Por Reinaldo Azevedo
Brinco
que Lula é uma espécie de morto-vivo da política, um zumbi. No programa "Os
Pingos nos Is", que comando na Jovem Pan, a cada vez que cito seu nome, toco a
música tema de "Walking Dead". Acho a metáfora perfeita. Sustento que ele já
está morto para a política, mas ainda não lhe passaram o recado. Por essa
razão, fica perturbando o mundo dos vivos. De qualquer um e de qualquer lugar.
É
Lula quem está por trás de uma articulação de movimentos e parlamentares de
esquerda para tentar impedir o governo Dilma de efetuar os cortes no Orçamento.
Aliás, ele já se manifestou publicamente contra as medidas.
Em
proselitismo recente na Argentina e no Peru, voltou a condenar os cortes de
despesa e as medidas necessárias de contenção de crédito. Ou por outra: ele se opõe
àquela que é a única - e não uma entre muitas - chance que Dilma tem de
concluir o mandato. Eu, por exemplo, já acho que não dá mais tempo. Mas ainda
há quem pense o contrário.
Ou
por outra: Lula concorre, queira ou não, para desestabilizar a presidente.
Ao
mesmo tempo, ficamos sabendo que ele está empenhado em tentar impedir que o
PMDB adote de vez e mais às claras uma posição favorável ao impeachment. Assim,
informa-se, o ex-presidente estaria procurando costurar com Michel Temer uma
reaproximação entre o PMDB e o PT.
Como
se faz isso, ao mesmo tempo em que se combatem as medidas de austeridade? Não
tem sentido lógico. É que Lula e o PT só sabem ser governo com vacas gordas e
se podem ter o estado nas mãos pra distribuir prebendas. Se não é assim, falam
uma linguagem de oposição. Ora, para que a reaproximação que ele está buscando
seja viável, e dado que fala abertamente contra o ajuste fiscal e incentiva as
correntes ideológicas que pregam que é preciso começar a tirar mais dos ricos,
forçoso seria que o PMDB se engajasse nessa agenda, o que não parece que vá
acontecer.
Essa
movimentação buliçosa de Lula, por outro lado, arranha a autoridade de Dilma,
deixa claro que ela tem uma influência muito reduzida sobre o PT, sugere que os
setores do governo entregues ao partido não seguem o seu comando e ainda acenam
com o risco da volta do fanfarrão - ainda que a população dê mostras crescentes
de que o antes imbatível seria fragorosamente derrotado caso se lançasse na
aventura.
Mais:
a presença permanente de Lula no debate, comportando-se ainda como dono da
bola, serve de liga a juntar movimentos críticos ao governo, ainda que
possam não ter assim tanta identidade.
A
popularidade alcançada pelo boneco "Pixuleco" evidencia bem o que amplas
camadas da população brasileira pensam do ex-presidente e onde o querem. Mas
ele, obviamente, não se dá por vencido e insiste em circular como um fantasma
onipresente no processo político. A cada vez que sai pontificando sobre isso e
aquilo, milhões de brasileiros se perguntam como pode o PT ter sido
protagonista de dois grandes escândalos, mas com seu poderoso chefão a salvo de
qualquer investigação.
O
que, afinal de contas, quer Lula? A esta altura, ninguém sabe, nem ele próprio.
Ele só queria não ter de se comprometer com as "medidas amargas" de Dilma,
mandar o petismo para a oposição, manter a presidente no palácio e conservar a
máquina trilionária que garante o poder a seu partido.
Lula
quer a quadratura imoral do círculo para ver se consegue ainda se candidatar em
2018. Os mortos-vivos, nos filmes, podem reparar, sempre querem coisas
impossíveis.
Fonte: "Blog Reinaldo Azevedo"
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