Por Reinaldo
Azevedo
Vejam esta cena:
Pois é… Tata Amaral vai fazer um filme sobre as
agruras do herói José Dirceu. E vai fazê-lo com o nosso dinheiro, uma vez que
tem autorização para captar mais de R$ 1,5 milhão pela Lei Rouanet. Como isso
resulta em renúncia fiscal, os "pobres de tão pretos e pretos de tão pobres"
(para citar o anticapitalista e new kid on
the black bloc Caetano Veloso…) vão pagar a hagiografia cinematográfica
da artista, a esta altura, acima de qualquer suspeita.
Ocorre que o STF está a um passo de conceder a
Dirceu e mais 11 o direito a um novo julgamento. Dado o cheiro da brilhantina,
se isso acontecer, há a possibilidade da redução da pena de quadrilha e, a
depender do tempo, da prescrição. Aí o "homem mais perseguido da República",
como o classificou esta pensadora com uma câmera na mão (e só), não vai para o
regime fechado, o que diminui em muito as virtudes do seu martírio.
É bem verdade que isso pode excitar ainda mais a
câmera na mão, né? Imaginem, ao fim de tudo, o Zé sendo carregado em triunfo,
podendo circular impune por aí. Quem sabe a cineasta inaugure a estética e a
ética do triunfo redentor do vilão!
Entrou para a história das telenovelas o fim de "Vale Tudo", de Gilberto Braga. A personagem vivida por Reginaldo Farias, um
dos vilões, foge do país num jatinho, em companhia de Leila, sua mulher, e dá
uma solene banana para o país. Ocorre que Braga via aquilo com olhos críticos.
Tata, como disse, pode ser mais criativa.
Assim, ela pode recorrer ao que se chama, em
arte, "citação". Fico aqui a pensar em José Dirceu a dar uma banana para as
leis, mas entusiasticamente aplaudido e festejado por petistas, que cantariam
em coro:
"Dirceu/ guerreiro/
herói do povo brasileiro"
"Dirceu/ guerreiro/
herói do povo brasileiro"
Na fila do gargarejo, na avant-première, haverá
alguns togados, certos de que o povo brasileiro, como diria Roberto Barroso,
quer mesmo é justiça. Nem diga!
Fonte: "Blog Reinaldo Azevedo"


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