Por Reinaldo Azevedo
Que coisa, não? Daqui a
pouco falta Polícia Federal para tanto crime… A Operação Lava Jato mal começou
o seu trabalho de faxina, e uma outra já foi deflagrada, a tal "Zelotes", que
investiga nada menos do que lavagem de dinheiro, advocacia administrativa,
corrupção, tráfico de influência, associação criminosa… E vai por aí. E
tudo acontecendo, ora vejam!, no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais
(Carf). O Carf, meus caros, é uma espécie, assim, de "Poder Judiciário" da
Receita Federal. É lá que os recursos de empresas e pessoas físicas são
julgados. É formado por funcionários do Ministério da Fazenda e por
representantes da sociedade. A PF estima que a fraude chegue a R$ 19 bilhões em
70 processos que foram analisados, o que superaria, em volume, as safadezas do…
petrolão. Em matéria de corrupção, batemos recordes com espantosa facilidade.
Segundo a PF, o esquema
articula escritórios de advocacia, de assessoria e de consultoria para atuar
junto a conselheiros com o objetivo de diminuir o valor das multas - algumas
dessas empresas pertencem aos próprios conselheiros, que se dividem em três
Câmaras de análise: a primeira se encarrega do Imposto de Renda da Pessoa
Jurídica (IRPJ) e Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL); a segunda,
do Imposto de Renda da Pessoa Física (IRPF) e contribuições previdenciárias, e
a terceira, das questões relativas a PIS/Cofins, Imposto sobre Produtos
Industrializados (IPI), Imposto de Importação (II) e Imposto de Exportação (IE).
O que é um tanto
surpreendente nesse caso? Embora em país nenhum do mundo o Fisco seja admirado - nem deve ser mesmo; quem paga imposto com prazer? -, a Receita era tida como
uma área profissionalizada, moralmente respeitável. O escândalo deixa claro que
não é bem assim.
A Polícia Federal
recolheu, só nesta quinta, R$ 2 milhões em dinheiro. Desse total, R$ 800
mil estavam num único cofre na casa Leonardo Manzan, genro do ex-secretário da
Receita Otacílio Cartaxo e um dos ex-conselheiros do Carf investigados. Outros
assessores de Cartaxo, que já presidiu o Carf, e ex-conselheiros também são
suspeitos de participação no golpe.
Só para lembrar: Cartaxo
substituiu, em agosto de 2009, a então secretária Lina Vieira, aquela que disse
numa entrevista que Dilma, ministra da Casa Civil à época, havia lhe pedido
para aliviar uma investigação que envolvia a família Sarney. Foi na gestão Cartaxo
que se deu o vazamento de dados das declarações de renda de pessoas ligadas ao
candidato presidencial do PSDB à época, José Serra. Um vazamento criminoso e
que nunca foi esclarecido.
O então corregedor da
Receita, Antônio Carlos D'Ávila, e Cartaxo vieram a público para negar o
caráter político do vazamento - que era óbvio -, apontando, para espanto de
todos, que "nas investigações, que poderão ser ratificadas pela Polícia
Federal, há indícios de um balcão de compra e venda de dados sigilosos". O curioso
é que os dois falaram isso e não pediram demissão.
Tudo indica que a
outrora nunca amada, mas respeitada, Receita Federal não resistiu à degradação
dos costumes, dos valores, da ética e da moral.
Ah, sim! A operação se
chama "Zelotes" para indicar o falso zelo, a falsa moralidade. Convém não fazer
ilações de outra natureza, que podem remeter até à história de resistência dos
judeus. Estou entre aqueles que acham que a Polícia Federal poderia escolher
nomes mais simples para suas operações. Essa poderia se chamar "Caça-Safados".
Fonte: "Blog Reinaldo Azevedo"
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