Por Percival Puggina
(Transcrevo
resposta a uma mensagem que recebi de leitora (1) com críticas ao meu
anterior artigo sobre reações feministas à matéria em que a revista
Veja ocupou-se da esposa do vice-presidente da República.)
Prezada
senhora. Agradeço sua mensagem. Devo dizer que o artigo que
escrevi sobre o assunto foi curtido por quase 500 pessoas. Quarenta e
oito por cento, mulheres. Portanto, a leitura que a senhora faz dos
fatos não é mais do que uma opinião em torno da qual há divergências
substanciais.
Detalho um
pouco mais, aqui, meu entendimento. A matéria da Veja é irrelevante, de
interesse apenas para quem tem curiosidade sobre a vida das
celebridades. Não me parece que, ao finalizar dizendo que Temer é um
homem de sorte, a revista ou a jornalista Juliana Linhares estejam
sinalizando o estilo de vida que dona Marcela escolheu como algo a ser
afirmado como padrão. Até porque, sendo a autora jornalista da Veja,
estaria, ela mesma, se excluindo do suposto padrão que a senhora e
outros quiseram encontrar nas entrelinhas de seu texto.
Quanto ao
mais, o estilo de vida que dona Marcela escolheu para si é algo que diz
respeito a ela e à família dela. Fazê-la objeto de uma saraivada de
críticas como percebi, consultando posts aqui e ali (e foram ignoradas
no seu comentário), é uma coisa sem sentido que me parece não encontrar
de parte dela conduta correspondente. Muitas feministas querem o
direito de viver como bem entendem e se escandalizam com a vida que
Marcela escolheu... Paradoxo! E esse paradoxo foi um dos pontos que
sublinhei em meu artigo.
Por outro
lado, quando feministas criam movimentos e promovem ações públicas,
sujeitam-se ao crivo da opinião alheia. Ações externas, manifestações
de rua, conteúdos publicados nas redes sociais, perdem o caráter
privado e íntimo que impediria outras pessoas de expressar suas
próprias compreensões sobre tais pautas. Foi no uso desse direito que
escrevi o artigo que a desagradou. E seu desagrado é tão legítimo
quanto a discordância que expressei. Sem pretender uma erudição que não
tenho, cito a conhecida frase de Terêncio: "Nada humano me é
estranho". Um dos equívocos do feminismo é esse que a senhora
comete quando pretende que apenas as mulheres possam opinar sobre
questões femininas.
O mal-estar
causado pela matéria da Veja só pode ter três motivos: 1) má
interpretação do sentido geral texto, algo que uma releitura talvez
retifique; 2) rejeição política à revista e ao marido da senhora em
questão; e 3) teimosa recusa à obviedade expressa na frase final da
matéria: "Temer é um homem de sorte". Ora, negar isso é negar
uma evidência. Temer é um homem de sorte, sim senhora. Quem dirá que
não, sem avançar em devaneios despidos de comprovação sobre a vida
íntima do casal?
Quem escreve
se vale do que aprendeu e eu aprendi, vendo e lendo, que há um projeto
em curso no Ocidente, atacando, por todos os flancos, os valores da
civilização. O projeto revolucionário ganhou multiplicidade de formas e
se concentrou em atacar a resistência cultural que o Cristianismo lhe
opunha. Entre incontáveis manifestações desse fenômeno sociológico e
político contemporâneo, sublinho: os ataques frontais ao Cristianismo e
à instituição familiar, a vulgarização da sexualidade, o tipo de ensino
ideologizado que é levado aos jovens, a manipulação da história, as
políticas de gênero e excessos da agenda gay, a supressão dos símbolos
religiosos em espaços públicos, aberrações como a promovida para
afrontar a Jornada Mundial da Juventude e a levada a efeito por alunas
do ICH da UFPel em outubro passado, a vulgarização do uso de drogas, o
desrespeito à propriedade privada, as rupturas da ordem e o emprego da
violência em atos públicos, a tolerância para com a criminalidade, e,
claro, os excessos do feminismo que, de um salto, vai da justa defesa
da igualdade para o total desvario das condutas.
Tudo isso
serve a um mesmo objetivo - fragilizar os valores cristãos, apagar a sã
filosofia, criar um novo Direito para um projeto social e político
revolucionário que, sem exceção, fracassou em todas as suas
experiências históricas. Não estou vendo fantasmas. Simplesmente estou
vendo.
Assim, se a
senhora encontra nos seus círculos de relações dissensos em relação às
posições que defendo, nada há de surpreendente: essas pautas são,
mesmo, controversas. No entanto, como afirmei acima, eu sei que há,
entre todas, um traço comum. Há o ataque e há a defesa de valores que
muito prezo, para o bem de meus filhos, sobrinhos e netos. Como a
senhora bem diz, é perfeitamente possível ser isso e não ser aquilo. A
provocação que fiz na parte final do meu artigo, mencionando o
impeachment, teve um objetivo para mim importante: eu quis lembrar o
conjunto da obra a ser protegida. Muitas vezes, as pessoas não se dão
conta de que ao perderem de vista o conjunto servem muito bem a quem
tem péssimas intenções sobre o todo, vale dizer, a quem tem intenções
totalitárias. E o mal que apontei nesta carta infiltra-se e se serve de
todas essas pautas.
Cordialmente
Percival Puggina
(1) Bom dia! lamento muito que sua visão de mundo seja ou isso
ou aquilo. Informo que tem muitos aquilos e muitos issos. Escrevo sobre
sua coluna a respeito da bela, recatada e do lar.... São tantas as
mulheres, tantas as trabalhadoras, tantas as provedoras. Qual o
interesse da Veja em retratar essa senhora com esses adjetivos?
Provavelmente essa senhora tem inúmeras outras qualidades também....
Por que reforçar esses? Você fala na condição de homem. Deixe falar
quem sabe do que está falando. Deixe as mulheres falarem. Se feminista
ou não, é a nossa opção. Politicamente, temos direito de nos
posicionar. Se sim ou não ao impechment, se sim ou não a considerá-lo
golpe. Não empacote as pessoas, nem as mulheres. As pessoas não pensam
por blocos. Há muitas nuances. A moça tem o direito de ser como
quiser... assim como todas as mulheres.... o problema está em empacotar,
rotular, enaltecer algumas qualidades..... qual o interesse.... Se você
se ofende com a reação da mulheres, é porque é homem. Só uma mulher
sabe o que vive, o que sofre e o que precisa enfrentar diariamente.
Fonte: "Mídia Sem Máscara"
Nenhum comentário:
Postar um comentário