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quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

76 anos sem Aloísio Resende

Aloisio Resende, na "Folha do Norte", 10 de janeiro de 1948
Foto: Reprodução



O exímio poeta que a terra esqueceu!

Poema de Helena Conserva

Feirense humilde, poeta genial!
Teu nome é alvo de glória à terra amada,
Tens confrades, irmãos do mesmo ideal,
Enaltecem tua poética jornada.
Os teus poemas fizeram-te imortal.
Bendita a tua musa iluminada,
Ante o fulgor do teu estro original,
Que honra a presente e a geração passada.
A poesia é bela e alenta o coração.
O vaidoso por si, não compreende,
Que o poeta ilustra e eleva uma nação.
A homenagem de afeto e de louvores,
Ao vate insigne, Aloisio Resende,
Troféu condigno aos vultos de valores.


Nesta quinta-feira, 12, data que lembra os 76 anos de morte do jornalista, poeta e boêmio Aloísio Resende (26.10.1900-12.01.1941). Sua contribuição para a literatura foi grande e tem sido tema de publicações acadêmicas, dissertações e livros. Por exemplo, seus poemas, dispersos em edições do jornal "Folha do Norte" da década de 40, estão reunidos no livro "Aloísio Resende, Dossiê e Análise Crítica", organizado pela professora Ana Angélica Vergne de Moraes, com a participação da professora Helena Conserva. (Blog "Meus Livros e Artigos Publicados"), de onde o Blog Demais extraiu o que se segue:
1. Quando o bloco "Bacalhau na Vara", ainda existente, desfilou pela primeira vez, na Micareta de 1938, a segunda de Feira de Santana, também a atuação de Aloísio Resende na produção de marchinhas para os blocos "As Melindrosas", "Garotas em Folia", "Os Duvidosos" e "Amantes do Sol”. Essa produção está reunida no trabalho de Helder Alencar "31 Anos de Micareta".
2. A vocação para o jornalismo foi despertada muito cedo em Aloísio Resende. Isso fez com que ele viajasse pelo Nordeste trabalhando em jornais de Maceió-AL, São Luiz-MA, Recife-PE, além de Alagoinhas e Salvador, na Bahia, na redação do jornal "A Hora".
3. Em Salvador, reunia-se na praça da República com amigos poetas, a exemplo de Eupídio Bastos, Bráulio de Almeida, Alves Ribeiro, Ângelo da Costa e Nonato Marques que integravam o grupo chamado "Poetas da Baixinha", que difundia a sua poesia. Tratavam da "genialidade de um poeta baiano de Feira de Santana".
4. Quando entravam em contato com a obra ou com o autor, todos justificavam o entusiasmo que correspondia à expectativa. "Eera de fato impressionante a personalidade do poeta, o vigor de sua imaginação, a ousadia de suas criação e o apuro da forma artística dos seus versos", escreviam.
5. Aloísio Resende voltou à Feira de Santana e foi trabalhar na redação da "Folha do Norte", primeiro como revisor, conquistando a amizade de Arnold Silva, o proprietário do jornal, que o admirava por sua "genialidade criadora".
6. "Possuidor de um notório senso crítico primava pela perfeição e não entregava à publicação sem que antes tivesse retocado infinitas vezes, refazendo estrofes ou parágrafos inteiros. Versos alexandrinos, métricas perfeitas, rimas bem elaboradas no estilo parnasiano. Seu talento sobressaltava das páginas daquele jornal e passeava pelas ruas, de boca em boca. Apesar de não ter terminado os estudos, era uma inteligência fora do comum. De contra-partida, gostava de polemicas. Era satírico. Procurava erros de português nas produções para suscitar debates e criticas, atraindo inimizades.
7. Aloísio passou a descuidar da sua aparência, relapso no falar de antes, burilado. Encontrava-se sempre em rodas de conversas e polêmicas. Ganhou o apelido de "Zinho Faula". Era um viciado. Perambulava pelos subúrbios, corrompeu aos ideais, a linguagem, os costumes. Varava as noites nos bares, em terreiro, nos prostíbulos em farras. Madrugadas intermináveis. Escrevia poesia nas mesas dos bares e muitos, aproveitando a ocasião, roubava e publicava negando a autoria".
8. Albérico Benevides esteve em Feira no final de 1940 e lamentou o encontro com Aloísio. "Já não era mais o mesmo", escreveu, "senti que morria o embrião de um gigante. Uma força estranha, maior que ele, levava-o a fazer tudo, justamente ao contraria do que planejava".
9. Com a saúde debilitada pela tuberculose, ele morreu em 12 de janeiro de 1941, às sete horas, num dia de domingo. Seu médico foi Honorato Bonfim. O corpo foi recomendado na Igreja da Matriz (hoje, Catedral Metropolitana de Santana) e sepultado no Cemitério Piedade, às 16h30. À beira do túmulo foram proferidas palavras por Manoel da Costa Ferreira e Antônio Garcia.
Fogueira de São João
Aloísio Resende
Em frente à casa branca e simples da fazenda,
Arde, de manso, em festa, a fogueira bizarra.
Quer foguete ou balão sobre os montes ascenda,
Tiram moças a sorte. A viola zanguizarra
Num recanto da sala e chula a chula, emenda.
Rodam pares febris. Trescala a flor na jarra,
Tentam seios romper dos casacos a renda.
Ferindo o ar, um rojão raivoso ruge e estoira,
Rouco ressoa após, de quebrada em quebrada.
Mal desponta da aurora a luz bondosa e loira,
No terreiro deserto, onde, a cismar, me vejo,
Contemplando a fogueira, aos restos, apagada,
Fito as cinzas, talvez, do meu próprio desejo!
(Publicado na "Folha do Norte", em 8 de julho de 1939, n.º 1.565:1)

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