Por
Reinaldo Azevedo
As pessoas podem divergir sem se demonizar mutuamente; podem
dissentir sem que a defesa de um ponto de vista represente a eliminação do
outro; sem que a política se transforme no exercício de um suposto "bem" contra
um suposto "mal". Na contramão de quase todas as previsões e de quase todas as
expectativas; contrariando o que os institutos de pesquisa conseguiam ler da vontade
do eleitor - e me parece que lhes faltam instrumentos, no momento, para
interpretar os enigmas que a sociedade propõe -, o tucano Aécio Neves disputará
o segundo turno das eleições presidenciais com Dilma Rousseff, do PT.
Os três candidatos fizeram neste domingo um pronunciamento sobre o
resultado das eleições. Dois deles, basta ler o que disse cada um, foram
serenos: Marina Silva, do PSB, e o próprio Aécio afirmaram que a sociedade
sinalizou que quer mudanças. Dilma, que fala em nome da continuidade - e, dadas
as leis que temos, é, pois, legal e legítimo -, infelizmente, enveredou
justamente pelo caminho reprovável da satanização dos adversários. Para ela, o
voto em seus oponentes significaria que o Brasil estaria marchando para trás.
Assim, a gente entende que, para a candidata, o Brasil só avança rumo ao
progresso se o PT for governo.
Não é uma boa leitura da realidade. E não que eu esperasse ou
espere que Dilma reconheça as qualidades daqueles que a ela se opõem. Isso não
é necessário. A presidente-candidata dispõe de instrumentos, no entanto, para
tentar provar que suas propostas são melhores, sem que precise afirmar que os
outros encarnam o desastre. De resto, em seu discurso de ontem, a petista foi a
primeira a prometer que, se eleita, fará um governo novo, com ideias novas e
pessoas novas. Logo, a gente tem de entender que ela também acredita que não é
possível continuar com um governo velho, com ideias velhas e com pessoas velhas - não na idade, mas na mentalidade.
Nesta segunda, os mercados reagiram em quase êxtase ao resultado
das urnas. Às 14h05, o Ibovespa, principal índice da Bolsa, subia 5,26%, a
57.407 pontos. Das ações do Ibovespa, 63 subiam, e apenas sete caíam. No mesmo
horário, o dólar registrava desvalorização de cerca de 2% em relação ao real. O
dólar à vista, referência no mercado financeiro, perdia 2,31%, a R$ 2,416,
enquanto o dólar comercial, usado no comércio exterior, tinha baixa de 1,82%, a
R$ 2,419. Esses índices têm tradução: chama-se otimismo. Os tais "mercados" -
que nada mais representam do que os humores de uma parcela considerável da
sociedade que faz funcionar a máquina da economia - renovam suas esperanças de
que Dilma perca as eleições. E a petista sabe disso, tanto é assim que já se
manifestou a respeito e chamou essa reação de "ridícula".
Seja como for, estamos lidando com um dado da realidade. Já disse
aqui que o país não irá à bancarrota se Dilma vencer - aliás, ninguém está a
dizer isso. E também é mentira que haverá um colapso na área social se a
oposição ganhar. Ocorre que, infelizmente, o PT insiste nessa tecla, nessa
pregação que é feita para assustar o eleitor, não para convencê-lo. O que a
reação dos mercados evidencia é que a retomada do crescimento será retardada se
Dilma vencer a disputa. Ela sabe disso. Em vez de demonizar o adversário,
talvez a presidente precisasse fazer uma nova "Carta ao Povo Brasileiro", na
qual se compromete a não agredir os fundamentos da boa governança por questões
de política menor.
Se Aécio vencer a disputa, e isso também está dado pelos números
do mercado, o país não precisará de "medidas amargas", de "choque de tarifas",
de "ajuste fiscal draconiano", nada isso. Essa conversa ou é terrorismo
governista ou é tara de desocupados. E sabem por que tais medidas não serão
necessárias, entre outras razões? Porque a retomada do crescimento será
antecipada; porque os investidores internacionais e o empresariado nacional
farão com mais celeridade a sua parte. Só querem estabilidade de regras, um
governo que não maquie as contas e que não seja hostil à matemática.
Aliás, a presidente Dilma deveria recomendar à candidata Dilma que
recusasse tanto o discurso terrorista como a campanha suja. Em qualquer das
hipóteses, pouco importa quem vença a eleição, o Brasil tem amanhã, senhora
Dilma Rousseff! Países não são como empresas; não fecham. Existirão sempre. O
que muda para melhor ou para pior é qualidade de vida do povo.
Espero que a presidente Dilma diga ainda à candidata Dilma que a
reação dos mercados nesta segunda-feira deve contribuir para levá-la ao caminho
virtuoso do diálogo, não ao caminho vicioso do confronto.
Fonte: "Blog
Reinaldo Azevedo"
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