Novo empreendimento imobiliário, que inclui parque temático,
hotéis e o futuro maior shopping do mundo em ruas climatizadas,
consolida
Dubai, nos Emirados Árabes Unidos,
como a capital mundial da extravagância
Sobre as
areias escaldantes do deserto, um oásis verde abriga plantas tropicais e até
uma cachoeira. A poucos metros de distância, uma rua cheia de teatros, cinemas
e letreiros luminosos se assemelha muito a Times Square, em Nova York. Mais
alguns passos e outra via dá ao turista a sensação de passear pela famosa
Oxford Street, em Londres. Parece loucura? Não para os arquitetos e engenheiros
responsáveis pelo projeto de um novo empreendimento imobiliário em Dubai,
capital dos Emirados Árabes Unidos, que deve ficar pronto em 2020. Batizada de "Mall of the World" ("Shopping do Mundo"), a futurística construção promete ser
uma "cidade dentro da cidade", com teatros, cinemas, parques de diversão, mais
de 100 hotéis, prédios residenciais e um shopping center, que será o maior do
mundo, com mais de 700 mil m², desbancando o atual Dubai Mall, com 500 mil
m². Para interligar as edificações serão construídos mais de sete quilômetros
de vias climatizadas - terão temperatura agradável no verão e no inverno o teto
retrátil poderá ser aberto. Com essa iniciativa, a capital reforça seu título
de cidade com a arquitetura mais extravagante do mundo.
Há 50
anos, a atual região de luxo, e meca do consumo, era apenas um deserto. Ao
colocar em prática uma política de baixos impostos, a cidade atraiu
megacorporações internacionais e se tornou um grande centro financeiro e de
turismo. Hoje, Dubai ocupa o sétimo lugar entre os destinos mais procurados por
viajantes internacionais no mundo, recebendo em média dez milhões de turistas a
cada ano - em minha viagem a Jerusalém em abril e maio deste ano, estive em Dubai e Abu Dhabi com grupo de feirenses formado pela Ide Viagens e Turismo. Grande parte desses visitantes conhece a cidade a trabalho, mas
muitos chegam a Dubai atraídos exatamente pelas monumentais obras
arquitetônicas e de engenharia, como o Burj Khalifa, atualmente o maior
edifício do mundo, com 828 metros de altura, o Ski Dubai, gigantesco resort de
ski indoor com mais de 22 mil m2, e as maiores ilhas artificiais do planeta,
que, vistas do espaço, formam a imagem de palmeiras e de um impressionante
mapa-múndi. Tudo bancado pela exorbitante riqueza gerada pelo petróleo,
descoberto na região em 1966.
"A situação financeira dos Emirados permite esses exageros arquitetônicos desnecessários e, ao mesmo tempo, provocativos", afirma Enio Moro Júnior, coordenador do curso de arquitetura e urbanismo do Centro Universitário Belas Artes, de São Paulo. Segundo o arquiteto, Dubai é considerada um grande laboratório para a arquitetura e a engenharia mundiais, por possibilitar que sejam colocadas em prática soluções técnicas para prover conforto térmico, iluminação adequada, geração de energia e reciclagem de lixo, por exemplo. "Mas, do ponto de vista urbanístico, a cidade não é um bom modelo, pois não parece haver uma interação real com o meio externo. Tudo é muito artificial, como num cenário", afirma Moro Júnior.
"A situação financeira dos Emirados permite esses exageros arquitetônicos desnecessários e, ao mesmo tempo, provocativos", afirma Enio Moro Júnior, coordenador do curso de arquitetura e urbanismo do Centro Universitário Belas Artes, de São Paulo. Segundo o arquiteto, Dubai é considerada um grande laboratório para a arquitetura e a engenharia mundiais, por possibilitar que sejam colocadas em prática soluções técnicas para prover conforto térmico, iluminação adequada, geração de energia e reciclagem de lixo, por exemplo. "Mas, do ponto de vista urbanístico, a cidade não é um bom modelo, pois não parece haver uma interação real com o meio externo. Tudo é muito artificial, como num cenário", afirma Moro Júnior.
Na opinião do turismólogo Luiz Godoi Trigo, que esteve em Dubai em 2004
e é professor titular do curso de Lazer e Turismo da Universidade de São Paulo
(USP), todas essas megaobras só são possíveis por conta da administração
autoritária dos Emirados, governados pelo sheik Mohammed Bin Rashid Al Maktoum. "Em Dubai não há nenhuma entidade civil que se oponha a essas construções, nem
mesmo são feitos relatórios sobre os impactos ambientais de projetos dessa
magnitude", diz Trigo. Outro problema apontado pelo especialista é a questão da
mão de obra estrangeira contratada para executar esses projetos, geralmente
trabalhadores humildes da Índia, Bangladesh e Paquistão, que moram nos
canteiros de obras em situações análogas a trabalho escravo. "Não se fala muito
disso porque Dubai é boa em marketing. Todos sabem das maravilhas de lá, mas poucos
se preocupam com a questão ambiental ou de trabalho", diz. Um dos maiores
absurdos da cidade com apreço pelas extravagâncias e recordes.
Fotos: HO/SHEIKH MOHAMMED BIN RASHID AL-MAKTOUM PRESS OFFICE, Nakheel/HO
– AP Photo; Gerald Donovan; Callaghan Walsh
Fonte: "Isto É"
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