O pífio desempenho da
presidente Dilma Rousseff em São Paulo e a acachapante derrota petista no maior
colégio eleitoral do país fizeram o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva
cobrar a correção de rumo no partido e puseram o PT no divã, procurando
culpados pela sangria dos votos. Para Lula, o PT virou um partido "de
gabinete" e "burocratizado", que precisa sair da defensiva se
quiser vencer a eleição.
"O lugar do PT não é
no gabinete. É nas ruas", disse o ex-presidente na segunda-feira, em
conversa com dirigentes do partido. Diante de correligionários abalados com o
fiasco de Alexandre Padilha, candidato do PT ao governo de São Paulo, Lula foi
ainda mais duro. "Não dá para a gente deixar o antipetismo dominar a
eleição e entregar tudo de mão beijada para os tucanos", emendou ele,
segundo relato da conversa obtido pelo jornal 'O Estado de S. Paulo'.
Movimentos sociais
- Lula afirmou
que, se Dilma for reeleita, vai querer mais participação no segundo governo
dela, porque precisa fazer a "ponte" com a política e com movimentos
sociais, principalmente em São Paulo. Em São Paulo, berço do PT e reduto
político do PSDB, Dilma foi "atropelada" por Aécio Neves (PSDB), que
ficou com 44,2% dos votos válidos enquanto ela obteve 25,8%. Padilha, por sua
vez, teve o pior desempenho de um candidato do partido ao Palácio dos
Bandeirantes desde 1994. Para completar, o senador Eduardo Suplicy (SP) sofreu
um revés e, das 18 cadeiras perdidas pelo PT na Câmara dos
Deputados, 8 são de São Paulo.
Dilma vai mirar São Paulo,
nesse segundo turno, na tentativa de ampliar sua votação. Na prática, a cúpula
do partido ainda se debruça sobre o fracasso, na tentativa de encontrar motivos
para a rejeição no Estado. Para o prefeito de São Bernardo do Campo, Luiz
Marinho, as prisões de petistas condenados no processo do mensalão, como José
Dirceu, José Genoino, Delúbio Soares e João Paulo Cunha, atrapalharam tanto
Dilma como Padilha.
Coordenador da campanha de
Dilma em São Paulo, Marinho disse ser "inegável" o impacto do
escândalo na disputa. Uma ala do partido também tentou culpar a má avaliação do
prefeito Fernando Haddad pelo fiasco em São Paulo, mas o ex-presidente não compartilha
desse diagnóstico, sob a alegação de que o problema não está apenas em um
fator. Em reunião realizada na segunda entre Dilma e sua equipe, a avaliação
foi de que "todos os erros possíveis" da campanha foram concentrados
em São Paulo. "Tivemos muita dificuldade com a militância, mas vamos
trabalhar forte para reverter esse quadro lá", argumentou o ministro-chefe
da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho.
'Símbolos' perdidos
- Dilma perdeu
em cidades simbólicas para o PT, governadas pelo partido, como São Bernardo,
Santo André, Osasco e Guarulhos e em bairros da periferia da capital
historicamente leais ao PT. Em 2010, a presidente venceu em 26 zonas eleitorais
de São Paulo; em 2014 Dilma ficou na frente dos adversários em apenas 15. Da
reunião com Lula, participou também o presidente do diretório estadual do PT,
Emídio de Souza. Entre as duras críticas à condução da campanha de Padilha, o
ex-presidente exigiu mudanças na estratégia para São Paulo no segundo turno.
Leia
no blog de Reinaldo Azevedo:
Acho impressionante que os petistas tenham tentando, no Estado, faturar com a crise da água, faturar com a crise dos transportes, faturar com a greve do metrô - ocorrências, enfim, que criam dificuldades para a vida dos paulistas - e achem estranho que a população tenha rejeitado a sua abordagem. Mais: indivíduos - e estamos falando da larga maioria - que não dependem da boa vontade do poder público para garantir o próprio sustento e que não estão oprimidos pela pobreza ou pela miséria tendem a rejeitar essa espécie de tutoria que o partido busca exercer sobre suas vidas.
Acho impressionante que os petistas tenham tentando, no Estado, faturar com a crise da água, faturar com a crise dos transportes, faturar com a greve do metrô - ocorrências, enfim, que criam dificuldades para a vida dos paulistas - e achem estranho que a população tenha rejeitado a sua abordagem. Mais: indivíduos - e estamos falando da larga maioria - que não dependem da boa vontade do poder público para garantir o próprio sustento e que não estão oprimidos pela pobreza ou pela miséria tendem a rejeitar essa espécie de tutoria que o partido busca exercer sobre suas vidas.
E, de resto, há a
experiência propriamente com o jeito petista de fazer as coisas. O partido
acreditar que o morador da cidade de São Paulo - o paulistano - caminha para
aplaudir a gestão de Fernando Haddad, o maníaco da bicicleta, chega a ser um
sinal de alienação da realidade. Não é que São Paulo seja congenitamente
antipetista, senhor Rillo. É que o petismo acaba sendo congenitamente
antipaulista porque gosta de exercer a tutela sobre os cidadãos. E o lema do
brasão da cidade de São Paulo expressa não só o espírito paulistano, mas também
o paulista: "Non ducor, duco". Não sou conduzido, conduzo.
(Com Estadão
Conteúdo)
Fonte: "Veja
On-line"
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