"Carta ao Leitor", na revista "Veja", que circula a partir deste domingo, 12:
Na semana passada, VEJA revelou que o senador Renan Calheiros, além de ter usado os serviços de um lobista para pagar suas despesas pessoais e de ter favorecido uma cervejaria às voltas com problemas fiscais, é o dono oculto de uma empresa de comunicações em Alagoas, pela qual pagou em dinheiro vivo, não declarado. Em vez de apresentar uma explicação para o fato, o que fez o senador? Recorreu ao velho artifício de muitos poderosos pegos com a boca na botija: atacou o mensageiro, acusando o Grupo Abril, que publica VEJA, de realizar uma associação ilegal de sua operadora de TV por assinatura, a TVA, com o Grupo Telefônica. A acusação leviana é fruto do desespero de Renan Calheiros, que pode ser apeado da presidência do Senado e ter seu mandato cassado por falta de decoro. O Grupo Abril reitera que a parceria em questão está rigorosamente dentro da lei e já foi aprovada pelo Conselho Diretor da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), após nove meses de tramitação e análise.
VEJA se tornou a maior e a mais respeitada revista semanal do país porque desde 1968, quando foi lançada, sempre informou corretamente seus leitores. Ao longo de quase quarenta anos, VEJA dedica tempo, recursos e coragem para desmascarar aqueles que abusam do poder conferido pelos eleitores com o objetivo de enriquecer ilicitamente ou obter vantagens que colidem com a lei. É fundamental ressaltar que, ao seguir nesse caminho, VEJA não extrapola seu papel. Quem julga, absolve ou condena os denunciados em reportagens da revista são as autoridades. No caso de Renan Calheiros, a tarefa está a cargo do Conselho de Ética do Senado, da Procuradoria-Geral da República e do Supremo Tribunal Federal. É sobre os olhos de seus integrantes que o senador quer lançar uma cortina de fumaça na tentativa de encobrir seus desvios de conduta. Diante dos numerosos e fortes indícios existentes contra o senador, essas instâncias não demoraram a abrir investigações. É a elas e ao país que Renan deve explicações.
2 comentários:
O REVOLUCIONÁRIO
10/08/2007 00:00 /
Samuel Celestino
http://www.samuelcelestino.com.br/
Publicada no Jornal "A Tarde" em 24 de dezembro de 1979
Em 1967, Almir era o revolucionário da Faculdade de Direito. Levantava o braço direito, punho fechado, e dizia ter chegado o momento de a burguesia saldar sua dívida com a causa proletária. Falava com muita ênfase, balançava a cabeça de sorte que o cabelo cobrisse a visão. Era o momento maior. Vagarosamente, levava a mão à testa, fazia novo movimento brusco com a cabeça e repunha o cabelo exatamente no lugar. Olhava a platéia sem se deter especialmente em ninguém, guardava um instante de silêncio com o rosto tenso e grave e apunhalava com voz metálica:
- Saiamos às ruas! Façamos justiça por quem não pode fazê-la! Nós somos o povo, o povo esclarecido que a burguesia não conseguiu impedir que chegasse à universidade. Seremos doutores, é verdade, mas às custas do sacrifício dos nossos pais que se realizam em nós, em nossa inteligência. Em nenhum momento devemos esquecer que somos povo e que, em qualquer circunstância, povo seremos! Daí porque não podemos fraquejar ou nos deixar embevecer pelas migalhas que nos oferecem!
Fazia novo silêncio, passeava com os olhos sobre a sala, fixava repentinamente um dos presentes e voltava à carga apontando, dedo em riste, cabelo novamente sobre a testa:
- Você! Sim, você! Que faz nesta faculdade dita egrégia? Veio aprender Direito, mas que Direito é este que só defende os direitos da burguesia que pode pagar elevados honorários advocatícios? Levante-se colega! Olhe para seu povo e veja como ele sofre! Estamos aqui para dar a resposta e a resposta só pode ser uma: não!
Quando Almir acabava de falar era o delírio, a platéia estava satisfeita pelo teatro, pelo show do revolucionário intransigente que fora à faculdade aprender Direito para defender o povo. E Almir recebia as palmas deixando o cabelo cair sobre a testa, cabeça inclinada para baixo, a mão direita sobre o peito esquerdo. Depois, retirava-se da sala e ia jogar dominó, perguntando a todos se estivera bem, se compreenderam sua mensagem. Fisicamente não era feio. Tipo nordestino, de cabelos negros escorridos e óculos pesados caindo sobre o nariz.
Costumava cumprimentar os colegas chamando-os “machos” e desdenhava as mulheres porque, não sei, nem à época me perguntava. Hoje avalio a psicanálise, repasso Freud e vejo Almir em cada trecho, em cada conceito. Mas não adianto nada sobre o que imagino para não incorrer em erro, não cometer deslizes nem ser injusto. Na verdade, Almir me aterrorizava. Ouvia tudo o que me dizia, pois ele costumava falar enfatizando suas frases com empurrões no ombro do interlocutor. Daí por que me limitava a responder: “muito bem, macho! É isso, você está certo”.
Almir formou-se em Direito e desapareceu das notícias. Embrenhou-se no interior para ganhar a vida como advogado do povo, imaginava eu. Dois anos depois tive sobre ele a informação de que sofrera um acidente automobilístico e se quebrara todo, um alarme falso posto que, na verdade, apenas fraturara uma perna e sofrera escoriações leves. Passaram-se os anos e esqueci de Almir.
Semana passada fui ao lançamento do livro do Ariovaldo Matos (uma beleza) e encontrei Agostinho, outro colega da faculdade. Conversamos e, em determinado momento, seu rosto se iluminou:
- Lembra-se do Almir? Encontrei com ele. Está em Salvador e disse-me que vai ficar por aqui, advogando.
Almir enriquecera com a profissão, ganhando e perdendo causas no interior. Comprou fazendas, criou gado, casou, teve filhos. Disso eu soube muito antes de encontrar o Agostinho e me foi relatado, com minúcias, por outro colega de turma.
- Ah, sim, o Almir. Como poderia esquecer-me dele? Está rico, não?
Agostinho riu, não respondei o que perguntei, e completou:
- Rapaz, não mudou nada! Continua o revolucionário de sempre. Só que agora está contra os velhos! Disse-me que o mal do Brasil são os velhos e que é chegado o momento de as forças progressistas afasta-los das atividades produtivas.
Pelo que sei do temperamento do Almir, ele deve andar por aí aplaudindo a meninada, cantando Realce, Beleza Pura, e lançando imprecações contra os idosos, culpando-os por tudo. Quem sabe se não anda de tanguinha pelas praias, dourando-se ao sol, numa versão baiana do revolucionário Gabeira?
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“Está nesta tática porque, eu sei, o desespero deve estar muito grande”.
Presidente nacional do PSOL, Heloisa Helena, respondendo à afirmação de Renan Calheiros, de que ela estaria fazendo calúnias contra ele para aparecer na mídia nacional.
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