Por Reinaldo Azevedo
Prestem atenção a esta fala do ministro-chefe da
Casa Civil, Gilberto Carvalho:
"Atravessamos um momento delicadíssimo da nossa campanha. Plantou-se um ódio enorme em relação a nós. Eu não sei o que foi aquilo. Em São Paulo, estava muito difícil andar com o broche ou a bandeira da Dilma. Em Brasília, a cidade estava amarela, sem vermelho. O ódio tem sido construído com a gente sendo chamado de ladrão. Com frequência, a gente vem sendo chamado com desprezo. Estamos sendo chamados de um grupo de petralhas que assaltaram o governo".
"Atravessamos um momento delicadíssimo da nossa campanha. Plantou-se um ódio enorme em relação a nós. Eu não sei o que foi aquilo. Em São Paulo, estava muito difícil andar com o broche ou a bandeira da Dilma. Em Brasília, a cidade estava amarela, sem vermelho. O ódio tem sido construído com a gente sendo chamado de ladrão. Com frequência, a gente vem sendo chamado com desprezo. Estamos sendo chamados de um grupo de petralhas que assaltaram o governo".
Opa! De "petralhas", eu entendo, porque fui eu que
inventei a palavra, né?, fundindo "petista" com "Irmãos Metralhas", já lá se
vão, atenção!, ONZE ANOS. Ouça bem, ministro Carvalho! Eu criei essa palavra há
11 anos, em 2003, no primeiro da gestão do seu partido à frente do governo
federal. Ela já foi parar no Grande Dicionário Sacconi da Língua Portuguesa,
como vocês podem ver abaixo.
Desde o primeiro dia, expliquei o sentido do
vocábulo e deixei claro, o que está firmado em livro - "O País dos Petralhas I" (Editora Record) -, que nem todo petista é "petralha", só aqueles que
justificam o assalto aos cofres públicos em nome de uma causa. Apanhei que foi
uma beleza! Ainda hoje, uma vasta rede de blogs, sites, revistas e publicações
as mais xexelentas, todas fartamente financiadas com dinheiro público, tem,
entre suas missões, tentar me desqualificar.
Quando, em passado remoto, apenas 3% dos
brasileiros consideravam o governo Lula ruim ou péssimo, eles sugeriam
abertamente que eu deixasse o país, que eu me mudasse pra Miami, que eu fosse
para a ponta do pavio. Quando a VEJA me convidou para hospedar este blog, que
já existia, em 2006, vieram os vaticínios: "Vai durar pouco! Quem vai querer
ler esse cara?" Pois é. O blog recebe, em média, 350 mil visitas por dia, com
picos de mais de 500 mil.
Criei o termo em 2003 porque pessoas vinham me
contar coisas horripilantes sobre o que se passava nos bastidores do governo.
Mas quem queria saber? "Direitista!", gritavam. "Tucano!", vociferavam. "Vendido!", babavam. Fiquei na minha. No máximo, indagava se o lado vitorioso
não costuma pagar sempre mais, se é que entendem a ironia. Aí veio o escândalo
do mensalão. Ai veio o escândalo dos aloprados. Aí veio a primeira leva de
acusações sobre desmandos na Petrobras. Aí vieram as lambanças no Dnit e
assemelhados. Aí veio a compra da Refinaria de Pasadena. Aí vieram Paulo
Roberto Costa, Alberto Youssef e cia.
A que "ódio" se refere Gilberto Carvalho? Eu criei
a palavra "petralha", mas eu não criei "os petralhas". Tampouco os criou a
população de São Paulo. A fala de Carvalho sugere que há uma repulsa artificial
ao partido, não uma reação objetiva à forma como ele governa - que, ainda
assim, conta com a aprovação de milhões, a estarem certas as pesquisas de
opinião.
Infelizmente, o ministro se dedica, mais uma vez, à
demonização de pessoas. Em junho, Dilma ainda vencia a eleição no primeiro
turno, e Alberto Cantalice, vice-presidente do PT, resolveu criar uma lista negra de nove jornalistas, articulistas e comunicadores,
encabeçada por mim - os outros são Diogo Mainardi, Augusto Nunes, Arnaldo
Jabor, Demétrio Magnoli, Guilherme Fiuza, Lobão, Danilo Gentilli e Marcelo
Madureira -, que fariam mal ao Brasil. Não se ouviu um pio de protesto por
aqui. Quem reagiu foi a organização internacional de defesa da liberdade de
imprensa http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/reporteres-sem-fronteiras-a-mais-importante-entidade-internacional-de-protecao-ao-trabalho-de-jornalistas-critica-a-lista-do-pt-de-inimigos-da-patria/.
Janio de Freitas, articulista da Folha, como sou, não criticou nem a lista nem o PT, mas a… Repórteres Sem Fronteiras.
O PT tenta posar de vítima de crime de intolerância - como se o partido fosse o exemplo acabado da… tolerância. É uma piada! Por
que seria vítima? Já indaguei aqui: estamos diante de alguma vanguarda que
desafia o statu quo? Os petistas constituem hoje os porta-vozes da luta de
oprimidos que não têm outro canal para se expressar? A legenda representa algum
valor de vanguarda, que uma sociedade atrasada e reacionária se negaria a
abrigar? Ora, ministro Gilberto Carvalho…
Dirijo, então, ao chefão petista as perguntas que
fiz em minha coluna. Responda, ministro, por favor:
"É preciso assaltar os cofres públicos para
conceder Bolsa Família? É preciso usar de forma escancaradamente ilegal os
Correios para implementar o ProUni? É preciso transformar a gestão pública na
casa-da-mãe-Dilma (como Lula, o pai, já a chamou) para financiar o Minha Casa,
Minha Vida? Pouco importa o juízo que se faça sobre esses programas, a
resposta, obviamente, é "não". A matemática elementar nos diz que, com menos
roubalheira, sobraria mais dinheiro para os pobres."
A fala de Carvalho faz parte de uma ação coordenada
do comando político do PT. O partido quer despertar o poder sempre forte - e
violento - das falsas vitimas. Ódio, ministro Gilberto Carvalho, foi aquele
destilado contra Marina Silva no horário eleitoral do seu partido, acusando-a,
e o senhor sabe se tratar de uma mentira, de tentar retirar R$ 1,3 trilhão da
educação. Ódio, ministro Gilberto Carvalho, foi aquele destilado no programa de
Marina Silva, acusando-a de querer tirar a comida do prato dos brasileiros, e o
senhor sabe se tratar de uma mentira, porque ela defendia a independência do
Banco Central. E quem escreve aqui não é um admirador da líder da Rede, como
sabem todos. Ódio é a pregação terrorista que se vê hoje na TV, agora contra
Aécio Neves e FHC, fraudando números, mentindo de forma descarada, massacrando
a história, distorcendo os fatos.
O PT inventou a corrupção?
Não! Eu nunca escrevi que o PT inventou a corrupção, até porque seria falso. É claro que não! Já havia antes. Está na Bíblia. Existia antes dela. A questão relevante, desde sempre, não está em ser ou não corrupto - em sendo, que o sujeito seja expelido da vida pública. A criação detestável e exclusiva do PT - e foi nesse contexto que surgiu a palavra "petralha" - é a suposta "corrupção do bem", a suposta "corrupção necessária", a suposta "corrupção libertadora". Esse relativismo, diga-se, está absolutamente adequado ao amoralismo das esquerdas históricas. Stálin, por exemplo, era, a seu modo, incorruptível. Ele só não se importava em matar inocentes - inclusive ex-camaradas de jornada - para consolidar o seu poder.
Não! Eu nunca escrevi que o PT inventou a corrupção, até porque seria falso. É claro que não! Já havia antes. Está na Bíblia. Existia antes dela. A questão relevante, desde sempre, não está em ser ou não corrupto - em sendo, que o sujeito seja expelido da vida pública. A criação detestável e exclusiva do PT - e foi nesse contexto que surgiu a palavra "petralha" - é a suposta "corrupção do bem", a suposta "corrupção necessária", a suposta "corrupção libertadora". Esse relativismo, diga-se, está absolutamente adequado ao amoralismo das esquerdas históricas. Stálin, por exemplo, era, a seu modo, incorruptível. Ele só não se importava em matar inocentes - inclusive ex-camaradas de jornada - para consolidar o seu poder.
Se parte considerável da população alimenta hoje um
sentimento de repulsa em relação ao PT, isso não se deve a suas qualidades. Não
conheço ninguém, e acho que ninguém conhece, que deixe de votar no partido por
causa dos ditos "programas sociais" - que eu, no meu rigor, chamo de medidas
compensatórias; se eu fosse de esquerda, diria até que são
contrarrevolucionárias, como devem achar o PSOL, o PCO e o PSTU. Segundo a
lógica perturbada das esquerdas, eles têm razão, não é mesmo?
Se o PT expulsasse da legenda os condenados por
corrupção ativa, entre outros crimes, em vez de chamá-los de "heróis do povo
brasileiro", talvez a reação da população fosse outra.
E ainda lhe dou um conselho, senhor Carvalho: não
sei se sua candidata ganha ou perde a eleição. Como o senhor sabe, torço para
que ela perca. Mas, caso vença - certamente seria por margem bem estreita -,
pense que será preciso governar depois. E chegar ao fim do mandato. Vocês
perderam a mão e a leitura da realidade.
Ah, sim: Carvalho estava em Pernambuco, num
encontro com ditos "movimentos sociais", que divulgaram em seguida um manifesto
em favor de Dilma. Muitos dos signatários são grupamentos fartamente financiados
com… verbas federais. Carvalho ainda não percebeu que é crescente o número de
pessoas que já não suportam esse procedimento. Justo ele, o encarregado de "falar com a sociedade". É que Carvalho integra aquele grupo de homens que não
entende que possa existir uma "sociedade" fora dos interesses do petismo.
E há!
As pessoas estão se opondo ao PT, senhor ministro,
porque, de fato, não aguentam mais os "petralhas". Sim, eu criei o termo, mas
vocês criaram a espécie.
Espalhem este artigo. Vamos fazer o debate.
Fonte: "Blog Reinaldo Azevedo"
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