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terça-feira, 19 de abril de 2016

"Michel Temer: amplos fatores favoráveis"

Por Cesar Maia
Sua posse como presidente será um enorme alívio nas relações internacionais. Nos Estados Unidos e União Europeia há uma sensação além de alívio e até de euforia. Na Argentina e na Colômbia idem. A escolha certa do ministro de Relações Internacionais, por Temer, completará esse quadro. Chefes de estado e de governo europeus devem ter acompanhado a votação e comemorado.
Com um período curto de governo - iniciado sob o manto do curtíssimo prazo - Temer não seria ingênuo de publicar um plano de governo. Seria o pretexto para ser cobrado aqui e acolá. Tende a apresentar umas 3 ou 4 medidas de impacto nas áreas fiscal, previdenciária e federativa, lastreadas numa política externa aberta (o abraço em Macri será para valer). A euforia trará um forte fluxo de capitais para obter ganhos futuros de um ciclo positivo.
Temer foi deputado federal seis vezes, presidente da Câmara duas vezes, e secretário estadual de Segurança Pública em São Paulo. E vice-presidente duas vezes. Como jurista, não precisa de detalhes para despachar decretos. Terá uma relação fluída com o Poder Judiciário, fundamental agora. Dilma nunca havia sido sequer vereadora. Não sabia - e não sabe nada - da arte da política. Como ministra e como presidente aprofundou esse desentendimento, por arrogância e autoritarismo.
Pelo fato de ter sido secretário de segurança pública do Estado de São Paulo, coisa que de Getúlio à Dilma nenhum presidente foi e nenhum viveu essa experiência, abrirá um campo de diálogo em matéria crítica para os Estados nesse momento. E para as Olimpíadas. Saberá se assessorar. Dilma viveu como presidente um trauma permanente por ter sido presa política e uma enorme dificuldade de dialogar com policiais e militares. De longe, e de perto, lembrava esse trauma.
As articulações políticas desenvolvidas por Temer como vice-presidente e aprofundadas na crise política que se seguiu à eleição de 2014 construíram relações de confiança e impediram quaisquer dependências partidárias. Isso será fundamental agora. Dilma vivia a esquizofrenia das relações com o PT.
Temer não terá superego político e econômico. O PSDB enfraqueceu-se na crise política, terá que dialogar horizontalmente como os demais, sem barões e cardeais. Excluindo PMDB, o bloco de três partidos médios-grandes com o qual Temer vem trabalhando têm mais que o dobro da bancada do PSDB. E todos têm quadros técnicos ou contatos extraparlamentares para qualquer função.
Os Jogos Olímpicos, que começam em pouco mais de três meses, vinham sofrendo desgaste contínuo com as reações figadais de Dilma. Aberta ou reservadamente, mostrava sua antipatia com o presidente do COB/CO-2016. Nos dias que antecederam a votação do Impeachment, autoridades olímpicas mostravam seu desconforto com Dilma. O futebol brasileiro - em destaque a CBF - era tratado de forma generalizada por Dilma, como uma máfia. Trauma das vaias da Copa do Mundo de 2014. As relações serão recompostas. Temer voltará a recebê-los.
A força de pressão da tradicional "sociedade civil organizada" não é a mesma hoje, no mundo todo e ainda mais no Brasil. As ruas têm mostrado isso no Brasil todo, há 4 anos. No Brasil - ao contrário do que tem ocorrido em outros países- as redes sociais impulsionando as ruas reais e virtuais, não têm inspiração populista. Não têm interlocução partidária preferencial. Aqui, hoje, são redes sociais livres, não manipuladas (desierarquizadas, horizontais e de agregação individual). E as redes sociais têm consciência que foram parte fundamental da mobilização de opinião e da vitória. Temer terá uma carência de pelo menos 9 meses por parte delas. Se estão na origem do impeachment, é natural e humano que queiram que as coisas caminhem bem: são parte da vitória.

Fonte: "Ex-Blog do Cesar Maia"

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