprensa é atacar seus
adversários. Mais: para a represidenta, ela venceu no Nordeste em razão dos
méritos do seu governo, e a oposição deu uma lavada em São Paulo em razão dos
deméritos do que os petistas chamam "mídia". Ou por outra: a sua reeleição é
prova de sabedoria da população; já as vitórias estrondosas de Geraldo
Alckmin, José Serra e Aécio Neves em São Paulo provam a ignorância do povo
paulista.
Digamos, o que é escandalosamente falso, que a imprensa realmente
tivesse omitido informações sobre a crise hídrica. Será que os paulistas não
teriam percebido ao abrir a torneira? O PT perdeu, em São Paulo, três turnos da
eleição insistindo nessa tecla: o primeiro e único para o governo do Estado e
os dois outros para a Presidência. Dilma está querendo disputar o quarto turno.
Eis a presidente que afirma querer o diálogo. Fica evidente: a
exemplo de seu partido, ela também não esquece nada nem aprende nada.
Fonte: "Blog Reinaldo Azevedo"
Fonte: "Blog Reinaldo Azevedo"
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