Por Reinaldo Azevedo
É espantoso que, dados os dias que vivemos, vejamos
políticos na televisão - e aconteceu isso ainda ontem - a defender o fim do
financiamento privado de campanhas políticas, asseverando, de forma indireta,
que as sem-vergonhices em curso no Brasil, muito especialmente Petrobras,
derivam do fato de não haver financiamento público no país.
É uma piada grotesca na qual, infelizmente,
embarcam amplos setores da imprensa, a Ordem dos Advogados do Brasil, ongs que
se dizem favoráveis à moralidade na vida pública e, infelizmente, a maioria do
STF - que, se não mudar, caminha para considerar inconstitucional o
financiamento privado. Será, sem dúvida, uma decisão notável porque, a ser
assim, o país está fora da lei que ele mesmo votou há muitos anos. Realizamos,
então, sete eleições diretas, depusemos um presidente, demos posse à oposição,
tudo ao arrepio da Constituição!
Eu fico aqui a bradar para que me expliquem, e não
há quem possa fazê-lo: o que a safadeza em curso na maior estatal brasileira
tem a ver com financiamento de campanha? O dinheiro que foi roubado na
Petrobras - e, segundo Paulo Roberto Costa, o método é o mesmo em toda a
administração pública - destinava-se mesmo ao processo eleitoral? Foi só para
fazer caixa de partidos? No dia em que o Tesouro arcar com o custo bilionário
das campanhas - em parte, já o faz -, então os diretores nomeados para as
estatais não mais obedecerão à orientação partidária? Então os que não
conseguiam ser decentes com a legislação anterior passarão a se comportar de
acordo com os as novas regras?
Tenham paciência! Enquanto o governo federal puder
nomear livremente 25 mil pessoas - e Estados e municípios, outros muitos
milhares -; enquanto um Estado gigante e seus tentáculos estatais estiverem a
estrangular o país; enquanto a lógica for a da vitória das urnas para se
apoderar da coisa pública, acreditem: não há saída. Instituir o financiamento
público vai apenas sangrar um pouco mais os cofres. Paulo Roberto já contou
como atuava, por exemplo, a diretoria de Serviços da Petrobras, então sob o
comando do PT: a fraude começava já na pré-seleção das empresas que fariam
determinada obra. A nova lei eleitoral seria capaz e coibir isso?
No dia em que se proibir o financiamento privado de
campanha, a consequência óbvia será apenas o aumento exponencial do caixa dois.
O dinheiro que hoje está por dentro se somará àquele que já está por fora. Os
países que proíbem o financiamento privado são as exceções, não a regra. E deve
haver um bom motivo para isso, que não o excesso de sagacidade ou de
moralidade.
O voto do Supremo, até aqui, contribui para mandar
o processo eleitoral brasileiro para a ilegalidade plena e estimulará ainda
mais a roubalheira nas estatais. É lógica elementar.
Fonte: "Blog Reinaldo
Azevedo"
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