Eu sei: ninguém mais
acredita no Ibope. Mas talvez seja o caso de dizer que "ATÉ" o Ibope reconhece
o óbvio: a maioria do eleitorado brasileiro votou pela mudança. E o mais
natural, se as mentiras do PT não colarem, é que a maioria dos eleitores de
Marina Silva declare voto em Aécio Neves (PSDB).
Já comentei o papelão da
candidata derrotada no artigo: Marina quer perder ganhando. Petismo nunca saiu dela. Agradeço
a ex-ministra por mostrar que sempre estive certo. Apoios são bem-vindos, é
claro, mas não nas condições que ela apresentou. E por que Aécio haveria de
ceder?
A pesquisa Ibope divulgada
na noite de quinta-feira mostra que 64% dos eleitores que declaram ter
votado na ex-ministra do Meio Ambiente no primeiro turno já pretendem votar em
Aécio, e apenas 18% deles dizem que votarão em Dilma Rousseff (PT). Além disso,
31% dos que votaram branco ou nulo afirmam que vão votar em Aécio, enquanto somente
13% em Dilma. Outros 47% continuam dispostos a anular ou votar em branco e,
entre os que dizem que ainda podem mudar o voto, há 19% dos que anulam ou votam
em branco, e 11% de apoiadores de Dilma e Aécio.
Somando e arredondando os
votos obtidos por cada candidato apenas com os de Marina que migrariam para
eles, ficamos assim (com M de milhões):
Aécio 35M + 64% da
Marina 14,1M = 49,1M
Dilma 43M + 18%
da Marina 4,4M = 47,4M
Ainda restaria somar os
votos dos demais candidatos, lembrando que Eduardo Jorge (PV), Pastor Everaldo
(PSC) e Levy Fidelix (PRTB), assim como o próprio PSB de Marina, apoiam Aécio,
enquanto o PSOL de Luciana Genro ficou "neutro", mas com "veto" ao candidato do
PSDB.
É absolutamente improvável
que Marina resolva apoiar Dilma em meio a tantos escândalos de corrupção que
ela mesma denunciou e após o terrorismo eleitoral petista que sofreu, de modo
que sua neutralidade no segundo turno tende a deixar as coisas no caminho em
que estão.
Um interlocutor ainda teria
dito que, "na campanha, ela [Marina] terminou de romper todos os vínculos com o
partido [PT], inclusive os emocionais." Todos, eu duvido, como de hábito, mas
entendo o que ele quis dizer. E se, no caso de apoiar Aécio, Marina já decidiu
que não subirá em palanque tucano nem irá à TV, como informa Mônica Bergamo na
Folha, que falta afinal - pergunto eu – fará o seu apoio?
Com exigências drásticas ao
PSDB, ela quis amenizar o desgaste que sofreria com parte do seu
eleitorado (uma parte menor, segundo o Ibope) por apoiar o partido do
qual foi adversária por três décadas, mas a única coisa que está conseguindo
deixar clara, assim como em 2010, é que está mais preocupada com a própria
imagem do que com o país.
Sem perder a elegância, nem
fechar as portas para um acordo, nem abrir mão da proposta de seu vice de
reduzir a maioridade penal em casos de crime hediondo, Aécio foi triplamente
certeiro na reação à listinha de Marina.
Sobre quem conduz o
processo, falou:
"O essencial hoje é a
mudança. O caso não é de abrir mão de propostas. É aprimorarmos. Se formos
reconstruir o projeto desde o início, não estamos fazendo uma aliança. Aliança
tem que acontecer em torno do essencial. O essencial hoje é a mudança. E eu,
pela vontade de grande parte dos brasileiros, tenho a responsabilidade de
conduzir essa mudança".
Sobre abdicar do
que acredita:
"Nosso programa tem muita
inserção social, educação e sustentabilidade. Mas, quando se busca um apoio no
segundo turno, isso não pode nos levar também a abdicar daquilo que acreditamos
que seja essencial para o país. Vejo muito mais convergências entre o que tenho
ouvido das propostas da candidata Marina do que divergências".
Sobre os objetivos
maiores:
"As mudanças não são
uniformes. As pessoas que esperam mudanças se distinguem em determinados
aspectos ou temas. Na articulação em torno de Tancredo Neves, tinha desde
partidos comunistas à Frente Liberal, considerados por alguns da ‘direita
conservadora’. Fizeram isso porque Tancredo representava a possibilidade de reencontrarmos
a democracia no Brasil. Uma aliança no segundo turno se dá em torno de objetivos
maiores: um governo eficiente e ético".
Se não for assim: um
abraço, ex-ministra! Seu apoio já caducou. Ou, parafraseando Xuxa:
Aham, Marina, senta lá.
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