Por Thiago Cortês
Friederich Nietzsche foi o último
grande crítico do cristianismo. Depois dele, os intelectuais seculares não
tiveram escolha senão a de refazer com outras palavras os questionamentos e
críticas do filósofo alemão.
Nietzsche
falava da perspectiva de um ateu sem o otimismo infantil nos que assola. Ele
sabia que, se Deus não existe, não há salvação possível para o homem. Todas as
ideologias, utopias e filosofias são meras ilusões e funcionam como válvulas de
escape.
O que
sobrou da crítica ao cristianismo no ano de 2014? Sobraram apenas papagaios de
Richard Dawkins nas redes sociais e adolescentes fascinados com o Discovery
Channel perturbando seus parentes em almoços familiares, brandindo dados
equivocados da arqueologia.
Sinto
falta dos ateus clássicos, pessimistas, que não faziam concessões ao otimismo
sem escrúpulos ou às ilusões medíocres dos que pretendem brincar de Deus.
Infelizmente, muita gente que acredita em Deus adere a esse tipo de otimismo
inescrupuloso.
São
crentes que acreditam que somos capazes de construir o Paraíso terrestre e
mais: nos dizem que quem pensa o contrário é reacionário, fundamentalista,
direitista etc. Ora, temos aqui um seqüestro da fé para fins ideológicos. Deus
existe só para permitir que façamos do mundo o que quisermos.
Nossas "referências"
Há muitos tipos de babelianos - progressistas que querem tomar o lugar de Deus
para "corrigir" os homens - entre nós. E o pior: eles têm notável influência na
mídia dita gospel.
Em
recente matéria de capa, a revista "Cristianismo Hoje" apresentou como formador
de opinião no meio evangélico um sujeito que até então não havia merecido minha
atenção, que edita um site gospel que é uma espécie de versão (mais vulgar e
intelectualmente empobrecida) do antigo "Pasquim".
Salta aos
olhos o seu palavreado chulo e suas simplificações. Não por acaso, ele se
comunica por meio de montagens, fotos-legenda e outros recursos
disponíveis às crianças no Photoshop. Pensei que Caio Fábio era o fundo do
poço. Fui otimista. Há um mundo novo, lá embaixo, depois de Caio.
Ele
ganhou da revista um destaque positivo. Saiu-se bem como paladino da ortodoxia
ao reclamar da disseminação das heresias nas redes sociais. Uma consulta ao seu
site, contudo, revela um universo rico em heresias para todos os gostos - desde
que você seja um herege chique, entenda-me, nada de bizarrices neopentecostais:
isso é démodé.
"Cristianismo Hoje" fala da “mensagem radical” de Julio Severo. "Ninguém
conhece seu verdadeiro nome, como se sustenta e como vive sua fé. A pregação
furiosa contra o homossexualismo já lhe rendeu diversos problemas".
Uma breve
pausa para vomitar.
Voltamos
aos trabalhos. A mensagem da Cruz é radical. Nas entrelinhas, o autor da
matéria de capa da "CH" dá a entender "radical" é algo pejorativo. Christopher
Hitchens explica, em "Cartas a um Jovem Contestador" que o termo radical
refere-se ao que esta voltado à raiz, ou seja, alguém ou uma ideia que se
alicerça na sua origem.
Nota
mental: comprar um dicionário e enviar aos editores de "Cristianismo Hoje".
Em
seguida, a revista convoca o editor da versão intelectualmente empobrecida do "Pasquim" para dizer que Severo não existe - em outras palavras, claro. "Ninguém
sabe, ninguém viu", conta o sujeito. Julio Severo é conhecido de muita gente em
Brasília e em São Paulo. E no resto do Brasil.
Já o tal "formador de opinião" da "CH" é um ilustre desconhecido. Tomei um Engov e
fui pesquisar nosso formador de opinião no Google. O sujeito é uma espécie de
calvinista de esquerda. Detalhe: já se reportou ao "radical" Julio Severo com
palavrões que fariam corar os leitores de "Pasquim".
Julio
Severo já foi atacado duramente pelo "calvinista de esquerda" que não economiza
nos xingamentos e obscenidades em seus surtos de vulgaridade disfarçada de
crítica. Duas hipóteses: os editores da "CH" sabiam disso e por isso o chamaram
para a entrevista ou não sabiam e precisam pesquisar mais seus entrevistados.
Li alguns
dos textos do sujeito. O palavreado chulo e os xingamentos me remeteram aos
tempos de colégio, quando testemunhava um festival de brutalidades na hora do
recreio.
Se Julio
é "fundamentalista", os seus detratores protestantes são moleques ginasiais que
passaram dos 40 anos sem, contudo, adquirir o bom senso que se espera de
adultos.
Não
conheço outro evangélico que tenha tido a coragem e a persistência de Julio
Severo para enfrentar, de um lado, a perseguição estatal e, de outro, as
ameaças dos fascistas "do bem". Se isso é ser radical, graças a Deus pelo
radicalismo.
Quando os
cordeiros são confundidos com lobos, por força da lógica, os lobos são
confundidos com cordeiros. São duas confusões distintas: no primeiro caso,
pensamos que os verdadeiros cordeiros são impostores; no segundo, que os lobos
impostores são os verdadeiros cordeiros.
Mais do
que nunca, precisamos saber a diferença.
Publicado no "Gospel Mais"
Fonte: "Mídia Sem Máscara"
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