Por
Reinaldo Azevedo
É incrível que o governo tenha feito só agora o que deveria ter
feito antes, não é? Essa história de que a Standard & Poor's acabou
colaborando com um ajuste que, de outra sorte, não seria feito é só uma
variação do "quanto pior, melhor". Um governo que tivesse articulação política
teria proposto antes essas mesmas medidas - ainda que não seja tão fácil implementá-las.
O pacote tem lá as suas durezas, mas notem que muito pouco do que
se pretende economizar sai do corte efetivo do custeio da máquina: apenas R$
200 milhões. Para um estado pantagruélico, é muito pouco.
De toda sorte, a crise tende a dar uma esfriada. E por quê? Apenas
porque o governo decidiu comparecer com uma proposta, saindo daquele estado de
apatetamento inercial. "Algo está sendo feito; algo está sendo tentado…" Assim,
alguns agentes políticos vão tirar um pouco o pé do acelerador do "fora Dilma".
Se voltarão a pisar com mais firmeza de novo, bem, aí depende de como vão
reagir os agentes econômicos e a população.
A sociedade é que vai pagar a conta, sim. A economia será feita
também com cortes em programas sociais, e parte da receita que se busca saíra
da recriação da CPMF - se é que o Congresso condescenderá com o imposto, que
Joaquim Levy chama de "transitório", para a crença de ninguém.
Se querem saber o quanto isso foi devidamente pensado, basta
verificar que, quando lançou o balão de ensaio da recriação do imposto, o
petista Arthur Chioro (ministro da Saúde) saiu a bradar que era dinheiro para a
Saúde. O governo, por sua vez, dizia que era para fazer caixa mesmo, e, agora,
anuncia-se, será para a Previdência.
É claro que o pacote não vai colaborar para aumentar o prestígio
da presidente Dilma. Elevação de impostos é sempre desgastante, não?,
especialmente porque ela vem num momento em que a população tem a sensação, que
não está tão distante da realidade, de que ela se esforça para que alguns
poucos espertalhões se locupletem. Mas qual alternativa?
Um pouco de honestidade intelectual e transparência talvez fosse
útil ao governo. Mas Dilma não é do tipo que reconhece facilmente o erro. No
nono mês de seu segundo mandato, é obrigada a admitir, na prática, que caminhou
muito errado nos últimos quatro anos.
O conjunto das medidas pode até esfriar um pouco o clima
anti-Dilma no Congresso e no mercado, mas certamente aumentará a animosidade
das ruas com o governo.
Dilma tentará a todo custo dividir com o Congresso o peso das
medidas impopulares. Até onde os senhores parlamentares estão dispostos a
condescender? A petista poderia, ao menos, ter a humildde de ir a público
explicar que está sendo obrigada a se desmentir e que não vai cumprir o que
anunciou na campanha. Mas não creio que o fará.
Vamos ver qual será a reação, na prática, do PT e das esquerdas. O
pacote não contempla algumas sugestões dos companheiros, que queriam brincar de
comer o fígado dos ricos para satisfazer a suposta necessidade de sangue dos
mais pobres - que não existe e é uma invenção de intelectuais de meia pataca.
Com o pacote, a presidente chancela o estelionato eleitoral e
espera contar com a boa vontade dos enganados para chegar até o fim do mandato.
Fonte: "Blog Reinaldo Azevedo"
Fonte: "Blog Reinaldo Azevedo"
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