Eurico Alves Boaventura, 1932
No domingo descansado, depois
que as luzes da cidade cigarrearam,
o cinemazinho sorriu possante lâmpada de duzentas velas à
porta
Cine-theatro Sant’Anna que me fez sonhar, outroara,
Com bandidos roubando minha coleção de selos
E com certa lourinha mordendo-me a ponta do nariz!...
Tom Mix e os bandidos vão boxear na tela
do pequeno cinema da rua Direita.
Repletos os camarotes.
E a platéia, completa ânsia febril de ávidas atenções
crianças.
A senhorinha de vermelho-claro ajeita vaidosa o cabelo.
A careca da frente, luzidia, polida,
está tentando um cascudo camarada.
O escriturário do armazém sacode o lenço no rosto sem
suor,
para sacudir o extrato francês made in São Paulo no rosto
do vizinho.
Entra, às vezes, um cheiro de rua pelos ventiladores...
Depois do espetáculo,
na noite calada e adormecida como mulher boêmia,
os meninos fortes incharão o peito infantil,
quebrarão, ao lado, o chapeuzinho de feltro,
porão as mãos em atitude de ataque
aos outros que, ao alto, levarão as mãos inermes,
imitando sisudos a perigosa mentira do filme americano.
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