Por Reinaldo Azevedo
Vamos reescrever Caetano Veloso para deixá-lo
irritadinho. São Paulo vê e não vê quem desce ou sobe a rampa, aquela lá, do
Planalto Central do Brasil. Como não depende muito da boa vontade de estranhos,
não cede com facilidade à chantagem. Não é bolinho, não! O Estado tem 645
municípios: o governador Geraldo Alckmin venceu a disputa para o governo em,
atenção!, 644! Só Hortolândia ficou de fora. Mas por muito pouco: 35.809 votos
para Alexandre Padilha contra 32.354 para o tucano. Hortolândia é uma das 67
cidades administradas no Estado pelo PT. Alckmin ganhou em 66.
Mas não foi só isso. O presidenciável tucano Aécio
Neves venceu a petista Dilma Rousseff em 565 dos 645 municípios - um total de
88%. Isso significa que tanto o presidenciável como o governador bateram o
partido na cidade de Guarulhos, administrada pelo PT há 14 anos; na mitológica
São Bernardo de Lula, que está na segunda gestão petista, de Luiz Marinho, o
coordenador da campanha de Dilma em São Paulo, e na Osasco do presidente do PT
paulista, Emídio de Souza.
Na 'Folha de S.Paulo', leio a seguinte explicação
dada João Paulo Rillo, líder do PT na Assembleia: "Não temos conseguido fazer o
debate com o eleitor paulista sobre os avanços dos governos do PT. O
antipetismo se relevou muito forte". Mas espere aí: esse antipetismo, então,
deve ter um motivo, não é mesmo?
Acho impressionante que os petistas tenham
tentando, no Estado, faturar com a crise da água, faturar com a crise dos
transportes, faturar com a greve do metrô - ocorrências, enfim, que criam
dificuldades para a vida dos paulistas - e achem estranho que a população tenha
rejeitado a sua abordagem. Mais: indivíduos - e estamos falando da larga
maioria - que não dependem da boa vontade do poder público para garantir o
próprio sustento e que não estão oprimidos pela pobreza ou pela miséria tendem
a rejeitar essa espécie de tutoria que o partido busca exercer sobre suas
vidas.
E, de resto, há a experiência propriamente com o
jeito petista de fazer as coisas. O partido acreditar que o morador da cidade
de São Paulo - o paulistano - caminha para aplaudir a gestão de Fernando
Haddad, o maníaco da bicicleta, chega a ser um sinal de alienação da realidade.
Não é que São Paulo seja congenitamente
antipetista, senhor Rillo. É que o petismo acaba sendo congenitamente
antipaulista porque gosta de exercer a tutela sobre os cidadãos. E o lema do
brasão da cidade de São Paulo expressa não só o espírito paulistano, mas também
o paulista: "Non ducor, duco". Não sou conduzido, conduzo.
Se o PT não entender isso, na próxima eleição, não
vai perder por 644 a 1, mas por 645 a zero.
Fonte: "Blog Reinaldo Azevedo"
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