Por Alexandre Garcia
O papa
Francisco e o presidente Macron geraram a centelha e reacenderam os ânimos
daqueles que não perdoam os brasileiros que os derrotaram em outubro. Do outro
lado do Atlântico e das redações urbanas a milhares de quilômetros da floresta,
atearam fogo à Floresta Amazônica, para demonstrar que o vencedor de outubro é
um Nero suicida; é um erro cometido pelos eleitores que ousaram derrotar os que
acreditam que detêm o poder de domar neurônios alheios. Desconhecedores da
Floresta, não sabem que para ela queimar, precisa antes ser derrubada, secar
por meses, e aí atear fogo. É assim que os indígenas ensinaram e sempre fizeram
na coivara, usada para criar roças e pastagens. O nome em inglês - rainforest -
floresta úmida, não foi entendido por muitos.
No ápice
das queimadas de mata derrubada, há uns 15 anos, fecharam os aeroportos da
região, como testemunham meus amigos pilotos, que hoje voam sobre a Amazônia
sem restrições. E isso acontecia com frequência na primeira década deste
século. A diferença é que o presidente era Lula, um santo, e hoje é o maldito
Bolsonaro, que ousou derrotar os que só aceitam a ideia única - sem dinheiro,
sem marqueteiro, sem TV, apenas com a vontade do eleitor. Agora eles viram a
chance de mostrar que o povo errou, mas precisam ser rápidos, porque já começam
os sinais de sucesso em todos os campos da recuperação econômica e moral do
país.
Os
números mostram que a quantidade de incêndios está dentro da média, mas isso
não nos deve tranquilizar. A histeria pirotécnica quase tendeu a provocar
estragos nas nossas exportações do agronegócio. Oportunidade para entidades
como as Confederações da Indústria e da Agricultura tomarem iniciativas para fiscalizar
e conter a grilagem e os desafios à lei, como o que aconteceu no Pará, no Dia
do Fogo, 10 de agosto. Serviu também para alertar os governos estaduais e
federal para o problema sazonal crônico da Amazônia; mas sobretudo serviu para
confirmar como real a cobiça que é a causa da tese de "soberania relativa" do
Brasil sobre a Amazônia.
No caso
do presidente Macron, o tiro saiu pela culatra. Num usual diversionismo, ele
tentou desviar de seus problemas internos com os coletes amarelos, os
imigrantes e os eleitores, para a distante Amazônia. Mas nada conseguiu no G7 e
só fez catalisar no Brasil a defesa da soberania sobre a nossa Amazônia.
Chamou-nos a atenção para as ongs que não evitam fogo, os estrangeiros que
fingem turismo, desconfiamos do dinheiro estrangeiro e suas intenções de
intrometer-se nas nossas questões e Macron sequer conseguiu fingir que defendia
seus agricultores que não têm área para expandir. Reagimos com altivez de quem
tem noção de que o futuro a nós pertence. Quanto aos pirotécnicos, só nos
ofuscaram por alguns segundos, enquanto duraram as cores de seus fogos
passageiros; na excitação da revanche, geram a autocombustão de sua
credibilidade.
Fonte: Gazeta do Povo
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