Por Reinaldo Azevedo
Se o debate da Band foi equilibrado - achei que o
tucano Aécio Neves se saiu melhor porque, ao menos, tentou apresentar propostas -, o embate travado nesta quinta, promovido pela Jovem Pan, pelo UOL e pelo
SBT, foi bem desequilibrado: o domínio esteve com Aécio durante quase todo o
tempo. É a velha história: o ouvinte/telespectador decide quem ganhou e quem
perdeu. Eu me limito a falar do desempenho de cada um.
As táticas de Dilma para desestabilizar o
adversário não funcionaram e, convenham, ele acabou vencendo no contra-ataque.
Se será essa a avaliação majoritária do eleitorado, não sei. Dilma voltou a
criticar a gestão de Aécio em Minas e a desfilar números supostamente ruins das
gestões tucanas. Ele contestou, claro!, e seria infindável entrar aqui nas minudências,
mas encontrou duas armas que me pareceram muito eficazes: lembrou que já está à
frente dela em Minas - e as pesquisas vão demonstrá-lo - e sugeriu que a
petista deixe o povo mineiro em paz, que pare de tentar degradar o Estado. A
petista sentiu o golpe e tentou se explicar: estava criticando o candidato, não
os mineiros. Acabou fincando na defensiva.
O debate serviu para deixar claro que o PT não terá
nenhum receio em avançar para o campo pessoal. Dilma tentou ser sutil e
perguntou o que o tucano pensava sobre a Lei Seca. Ele acertou ao se antecipar,
desafiando Dilma a ter "coragem para a fazer pergunta direta". E emendou: "Eu
tive um episódio, sim, e reconheci. Eu tenho uma capacidade que a senhora não
tem. Eu tive um episódio que parei numa [blitz da] Lei Seca porque minha
carteira estava vencida e, ali naquele momento, inadvertidamente, não fiz o
exame e me desculpei disso." E afirmou que era diferente de sua oponente, que
nunca reconhece os próprios erros. E concluiu: "A senhora caminha para perder
essas eleições pela incapacidade que demonstrou inclusive de respeitar os seus
adversários".
No queixo
Fosse uma luta de boxe, Dilma teria levado um direto no queixo ao acusar o Aécio de empregar Andrea Neves, sua irmã, no governo - ela atuou no Fundo de Solidariedade de Minas, uma atividade não-remunerada. O tucano esperou que a adversária fizesse um belo salseiro a respeito e disparou:
"Candidata, a senhora conhece o senhor Igor Rousseff? Seu irmão, candidata! Não queria chegar a esse ponto. O seu irmão foi nomeado pelo prefeito Fernando Pimentel no dia 20 de setembro de 2003 e nunca apareceu para trabalhar. Essa é a grande verdade. Lamento ter que trazer esse tema aqui. A diferença entre nós é que minha irmã trabalha muito e não recebe nada. Seu irmão recebe e não trabalha nada. Infelizmente, agora, nós sabemos por que a senhora diz que não nomeou parentes no seu governo. A senhora pediu que seus aliados o fizessem."
Fosse uma luta de boxe, Dilma teria levado um direto no queixo ao acusar o Aécio de empregar Andrea Neves, sua irmã, no governo - ela atuou no Fundo de Solidariedade de Minas, uma atividade não-remunerada. O tucano esperou que a adversária fizesse um belo salseiro a respeito e disparou:
"Candidata, a senhora conhece o senhor Igor Rousseff? Seu irmão, candidata! Não queria chegar a esse ponto. O seu irmão foi nomeado pelo prefeito Fernando Pimentel no dia 20 de setembro de 2003 e nunca apareceu para trabalhar. Essa é a grande verdade. Lamento ter que trazer esse tema aqui. A diferença entre nós é que minha irmã trabalha muito e não recebe nada. Seu irmão recebe e não trabalha nada. Infelizmente, agora, nós sabemos por que a senhora diz que não nomeou parentes no seu governo. A senhora pediu que seus aliados o fizessem."
Sem resposta, Dilma tartamudeou: "A sua irmã e meu
irmão, eles têm que ser regidos pela mesma lei. Eles não podem estar no governo
que nós estamos. O nepotismo, eu não criei". Acho que ela quis dizer que não é
nepotismo quando um aliado contrata o parente de um político. É, sim: chama-se "nepotismo cruzado". E, claro, entre trabalhar e não receber e receber e não
trabalhar, só uma das duas práticas lesa os cofres públicos.
De resto, encerro relembrando aquela que foi a
barbaridade da noite: para Dilma, uma inflação de 3% no Brasil só é possível
com uma taxa de desemprego de 15%. É uma das maiorias abobrinhas ditas sobre
economia nos últimos tempos. Só que é uma abobrinha brava, do tipo perigosa.
Segundo a sua lógica perturbada, a inflação deve continuar alta para que não
haja desemprego.
Eis aí uma derrota, antes de mais nada,
intelectual. Dilma escolheu um confronto no ringue, não numa arena de debates.
E perdeu. Até petistas ficaram desanimados. Se será essa a impressão do
eleitor, não sei. Quem tem bola de cristal são os institutos de pesquisa. Falo
do que vi e ouvi.
Fonte: "Blog Reinaldo Azevedo"
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