Dedico nesta sexta, na 'Folha de S. Paulo', mais uma coluna a Gilberto Carvalho, secretário-geral da
Presidência, vejam lá. A presidente Dilma Rousseff já percebeu que ele não é
exatamente alguém que lute para que ela se reeleja. Em certa medida, pode até
fazer o contrário: Carvalho é o tipo de militante que, caso considere que a
doutrina partidária está sendo contrariada, prefere a derrota que purifica à
vitória que não honra os fundamentos.
A luta dos que tentam botar Carvalho para fora do Ministério
continua, a começar de Aloizio Mercadante, ministro da Casa Civil. Mas não será
fácil. E, por enquanto ao menos, os seus adversários internos foram derrotados.
A razão é simples. Luiz Inácio Lula da Silva, o chefão nº 1 do PT, entrou em
ação para manter no Planalto o chefão nº 2 do partido - justamente Carvalho,
que atua como seus olhos, mãos e ouvidos. Segundo a família de Celso Daniel,
prefeito assassinado de Santo André, as mãos de Carvalho carregaram bem mais do
que um destino.
Carvalho é o Savonarola do PT e do Planalto, aquele que se
apresenta como o chefe da doutrina e o purificador, o que lhe rende também
simpatias em amplos setores da imprensa, que o veem como um homem sem ambições
pessoais. Quem quiser que se comova. Tomem o caso do decreto 8.243, aquele que
disciplina a participação dos movimentos sociais no governo federal. É claro
que a presidente Dilma não foi obrigada a assinar aquela porcaria. Por sua
própria vontade, no entanto, isso seria deixado pra lá. Quem forçou a mão foram
setores do PT e, evidentemente, Carvalho. Diante da resistência da Câmara - na
verdade, do Congresso -, em vez de buscar a conciliação, o convencimento, o
entendimento, ele anuncia uma "guerra" e uma "luta até o fim".
De junho do ano passado a esta data, a Carvalho cabia o chamado "diálogo" com os movimentos sociais - ou por outra: a sua função era justamente
desarmar o gatilho das manifestações violentas, que acabaram caindo no colo de
Dilma Rousseff. E o que se sabe hoje? Este senhor resolveu bater um papinho com
black blocs. Sob a sua gestão, a questão indígena se tornou, literalmente, um
assunto que se debate com arco, flecha e balas. Carvalho tentou até mesmo, como
esquecer?, transformar os rolezinhos numa guerra racial.
Este senhor não é exatamente um homem, mas uma personagem. Num
romance como "O Nome da Rosa", por exemplo, de Umberto Eco, ele seria um
daqueles obcecados que se moveriam nas sombras, com convicção inquebrantável,
em nome de alguma doutrina morta. Se estivesse em "Criação", de Gore Vidal,
caber-lhe-ia o papel de um dos eunucos da corte persa, defendendo valores nos
quais o próprio imperador não acredita.
Lula agiu para Carvalho continuar no governo. Dilma que se vire com os seus sabotadores.
Fonte: "Blog
Reinaldo Azevedo"
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