Por Reinaldo Azevedo
A presidente Dilma Rousseff (PT) está logrando um
feito verdadeiramente inédito. Nunca antes na história deste país, a
possibilidade de reeleição do governo de turno gerou turbulências no mercado.
Acontecia justamente o contrário: era a perspectiva de mudança que gerava
intranquilidade. Negociantes, no melhor sentido da palavra, aceitam correr
riscos, sim. Mas gostam de regras - e de regras conhecidas. A suspeita de que
qualquer coisa pode acontecer e de que tudo é possível tem preço - para baixo.
Em 1994 e 1998, quem despertava temores no mercado
era o PT de Lula, que perdeu as duas disputas no primeiro turno. A reeleição
das forças governistas representava estabilidade. Em 2002, a possibilidade de o
petista vencer a disputa custou caro ao país. A especulação passou a comer
solta, a inflação disparou, e o país teve de recorrer ao FMI - uma solução
negociada com os companheiros, diga-se. Por quê?
Mesmo com a "Carta ao Povo Brasileiro", em que o
partido prometia seguir as regras de mercado, respeitar contratos e não dar
calote em ninguém, havia uma grande e justificada desconfiança. Afinal, o PT
passara 21 anos prometendo intervir na economia com mão forte - e não se
descartava calote por lá nem da dívida interna nem da externa. Antonio Palocci
se encarregou de evidenciar, no primeiro ano de sua gestão, que aquela
conversão à realidade era para valer. A tensão passou.
Nas eleições de 2006 e 2010, esse era um
não-assunto. Vencesse Dilma, Alckmin ou Serra, ninguém antevia grandes
problemas pela frente. Aliás, se vocês recuperarem o noticiário da disputa em
2010, encontrarão alguns cretinos, fingindo-se de fundamentalistas de mercado,
mas atuando como esbirros do PT, a falar, creiam, de um tal "risco Serra".
Ou por outra: nas disputas de 1994, 1998, 2002,
2006 e 2010, o governismo nunca foi encarado como risco pelo mercado. Ela era
sempre a solução - porque, reitero, os agentes econômicos preferem a certeza de
turbulência às incertezas da escuridão.
Nesta quinta-feira, acreditem, o mercado reagiu bem à
derrota da Seleção Brasileira para a Alemanha por 7 a 1 porque considerou que
isso eleva a possibilidade de Dilma perder a eleição. A Bolsa no Brasil se
descolou do mercado internacional, que teve um mau dia: no fim da sessão, o
Ibovespa fechou em alta de 1,79%, aos 54.592,75 pontos, maior patamar desde 20
de junho (54.638,19 pontos).
E olhem que o Ibovespa resistiu até a indicadores
ruins. Segundo o IBGE, a produção industrial recuou em sete dos 14 locais pesquisados
de abril para maio. Os destaques foram as retrações verificadas no Amazonas
(-9,7%), Bahia (-6,8%) e Região Nordeste (-4,5%).
Nunca antes na história "destepaiz", a
possibilidade de reeleição do governo foi encarada como um risco.
Fonte: "Blog Reinaldo Azevedo"
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