Por Miguel Lucena
O filme Baseado em fatos raciais, em
exibição na Netflix, sustenta que o combate à maconha e à heroína, nos Estados
Unidos, tem um viés racista. Dessa forma, o Estado conteria os negros,
aprisionando-os por longos períodos.
Argumenta que a maconha é histórica e culturalmente
ligada aos negros, tendo a droga contribuído para alargar a mente de grandes
artistas do jazz, como Miles Davis, John Coltrane e Billy Holliday, e
propiciar-lhes inspiração.
Ao centrar fogo no combate à venda e ao porte de
maconha, o governo impediria que moças brancas se misturassem aos jovens negros
e mexicanos para fazer dos EUA uma nação mestiça.
É muita viagem, viu?
Resta saber quem foi que o governo quis atingir
combatendo drogas como a cocaína, que em certa época era de uso restrito a
determinados segmentos endinheirados.
O mesmo argumento é usado para condenar as prisões
por crimes contra o patrimônio, incluindo o latrocínio, sob a justificativa de
que são delitos praticados por negros e pobres.
Como o Estado é ineficiente para combater a
corrupção, o delito típico dos poderosos ficaria impune, o que começou a ser
desmentido no Brasil após a bem-sucedida Operação Lava Jato.
É evidente que é mais fácil prender quem está
cometendo delitos à vista de todos, como o vendedor de drogas que fica na
esquina e o ladrão que assalta passageiros em um ônibus ou num estabelecimento
comercial. Não faltam gente para reconhecer e vestígios para levarem até o
autor do fato.
Não é pelo fato de o delinquente ser negro ou
pobre, mas porque os mais necessitados que enveredam pelo mundo do crime não
têm acesso aos métodos sofisticados de afanar os recursos públicos e ficam
expostos à ação do aparelho repressor do Estado.
Os confrontos bélicos com a Polícia também se dão
nesse contexto e, por isso, os bandidos comuns acabam, mais uma vez, ficando na
mira direta das forças de segurança, o que não acontece com quem pratica crimes
por baixo dos panos.
Essas são as razões, o resto é discurso ideológico
ou viagens enfumaçadas.
Miguel Lucena é delegado de
Polícia do Distrito Federal, jornalista e escritor
Fonte: "Diário do Poder"
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