Por Percival Puggina
De
minha infância em Santana do Livramento resultaram inesquecíveis as longas
matinês dominicais do Cine Rex, em Rivera. Quatro filmes eram exibidos em
sequência e os mais ruidosamente saudados eram os de faroeste, de "bandido e
mocinho", rodados no Far West dos Estados Unidos, preferivelmente em meio às
Montanhas Rochosas. As disputas se davam entre os homens da lei, os xerifes,
que sempre venciam, e os fora da lei, os out law, que sempre perdiam.
Saía-se do cinema com a gratificante sensação de que o Bem vencera e a Justiça
fora feita. Talvez por isso me acompanhe a ideia de que Justiça e Bem devem
fusionar-se de modo indissociável.
Modernamente,
ideologias malsãs rompem esse lacre, em favor de suas próprias pautas. Cidadãos
de quem não se esperaria algo assim aplaudem corruptos, torcem pelo bandido e
condenam o xerife. Muitos protegem ovos de tartaruga, ninhos de passarinho e
exigem o aborto como direito da mulher. Outros, ainda, desdenham a inocência
das crianças. Magistrados devolvem às ruas bandidos perigosos, presos em
flagrante. A vida honesta se faz perigosa e dispendiosa, e o crime,
compensador. A ordem é destruída e a autoridade fenece em todas as esferas da
vida social. Há muito sangue nas ruas e nas páginas dos jornais. É um filme sem
sentido: mataram o xerife e foram ao cinema. Estragaram a matinê! Isso não é
coisa que se projete nem se proteja. O sucesso dos fora da lei empurrou a
candidatura de Bolsonaro e, agora, os defensores de bandidos querem a cabeça do
juiz. Filme desgraçado!
Percebo
três tipos de fora da lei. O primeiro corresponde ao numeroso contingente dos
bandidos da criminalidade rasteira. Estando ao alcance do braço da lei
esquivam-se de seus efeitos graças a uma legislação leniente, às curvas e
dobras processuais, às penas que não se cumprem, às franquias do semiaberto e a
uma parceria ideológica entre setores do Estado e a criminalidade. No segundo
grupo estão aqueles cuja conduta produz crescente indignação e repulsa social.
Refiro-me aos criminosos beneficiados pelo aconchego da prerrogativa de foro
junto ao Supremo Tribunal Federal. Esses têm a garantia da inconsequência de
seus crimes; o braço da lei os alcança, mas não os toca. A frase de Fidel Castro,
repetindo Hitler, lhes serve às avessas: o presente os absolve, só a história,
na posteridade, os condenará.
Há por fim, o terceiro grupo dos fora da lei. A expressão lhes corresponde por outra razão. Eles são a última instância, a última voz, a última caneta do mundo onde Justiça e Bem deveriam firmar compromisso. No entanto, o que temos visto é abuso desse poder, condutas muito estranhas, intervenção de ministros em processos de seu próprio interesse, blindagem contra rotineira e impessoal averiguação. Todas as denúncias formalizadas contra membros da Corte perante o Senado Federal - dezenas! - foram sepultadas nos últimos quatro anos por decisão pessoal dos presidentes Renan Calheiros, Eunício Oliveira e Davi Alcolumbre. Acho que não preciso explicar. A condição não é meritória.
Há por fim, o terceiro grupo dos fora da lei. A expressão lhes corresponde por outra razão. Eles são a última instância, a última voz, a última caneta do mundo onde Justiça e Bem deveriam firmar compromisso. No entanto, o que temos visto é abuso desse poder, condutas muito estranhas, intervenção de ministros em processos de seu próprio interesse, blindagem contra rotineira e impessoal averiguação. Todas as denúncias formalizadas contra membros da Corte perante o Senado Federal - dezenas! - foram sepultadas nos últimos quatro anos por decisão pessoal dos presidentes Renan Calheiros, Eunício Oliveira e Davi Alcolumbre. Acho que não preciso explicar. A condição não é meritória.
Alega-se,
em favor dessa omissão, que o processo de impeachment contra um ministro do STF
causaria grave problema institucional. Penso o oposto: problema institucional é
a presente situação. O devido trâmite de alguns desses processos causaria
imenso bem ao Senado, ao STF e à nação neste novo momento de sua história.
Veríamos a Justiça procurando o Bem. E vice-versa.
Percival Puggina é membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de "Crônicas Contra o Totalitarismo", "Cuba, a Tragédia da Utopia", "Pombas e Gaviões", "A Tomada do Brasil". Integrante do grupo Pensar+.
Percival Puggina é membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de "Crônicas Contra o Totalitarismo", "Cuba, a Tragédia da Utopia", "Pombas e Gaviões", "A Tomada do Brasil". Integrante do grupo Pensar+.
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