Por Miro Palma
Apesar
das inúmeras ofertas que foram ventiladas na imprensa, a novela Neymar x PSG
ainda não encontrou seu desfecho. A poucos dias do fim da janela de transferências
do verão europeu, o que se vê é um PSG irredutível e um jogador desesperado
para mudar de clube. Há dois anos, quem ousasse imaginar que o brasileiro, cuja
contratação foi a mais cara do mundo, estaria queimado com a torcida que
prometeu conquistar e frequentando muito mais o departamento médico e o
noticiário policial do que o campo de futebol, seria considerado um louco. Ou
invejoso, como costumam repetir por aí. Mas, o fato é que o inimaginável
aconteceu.
Nessas
horas, é inevitável não fazer um paralelo entre a grande promessa brasileira,
que até hoje não vingou como esperado, e os melhores jogadores em atividade:
Messi e Cristiano Ronaldo. Se tratando de cifras, os três estão no topo da
lista de maiores salários do mundo da bola. Porém, sendo racional, a comparação
pode se encerrar por aí.
Além da
meia dezena de títulos de melhor jogador do mundo que o argentino e o português
colecionam cada um, o número de feitos coletivos também é imensamente superior
aos conquistados pelo brasileiro. A idade não conta? Claro que conta. Porém,
Messi ganhou sua primeira Liga dos Campeões, hoje uma das mais importantes
competições do esporte, com 18 anos e levou três delas em um intervalo de seis
anos. CR7 experimentou esse feito pela primeira vez aos 22, e conquistou quatro
Ligas dos Campeões em um intervalo de cinco anos. Neymar ganhou a sua
primeira e única Champions aos 22 e já se passaram seis anos que ele está na
Europa.
Que a
decisão de sair do Barcelona foi um completo equívoco nessa equação ninguém
discorda. No entanto, ultimamente tenho pensado que, além de bom senso, faltou
outra coisa para Neymar: um bom rival. Em uma entrevista recente, Cristiano
Ronaldo exaltou mais uma vez a importância da sua rivalidade com Messi para o
seu desempenho. Ele disse que o argentino o fez um melhor jogador, assim como
ele fez o mesmo para o camisa 10 do Barcelona. “As rivalidades são boas, são
saudáveis”, completou. De fato elas podem ser. Especialmente no esporte, um
concorrente que te desafia e que pode criar um estímulo a mais para suas
conquistas.
Não que
Neymar não tivesse concorrentes. Veja, a prática do esporte em si implica a
competição contra outros atletas. No entanto, ele nunca teve um rival direto.
Até a ascensão de Mbappé, Neymar era a maior “promessa” que o futebol viu nos
últimos dez anos. Ninguém lhe fazia sombra, exceto os dois melhores do mundo já
inalcançáveis. E é aí que mora a minha reflexão: reinar sozinho não fez bem ao
“menino” Ney. Se dividisse os holofotes com um rival, provavelmente, teria tido
mais gana, mais empenho e até mesmo mais equilíbrio na busca dos seus
objetivos.
Mas a
atenção veio fácil e, como todos que se acostumam com os elogios, ele estagnou.
É claro que a culpa da atual situação do craque da Seleção Brasileira, já
convocado mesmo sem ter jogado muito na última temporada, é dele e de ninguém
mais. Não me entendam mal. Só que um bom rival como os já tão citados Messi e
CR7, ou mesmo Ayrton Senna e Alain Prost, Muhammad Ali e Joe Frazier, Federer e
Nadal entre tantos outros exemplos, teria lhe feito muito bem.
Miro
Palma é subeditor de Esporte do "Correio"
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