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sábado, 16 de junho de 2007

A peculiar ética dos senadores

Do articulista Clóvis Rossi, na "Folha de S. Paulo", edição deste sábado, 16:
O senador Renan Calheiros pode até ser inocente. Ficou mais difícil ainda acreditar depois que a história de seu gado se revelou mais malcheirosa do que excremento bovino. Mas ainda pode ser inocente.
Quem definitivamente não merece mais crédito são seus colegas Sibá Machado, presidente do Conselho de Ética do Senado, e Epitácio Cafeteira, relator do caso.
Os dois demitiram-se do dever elementar de funcionário público que é o de cumprir o papel para o qual foram designados. Recusaram-se liminarmente a investigar um acusado. Não importa que Calheiros seja um acusado de altíssimo calibre, o segundo na linha de sucessão presidencial.
Importa que Conselho de Ética deveria servir para apurar e punir desvios de conduta de membros do Senado, não para absolvê-los sem apuração.
A grave falha funcional de Cafeteira e Machado já era evidente, mas ficou ainda mais grave pelo fato de que o jornalista Fernando Rodrigues, nesta Folha, e a equipe do “Jornal Nacional”, da Rede Globo, não precisaram de mais do que alguns dias e uma única arma (a curiosidade inerente ao ofício) para desmontar a peça principal de defesa de Calheiros.Fosse a ética uma preocupação real dos senadores, teriam muitíssimo mais poderes do que meros jornalistas para apurar se a versão de Calheiros é ou não fictícia. Como a única real preocupação dos senadores, com meia dúzia, se tanto, de exceções, é com o corporativismo mais descarado, ofereceu-se ao público já farto de trambiques mais uma cena explícita de defesa de privilégios, mais uma prova de que o mundo político é um planeta à parte, que gira em torno dos próprios interesses, e que o bem público é para eles motivo de piada. Fosse o Brasil um país minimamente sério, Machado e Cafeteira no mínimo demitir-se-iam de seus cargos. Como não é...

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