Por Daniel Pipes
Geoffrey Blainey
revela em seu brilhante estudo 'As Causas da Guerra' que os políticos iniciam as
guerras com a visão otimista de obterem dividendos do combate, senão eles as
evitariam.
Por
que, então, o Hamas acaba de provocar uma guerra contra Israel? Do nada, em 11
de junho, o Hamas começou a lançar foguetes, convulsionando a calma vigente
desde novembro de 2012. O mistério dessa explosão fez com que David Horovitz,
editor do 'Times of Israel', constatasse que os combates, ora em andamento,
"não têm nenhuma razão de ser", nem sequer de estarem acontecendo. E
por que a liderança israelense respondeu de forma tão discreta, tentando evitar
os combates? Isso, apesar de ambos os lados saberem que as forças de Israel são
muito mais poderosas qualquer que seja o quesito: coleta de inteligência,
comando e controle, tecnologia, poder de fogo e domínio do espaço aéreo.
O
que explica essa inversão de papéis? Será que os islamistas são tão fanáticos a
ponto de não se importarem com a derrota? Será que os sionistas estão
preocupados demais com a perda de vidas a ponto de não quererem combater?
Na
realidade, os líderes do Hamas são bem racionais. Periodicamente, (2006, 2008,
2012), eles decidem ir à guerra contra Israel sabendo muito bem que serão
derrotados no campo de batalha, mas otimistas que irão vencer na arena
política. Líderes israelenses, por outro lado, acreditam que irão vencer
militarmente, mas temem perder politicamente na cobertura negativa da mídia, resoluções
das Nações Unidas e assim por diante.
O
foco na política representa uma guinada histórica, os primeiros 25 anos da
existência de Israel testemunharam ameaças a sua existência (principalmente
entre 1948 e 1949, 1967 e 1973) e ninguém sabia como essas guerras iriam
acabar. Eu me lembro do primeiro dia da Guerra dos Seis Dias, quando os
egípcios proclamavam excelentes triunfos enquanto o silêncio da imprensa
israelense indicava uma catástrofe. Foi eletrizante saber que Israel conquistou
a maior vitória já vista nos anais das guerras. A questão é que os resultados
eram imprevisíveis e eram decididos no campo de batalha.
Não
é mais assim: o resultado no campo de batalha das guerras árabe-israelenses,
nos últimos 40 anos, tem sido previsível, todo mundo sabe que as forças
israelenses irão vencer. Elas se parecem mais como confrontos entre policiais e
ladrões do que guerras. Ironicamente, essa assimetria muda a atenção quanto a
vencer e perder para moralidade e política. Os inimigos fazem com que Israel aja,
em última análise, para matar civis cujas mortes lhes trazem inúmeros
benefícios.
Os
quatro conflitos que ocorreram desde 2006 restauraram a maculada reputação do
Hamas para a categoria de "resistência", criaram uma solidariedade na
frente interna, provocaram dissidência tanto entre árabes quanto judeus em
Israel, angariaram apoio para que palestinos e outros muçulmanos se tornassem
homens bomba, constrangeram líderes árabes não muçulmanos, conseguiram a
aprovação de novas resoluções nas Nações Unidas condenando Israel,
influenciaram os europeus a imporem sanções mais duras contra Israel,
fomentaram uma avalanche de ódio na esquerda internacional contra o estado
judeu e ainda obtiveram mais ajuda da República Islâmica do Irã.
O
Santo Graal da guerra política é conquistar a simpatia da esquerda global
apresentando-se como pobre-coitado e vítima. (Do ponto de vista histórico, vale
a pena ressaltar, isso é muito esquisito: tradicionalmente, os combatentes
fazem de tudo para amedrontar o inimigo, apresentando-se como temíveis e
imbatíveis).
As
táticas dessa nova forma de guerra incluem apresentar uma narrativa emocional
convincente, citar endossos de personalidades famosas, apelar para a
consciência e desenhar charges políticas simples e ao mesmo tempo com grande
poder de persuasão (defensores de Israel são muito bons nisso, eram assim no
passado e são assim no presente). Os palestinos são ainda mais criativos,
desenvolveram duas técnicas de fraudulência "fauxtography (apresentação
fraudulenta de imagens com propósitos de propaganda envolvendo adulterações,
inclusões e omissões importantes no contexto)", no caso de fotografias e
"Pallywood (encenação de jornalistas palestinos com o objetivo de
apresentar os palestinos como vítimas miseráveis da agressão israelense)",
no caso de vídeos. Os israelenses costumavam ser complacentes quanto à
necessidade da hasbara, ou seja, dar o recado, mas nos últimos anos estão mais
focados nisso.
Topos
de colinas, cidades e estradas estratégicas têm enorme importância nas guerras civis
no Iraque e na Síria, mas moral, proporcionalidade e justiça dominam as guerras
árabe-israelenses. Conforme já relatei durante o confronto entre Israel e o
Hamas em 2006, "solidariedade, moral, lealdade e compreensão são o novo
aço, borracha, petróleo e munição". Ou em 2012: "artigos em jornais e
revistas assinados pelos autores substituíram as balas, a mídia social
substituiu os tanques". De maneira geral, isso faz parte da profunda
mudança na guerra moderna quando forças ocidentais e não ocidentais entram em
combate, como nas guerras lideradas pelos Estados Unidos no Afeganistão e no
Iraque. Em termos Clausewitzianos, a opinião pública é o novo centro de
gravidade.
Dito
isso, como o Hamas está se saindo? Não está se saindo muito bem. Suas perdas no
campo de batalha desde 5 de julho parecem mais elevadas do que o esperado e a
avalanche de condenações mundiais a Israel ainda não se concretizaram. Até
mesmo a mídia árabe está relativamente quieta. Se continuar desse jeito, o
Hamas poderá eventualmente concluir que disparar uma chuva de foguetes contra
lares israelenses não seja uma ideia tão brilhante. De fato, para dissuadi-lo
de iniciar outro ataque contra Israel nos próximos anos, o Hamas precisa perder
tanto política quanto militarmente, e perder feio.
Fonte: National Review OnlineOriginal em inglês: "Why Does Hamas Want War?"
Tradução: Joseph Skilnik
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