Por Villas-bôas Corrêa, no "Jornal do Brasil", edição desta sexta-feira, 3:
Afinal, qual é a orelha do presidente Lula que merece fé nas suas reações ao festival de vaias que começa a invadir as suas aparições em público?
Afinal, qual é a orelha do presidente Lula que merece fé nas suas reações ao festival de vaias que começa a invadir as suas aparições em público?
Há pelo menos três versões do dono das conchas auditivas para cada uma das traumáticas surpresas do maior líder popular etc. A primeira aconteceu na cerimônia de abertura dos Jogos Pan-Americanos, no Maracanã lotado, no dia 13 de julho. Transmitida por todas as redes de televisão, com ampla cobertura da mídia, registram cada segundo da sua contida irritação, com o tempero do pasmo pelo inesperado.
O anúncio da chegada do casal, acompanhado do governador do Rio, Sérgio Cabral, e do prefeito da cidade, Cesar Maia, flagrou a reação estampada na crispação do rosto com a vaia, quatro vezes repetida, a cada vez que o seu nome era mencionado pelo mestre de cerimônia. Uma nuvem cinzenta tingiu a fisionomia enrugada pela indignação que parecia preste a explodir. Com a seqüência desastrosa na trapalhada do anúncio de que, como determina o protocolo, caberia ao presidente declarar aberto o Pan e a sua imagem diante do microfone, substituída pela inexplicada troca pelo presidente do COB, Carlos Arthur Nuzman, que foi aplaudido.
A aurícula que capta vaia passou recibo explícito na justa frustração, com a breve queixa em que cobrava a ajuda do governo para o êxito do Pan.
A cautela ou o seu sinônimo soprou no seu ouvido o mau conselho da ausência na grande festa de encerramento da noite de domingo, quando perdeu a oportunidade única de testar a reação do público, embalado pelo excepcional desempenho dos nossos atletas.
Lula remoeu a mágoa até o desabafo de terça-feira, em Cuiabá, recinto fechado para o lançamento do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) em Mato Grosso.
Com auditório a favor, sentiu-se em casa e embalou no improviso da sua vaidade. Desta vez, claramente montou o revide nas insônias da alma atormentada. Subiu o tom na escala das ousadias e caprichou na interpretação das intenções divinas na criação do homem. Sem a menor cerimônia: "Eu acho que Deus quando fez a gente nos fez perfeitos. Temos duas orelhas, uma para escutar vaias e outra para escutar aplausos".
A revolucionária autonomia das orelhas com funções distintas escancarou a porta para a interpretação de episódios importantes da nossa história recente, com o mesmo desembaraço na remontagem das versões. A ditadura fardada que durou quase 21 anos, com o rodízio de cinco generais-presidentes, na versão estapafúrdia foi provocada pela Marcha com Deus pela Liberdade. No impulso jactou-se de jamais temer a ditadura que desafiou como líder sindical das greves no ABC.
Parecia pouco. O presidente acuado pelas assuadas justifica cautelas e engrossa na ameaça: "Se alguns querem brincar com a democracia, sabem que ninguém neste país consegue botar mais gente na rua do que eu".
O que Lula fala e promete nas suas arengas diárias não pode ser interpretado ao pé da letra. Menos ainda no difícil transe em que a virada nas ruas denuncia a revolta da classe média e o racha nas camadas populares. É absurda a esfarrapada desculpa de que a vaia de mais de 75 mil pessoas no Maracanã tenha sido articulada pelos "que mais ganharam" nestes anos do governo Lula.
Falta o conselheiro experiente e sensato no reino encantado do Palácio do Planalto. Alguém que lembre ao valente que o país está sem governo, com crises pipocando não apenas no tráfego aéreo, mas com milhares morrendo na malha rodoviária em pandarecos, nas cidades sem segurança ou padecendo nas filas dos hospitais, dos postos de saúde.
A vaia não tem dono. E a bravata de botar gente na rua tresanda a catinga de golpismo explícito.
2 comentários:
Aonde já se viu uma Lulla Lellé ter orelhas? Tem não meus irmãos... o molusco não tem visão, audição, tato e não tem paladar... e muito menos(é fato) não palatável... quer me fazer engolir essa?
" Petista é igual a pardal: Tem em tudo que é lugar, não serve pra
nada, é feio, não canta e ainda faz cocô no país inteiro. "
A metástase
Em um dos piores pronunciamentos dos últimos tempos, o presidente Lula disse ontem, em reunião com ministros e líderes partidários aliados, que estava mal informado sobre a extensão e a gravidade da crise aérea que assola o Brasil há mais de dez meses. Segundo interlocutores, Lula disse que se sentia como " um paciente que não soubesse a gravidade da doença e aí, quando vê, está com metástase no corpo todo". Na Folha, Clóvis Rossi resume bem a reação de incredulidade diante da declaração: "não é possível que um aliado transmita a jornalistas tamanho grau de alienação e desinformação de um chefe de governo", escreve.
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