Por Reinaldo Azevedo
Se a presidente Dilma Rousseff não sabe, informo. O clima é de
desembarque. Não importa para onde se olhe. Recente nota-manifesto assinada
pela Fiesp e pela Firjan traduziu o que anda pensando o empresariado.
Lideranças de outros setores da economia já buscam interlocuções de olho no
pós-impeachment. Se a situação já era muito difícil antes de a Standard &
Poor’s pôr o guizo no pescoço do gato, piorou bastante agora. Ninguém vê saída
para a presidente - e isso inclui os petistas.
Não sei se notam, mas o próprio Lula começa a buscar um lugarzinho
no pós-Dilma. É ele, não outro, quem está por trás de uma tal Frente Brasil
Popular, que busca resistir ao governo pela esquerda.
Por enquanto, somos governados pela paralisia. O Planalto ainda
não fez anúncio de corte nenhum nem deixou claro quem pretende tungar para
aumentar a receita. Seus cinco milhões de coordenadores políticos anunciaram
para esta sexta um esboço ao menos de resposta para a crise terminal, mas não
veio nada. Estamos falando de uma gente que se especializou em dar tiro no
próprio pé. Em vez disso, o dia foi tomado pela negativa enfática de que
Aloizio Mercadante vá deixar a Casa Civil, embora Dilma busque alguém para a…
Casa Civil.
Conforme o esperado, conforme o sabido, conforme o óbvio, o PT não
quer entregar a pasta. Ficará feliz se ela sair das mãos de Mercadante, que é,
primeiro, mercadantista e, secundariamente, petista. O partido insiste em
manter o ministério que, em tese, ao menos, faz a coordenação geral do governo.
Estamos diante de uma natureza. Ainda que sob o risco de perder tudo, a legenda
não aceita abrir mão de um pedaço. E, assim, Dilma vai caminhando para o
abismo.
Não sei se há tempo, a esta altura, de fazer alguma coisa. A
presidente conta em seus quadros com políticos com mais trânsito do que as
pastas às quais estão confinados. Há Gilberto Kassab (Cidades), do PSD, um bom
articulador. O problema, nesse caso, são as resistências que enfrentaria em
alas do PMDB.
Há Kátia Abreu (Agricultura), peemedebista ainda recente, é
verdade, mas com abrangência suprapartidária em razão de ser também uma
liderança do único setor da economia que não está no vermelho - o agronegócio.
Até Aldo Rebelo (Ciência e Tecnologia), do PCdoB, seria uma alternativa para
tentar ampliar o diálogo. E, quando escrevo, "até", refiro-me ao fato de que
seu partido é pequeno. Sua interlocução no Congresso, no entanto, é bem maior.
Afinal, já presidiu a Câmara.
Mas não tem jeito. O PT insiste em ter o controle da máquina -
máquina sabidamente desgovernada, que atira para todo lado. O petista Jaques
Wagner (Defesa), em razão de sua fala fácil, aparecia como cotado para a
função, mas se desmoralizou com o episódio do decreto que tentou destituir os
comandantes militares de atribuições… militares! A porcaria foi redigida por
sua secretária-executiva sem que ele soubesse. A tal continua no cargo. Não me
parece que isso o credencie para a Casa Civil.
O governo chegou a emitir nesta sexta uma nota negando que Mercadante
vá deixar o cargo, destacando, adicionalmente, seus relevantes serviços ao
governo. Soou como piada nos meios políticos porque se sabe que não há serviço
relevante nenhum.
Encerro com um trecho da minha coluna de ontem na Folha:
"Algum entendimento terá de ser feito para convencer a sociedade de sacrifícios adicionais, além daqueles que já estão em curso. Ou é isso, ou vem por aí uma espiral negativa de longuíssima duração. E a arena desse pensamento não é o Ministério da Fazenda. A Joaquim Levy, ou a outro, entregar-se-á uma máquina de calcular números. A realidade exige alguém que seja bom no cálculo político.
"Algum entendimento terá de ser feito para convencer a sociedade de sacrifícios adicionais, além daqueles que já estão em curso. Ou é isso, ou vem por aí uma espiral negativa de longuíssima duração. E a arena desse pensamento não é o Ministério da Fazenda. A Joaquim Levy, ou a outro, entregar-se-á uma máquina de calcular números. A realidade exige alguém que seja bom no cálculo político.
Ocorre que isso não se faz sem uma relação de confiança, que não
existe mais. É preciso saber identificar o momento em que todos os bares se fecham
e as virtudes se negam. Tá bom, presidente! Eu a deixo com o seu Riobaldo. Mas
com um outro - aquele que cobra da senhora é coragem."
Fonte: "Blog
Reinaldo Azevedo"
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