Por
Reinaldo Azevedo
Vou aqui fazer algumas considerações que, creiam, nada têm de
campanha eleitoral ou de expressão de afinidades eletivas, embora eu, como toda
gente, faça as minhas opções. Na democracia, desde que os candidatos transitem
no escopo democrático e se coloquem na defesa dos valores que essa democracia
pode abraçar, todas as escolhas são igualmente legítimas, como legítimas são as
divergências ideológicas. Em ciências humanas, e a economia também é uma
ciência humana, quase nunca se tem uma resposta única para um problema. Mas é
certo que essa resposta tenderá a ser ineficaz ou mesmo contraproducente se
contrariar a matemática, a lógica, a história e, eventualmente, a experiência.
Já há algum tempo estamos diante de um dado eloquente. Aquilo a
que chamamos "mercado" tem reagido muito bem à queda da presidente Dilma
Rousseff nas pesquisas eleitorais e à possibilidade de a oposição vencer a
disputa em 2014. Às vezes, para rimar os números com a esperança de mudança,
nem se precisa do fato; basta o boato. E não foi diferente nesta sexta. Como a
pesquisa Datafolha apontou um empate técnico no segundo turno entre o tucano
Aécio Neves e a presidente - 40% a 44% para ela - e uma diferença de
apenas sete pontos entre a petista e Eduardo Campos - 38% a 45% -, o Ibovespa
passou a operar em alta. Às 15h10, estava aos 57.175 pontos. Na máxima do dia,
o índice chegou a 3,31%. Os destaques, vejam vocês, ficaram com as estatais: a
Petrobras, por exemplo, exibia ganhos de 5,56% nas ações ON (as ordinárias
nominativas), aquelas que dão direito a voto, e 5,6% na PN, a preferencial
nominativa, a que não dá e é a mais negociada por investidores não
profissionais.
Por que é assim? Ninguém precisa ser deste ou daquele partido para
saber que, infelizmente, hoje e há muito tempo já, o governo usa as
estatais brasileiras não apenas para fazer política de desenvolvimento, não
apenas para cuidar do interesse nacional. Ele as utiliza também para cuidar de
interesses bem mais mesquinhos, partidários, e como elemento de ajuste -
precário e temporário - dos desacertos da política econômica. É sabido, por
exemplo, que as tarifas estão represadas para evitar uma elevação da inflação,
que já ultrapassa o teto da meta. Como malefício adicional, seguem intocados os
fatores que causam a elevação do índice inflacionário.
É claro que isso tem um preço. Até agora, a presidente Dilma e o
PT não deram sinais de que vão mudar essa política caduca caso obtenham mais quatro
anos de mandato. Ao contrário até: aqui e ali, lideranças do partido, como o
próprio Lula, têm preferido atacar o tal "mercado", como se ele fizesse um mal
ao Brasil. Ao contrário. Felizmente temos um mercado relativamente forte no
país, que serve de radar e de advertência. A cada bobagem ou medida atabalhoada
que o governo toma na economia, ele reage. Mais importante: reage também a
expectativas, a partir de alguns indícios. Isso serve de freio à tendência
autocrática dos governos. Sabem quem não tem mercado? Cuba! Sabem quem
praticamente não tem mercado? A Venezuela! Já a tirania chinesa tem um, sim, e
é gigantesco! A existência de um mercado, em suma, não garante a democracia.
Mas só existe democracia onde ele atua e serve de instrumento de leitura
da realidade.
Quando os investidores reagem bem à perspectiva de alternância de
poder, é preciso que o governo ponha a mão na consciência. Em vez de sair por
aí demonizando os agentes econômicos e mesmo seus adversários, talvez fosse o
caso de tomar medidas efetivas para mudar de rumo. O que vemos, no entanto,
infelizmente, são escolhas que caminham no sentido contrário. Além de tentar
atrelar a administração pública federal e seus entes a conselhos formados por
militantes políticos, o governo já pensa abertamente em estatizá-los,
subordinando ainda mais o interesse público às militâncias organizadas.
A reação do mercado é, na verdade, a reação de uma fatia
considerável e legítima da sociedade, que contribui de modo efetivo para gerar
as riquezas com as quais se administra a máquina pública e que, inclusive,
geram os bens necessários para as políticas de compensação e de distribuição de
renda. Atacar os seus fundamentos também corresponde a atuar contra os
interesses dos mais pobres.
A reação dos mercados é parte importante da reação de uma
sociedade que quer mudar porque sente que, hoje, o estado e o governo viraram
seu adversário.
Fonte: "Blog
Reinaldo Azevedo"
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