Por Augusto Nunes
As pesquisas do
Datafolha e do Ibope, que acabam de sair do forno, garantem que nada de
relevante - rigorosamente nada - aconteceu desde quinta-feira passada, quando
cada um dos institutos serviu a primeira sopa de algarismos produzida pelo
segundo turno da eleição presidencial. Passados seis dias, Aécio Neves continua
com os mesmos 51% dos votos válidos, Dilma Rousseff segue estacionada nos
mesmos 49%. Como a margem de erro é de 2%, os alquimistas do Ibope e do
Datafolha comunicaram que "a situação é de empate técnico".
Conversa de 171, comprovou o DataNunes, único
instituto que, em vez de pesquisas, faz constatações com margem de erro abaixo
de zero e índice de confiança acima de 100%). O boletim distribuído neste 15 de
outubro condensou em nove tópicos as razões das significativas mudanças
registradas tanto na direção e força dos ventos quanto na temperatura política:
1. No segundo turno, Dilma Rousseff teve de
conformar-se com o apoio individual de Luciana Genro, candidata à presidência
pelo Psol (e última colocada em todos os concursos promovidos nos anos 70 para
a escolha do Bebê Simpatia de Porto Alegre). Já na largada, juntaram-se à
coalizão oposicionista o PSB, o PPS de Roberto Freire, o PV de Eduardo Jorge e
o PSC do Pastor Everaldo. Neste fim de semana, a aliança foi reforçada pelo
apoio público da família de Eduardo Campos e pela chegada de Marina Silva ao
palanque de Aécio.
2. No fim de semana, a aliança liderada por
Aécio incorporou campeões de voto filiados a partidos da base alugada. O PDT,
por exemplo, segue no time de Dilma, mas desfalcado dos senadores Cristóvam
Buarque (DF) e Pedro Taques, governador eleito de Mato Grosso. Também figura no
grupo dissidente Antonio Reguffe, senador eleito pelo PDT do Distrito Federal.
Como os dois candidatos a governador no segundo turno apoiam Aécio, até o Ibope
teve de admitir, numa pesquisa divulgada nesta terça-feira, que em
Brasília o senador mineiro está 30 pontos percentuais acima da candidata à
reeleição.
3. No Rio Grande do Sul, Aécio conseguiu o
apoio de José Sartori, do PMDB, que se prepara para confirmar no segundo turno
a derrota imposta a Tarso Genro no dia 5. Aos lado dos eleitores de Sartori
estão os que votaram na terceira colocada, senadora Ana Amélia Lemos, do PP.
Como em Santa Catarina e no Paraná, também no Rio Grande do Sul o candidato
tucano somará mais de 50% dos votos válidos.
4. O poder de fogo da aliança antipetista no
Brasil meridional só é inferior ao exibido na portentosa frente paulista, que
garantiu a Aécio 44% do total de votos no Estado que abriga um terço do
eleitorado brasileiro. Esse colosso cresceu com a migração de dois terços dos
que votaram em Marina Silva, com a prostração paralisante da companheirada surrada
nas urnas, com os estrondos da roubalheira na Petrobras e com o entusiasmo dos
tucanos vitoriosos, decididos a ampliar os 7 a 1 do primeiro turno que
transformaram São Paulo na Alemanha do lulopetismo.
5. No Rio, ressurgiu mais encorpado o grupo que
defende a chapa Aezão, formada por Aécio e pelo governador Luiz Fernando Pezão,
que disputa a segunda etapa contra o senador Marcelo Crivella. O significado do
movimento articulado por prefeitos e parlamentares do PMDB ultrapassa as
fronteiras do Rio. Governistas incuráveis, os peemedebistas sempre adivinham
quem vai ganhar. A ressurreição do Aezão avisa que, para os peemedebistas, é
Aécio o franco favorito.
6. Em Minas, os fabricantes de estatísticas já
se renderam aos fatos: Aécio lidera a corrida com folga em todas as pesquisas
divulgadas com reveladora discrição pelos fabricantes de índices convenientes
ao Governo Federal.
7. A vantagem da presidente no Nordeste foi
consideravelmente encurtada pela inversão do quadro eleitoral em Pernambuco e
pelo aumento da votação de Aécio nos Estados em que candidatos da oposição
disputam o segundo turno.
8. No mesmo dia em que Dilma resolveu
hasteá-la ao lado de Fernando Collor, Renan Calheiros e Renan Filho, a bandeira
do combate à corrupção foi arriada pelas revelações feitas às Justiça Federal
do Paraná por dois protagonistas e testemunhas da roubalheira na Petrobras. As
denúncias vocalizadas pelo ex-diretor da estatal Paulo Roberto Costa e pelo
doleiro Alberto Yousseff, conjugadas com a discurseira moralista de Dilma,
confirmaram que o Brasil é o país da piada pronta.
9. O sumiço de Lula é um aviso aos navegantes:
o barco de Dilma percorre a rota do naufrágio. Sempre o primeiro a cair fora do
porão, o padrinho não é visto ao lado da afilhada desde 3 de outubro. Faz 13
dias que inventa compromissos no Acre, no Rio Grande do Norte ou no Ceará para
não dar as caras no palanque em perigo.
Conjugados, os nove tópicos permitem calcular
com precisão a posição dos candidatos e a distância que os separa: Aécio Neves
tem 55% dos votos válidos e Dilma Rousseff, 45%. A diferença é de 10 pontos
percentuais. Por enquanto.
Fonte: "Direto ao Ponto"
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