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sexta-feira, 3 de agosto de 2007

Repórteres Sem Fronteiras critica resolução do PT contra imprensa

A organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF) qualificou, na quinta-feira, 2, de "inoportuna e infundada" a resolução do PT contra os meios de comunicação críticos ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Em carta enviada à Lula, a organização se mostrou indignada com as conseqüências da resolução, que "só pode alimentar o rancor", e pediu sua revogação. A resolução foi adotada pela executiva nacional do PT no último dia 31, e convoca os militantes e governantes do partido a "enfrentar a nova ofensiva da direita, articulada com setores da mídia contra o partido e o governo".
A RSF reconhece que os meios de comunicação privados não pouparam críticas contra Lula desde sua chegada ao poder, mas afirma que sua relação com o governo "evoluiu favoravelmente com o tempo". E lembra o episódio da compra do dossiê durante a campanha de Lula à reeleição que suscitou as mesmas críticas de petistas à mídia. O objetivo do documento era prejudicar a candidatura de tucanos.
A organização indicou ainda que a mídia também fez duras críticas aos políticos de oposição citados em casos de corrupção.
Íntegra da carta enviada a Lula:
Uma decisão infeliz do partido do governo fustiga a mídia privada: Repórteres sem Fronteiras faz apelo ao presidente Lula e ao presidente do PT
Exmºs. Srs.
Luís Inácio Lula da Silva, presidente da República Federativa do Brasil, e Ricardo Berzoini, presidente do Partido dos Trabalhadores.
Repórteres sem Fronteiras manifesta sua preocupação sobre as conseqüências da decisão adotada no dia 31 de julho pela Comissão Executiva Nacional do Partido dos Trabalhadores (PT), convocando detentores de mandatos públicos à mobilização contra uma "grande ofensiva da direita aliada a certos setores da mídia contra o PT e o governo do presidente Lula", fundador do partido.
Gléber Naine, responsável pela comunicação do PT, destacou o canal de televisão privado TV Globo e os diários Correio Braziliense, O Estado de S. Paulo, O Globo e Folha de S. Paulo como veículos que "nunca fizeram antes oposição a um governo como o fazem agora".
Esta decisão nos parece inoportuna e sem fundamento. De um lado, se é verdade que a mídia privada do país não poupou críticas ao presidente Lula e seu governo quando de sua chegada ao poder, a relação entre o governo federal e a imprensa evoluiu de forma favorável desde então. Por outro lado, os veículos citados não deixaram de criticar representantes dos partidos de oposição citados em casos de corrupção, abuso de poder e fraude.
É nosso dever lembrar, contudo, que a revelação, às vésperas das eleições de outubro de 2006, de um escândalo envolvendo membros do PT - que tentaram comprar um falso dossiê contendo acusações contra candidatos de oposição - provocou a reação de militantes do partido contra a imprensa. Na ocasião, os demais partidos representados no Congresso que tomaram parte nessas manifestações também tiveram parte na responsabilidade pelas agressões dirigidas contra a mídia, para as quais não servem de justificativa as alianças políticas vigentes.
A resolução que o PT acaba de aprovar ocorre poucos dias após a ampla cobertura pela mídia das manifestações que se seguiram após a catástrofe aérea no aeroporto de Congonhas, em São Paulo, no dia 17 de julho, e as vaias dirigidas ao presidente Lula por ocasião da abertura dos Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro. Tais manifestações devem ser vistas como uma crítica sistemática às autoridades de Brasília? Deveria a imprensa se calar diante desses eventos, deixando-os passar de forma despercebida? É possível responsabilizar a mídia pela insatisfação provocada pela emoção coletiva decorrente da tragédia de Congonhas?
Repórteres Sem Fronteiras vem por meio desta chamar as autoridades de governo ao bom senso. A decisão do PT não nos parece em acordo com um partido democrático. Ela não pode senão alimentar o rancor, e deve ser reconsiderada.
À espera de que nossas considerações sejam ouvidas, queira, Exmº Sr. presidente, receber os nossos votos da mais alta estima e consideração.
Robert Ménard
Secretário Geral

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