Por Percival Puggina
Passei os últimos dias envolto num sentimento
pesado e amargo. Nos ombros, o peso; na boca, o sabor da frustração. O mal
parecia onipresente na imagem da TV, nas vozes do rádio, nas páginas dos
grandes jornais. Quanta gente há no meu Brasil amado e enfermo cujo ódio
político não se envergonha de fazer mal à nação! Eles estão e são poderosos nos
meios de comunicação, nas funções de Estado e nos ambientes prestigiados e
indispensáveis dos bens da mente e do espírito.
Tudo fizeram para prejudicar o país e era muito
fácil alcançar esse objetivo. Bastava-lhes seguir o tradicional esquema
concebido na velha KGB. Tudo começa como num grito de fogo dentro do cinema.
Pode ser um isqueiro. Mas o factoide se amplifica e sobrevém o pânico. Há fogo
e fumaça na Amazônia! Há bruma em São Paulo. Quando não? Ela vem da Bolívia,
mas pouco importa, porque fumaça não precisa de passaporte. Notícias são
enviadas ao exterior. Imagens antigas são usadas. Se há algo que nunca faltou à
esquerda mundial é solidariedade militante. O PT estala o dedo e aparece meia
dúzia de jornais internacionais. São sempre as mesmas figurinhas conhecidas,
mas há quem se impressione e faz parte da estratégia, em seguida, repercutir
aqui o que repercutiu lá. Assim, o isqueiro do cinema vira assunto mundial e
forças cósmicas se unem para promover a histeria. A histeria se espalha. Você
sabe, não é mesmo? Fake news é coisas das malditas redes sociais... Tsc, tsc,
tsc.
O governo Bolsonaro, reitero aos inconformados,
está empenhado em obstar aqui o que muitos governos europeus fazem com as bases
de sua própria cultura. Daí a ira de seus inimigos internos e externos. Graças
a ela, está pronto o cenário das vontades e das animosidades para transformar o
isqueiro aceso em sessão première de uma hecatombe universal, pré-estreia do
fim do mundo. A humanidade contra o governo brasileiro. Lula está preso e o
mundo vai acabar! Boicotem o Brasil! Nem mais um quilo de guisado vindo de lá!
Convoquem-se os conselheiros da tribo mundial!
No Brasil, a turma das bandeiras vermelhas vibra. A
indústria vai quebrar, o desemprego voltar a crescer, a agricultura nacional
ficará sem mercado, as ongs empregarão novamente os companheiros, a rapina da
biopirataria receberá alvará, carimbo e isenção. Contudo, para espanto dos
extremistas locais, o Primeiro Mundo tinha prioridades que iam além das
assombrações do esquerdismo local e nacional.
Veremos, agora, qual será o próximo factoide. Ontem
foi um lindo domingo aqui em Porto Alegre. Abracei e me comovi com os bons
brasileiros que foram ao Parcão envoltos em suas bandeiras pedindo respeito das
instituições aos princípios, valores e decisões tomadas pelo eleitorado no
pleito de 2018. Eles são elevados, são nossos e persistem a despeito das
aversões que parecem suscitar nos derrotados.
Clamamos pelo fim da ditadura do Judiciário,
denunciamos o absurdo de um STF sequelado pelo mal político que acometeu o país
nas últimas décadas e onde, por consequência, nenhum dos ministros é liberal ou
conservador. São atores errados, no teatro errado, na hora errada, com papeis
errados. Exigimos a Lava Toga e o seguimento dos processos contendo acusações
aos ministros do STF; expressamos nosso apoio à Lava Jato e a Sérgio Moro,
clamamos pelo veto total ao projeto de criminaliza o abuso de autoridade. O que
foi aprovado pelo Congresso é inaproveitável, acaba com a Lava Jato e amplia a
impunidade.
Ah! A pré-estreia do fim do mundo, desejada pelos
derrotados de 2018, não aconteceu. Mas quem for a Paris, verá a pré-estreia do
fim de uma civilização. É um documentário para se ver nas ruas, dirigé par
Emmanuel Macron.
*
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Percival Puggina (74), membro da Academia
Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site
www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de "Crônicas
Contra o Totalitarismo", "Cuba, a Tragédia da Utopia", "Pombas e Gaviões", "A
Tomada do Brasil". Integrante do grupo Pensar+.
Fonte: http://www.puggina.org
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