Por Reinaldo Azevedo
A cada ano, a cada dia
do ano, a cada hora do dia em que passou na oposição, o PT se dedicou não a
opor-se ao governo de turno, mas a sabotá-lo. Não importava a proposta que
estivesse em votação, boa ou má, o partido era contra e mobilizava as suas
bases para marcar posição. Afinal, a lógica da diferenciação ajudava a
construir a legenda. Seria preciso citar o "não" às reformas? O "não" às
privatizações? O "não" à abertura da economia ao capital externo? O "não" à Lei
de Responsabilidade Fiscal? Como esquecer, Deus do céu!, o "não" dito à
Constituição e ao Colégio Eleitoral quando aquela era a única saída? Se todos
os partidos tivessem feito, então, como o PT, o resultado teria sido um golpe
de estado.
No poder, a tática
haveria de mudar. Desde 2003, o partido demoniza sistematicamente a oposição,
transforma seus adversários em inimigos da pátria, evoca heranças malditas que
nunca houve, acusa-os de acalentar projetos que não têm ou nunca tiveram
(privatização da Petrobras, por exemplo), esmaga os que divergem nas redes
sociais e apela à rede suja da subimprensa para atacar juízes, ministros do
Supremo, jornalistas não alinhados com o poder e a imprensa independente.
Mas eis que, ao cabo de
12 anos de poder, já avançando no 13º, tem-se um balanço de tanta sapiência:
inflação na casa dos 8%, recessão que já beira -1% (e que será maior do que
isso), juros a 12,75%, baixo investimento, emprego em queda e, compondo o caldo
de cultura da crise, evidências de corrupção como jamais se viram. E não
adianta buscar paralelos na história. Entre a incúria e a safadeza, a Petrobras
está quebrada.
Certo de que tinha o
povo na mão, certo de que detinha o monopólio da representação, certo de que se
pode enganar quase todo mundo o tempo todo, o partido demorou um pouco
para reagir, enquanto a espuma de sua agressiva publicidade ia se desfazendo. A
popularidade de Dilma está no chão, segundo o Datafolha e segundo os
levantamentos do próprio governo. Milhões saem às ruas para protestar.
E o PT faz o quê? Acusa
um golpismo que não existe nem nunca existiu, ataca moralmente os
manifestantes, chama-os a todos de "elite branca", provoca, tripudia, sataniza,
discrimina, agride. O resultado de tal escolha se mede em panelaços. E a gente
descobre que os feiticeiros ainda não esgotaram seu caldeirão de maldades.
Da Secom, a Secretaria
de Comunicação da Presidência, vaza um plano de mídia para enfrentar a crise
eivado de ilegalidades escancaradas: o governo admite que municia - quanto
custa? - os tais blogs sujos com "balas" que são disparadas pelo que se chama
lá de "soldados de fora". Vale dizer: o dinheiro do estado está sendo usado
para fazer política partidária e para a difamação daqueles que são vistos como
adversários. Admite que vai casar a publicidade federal com a figura do
prefeito Fernando Haddad para "levantar a sua popularidade", o que agride
frontalmente a Constituição. Planeja centralizar, como está lá, a serviço do
poder, o que chama de "comunicação estatal" e submeter a Voz do Brasil e a
Agência Brasil aos interesses do governo de turno.
Só isso? Não! A cúpula
do PT se reúne, decide que vai investir pesado na Internet - e a gente sabe
como o petismo atua na rede - e avisa que vai "radicalizar", seja lá o que isso
signifique. Há dias, Lula convidou o MST a pôr o seu exército na rua. O país
vive uma das mais graves crises políticas de sua história, e parece que a
presidente Dilma não conta com um só bombeiro eficiente à sua volta. Ao
contrário: os que vêm a público, os que se manifestam, os que falam, todos
preferem investir no confronto, na intimidação, na violência retórica - por
enquanto ao menos. Começam errando ao atribuir à oposição a organização do
descontentamento, como faz o documento da Secom.
Aliás, o texto vazado da
Secretaria é uma espécie de "Plano Cohen" às avessas. Denuncia a existência de
um fantasioso complô para conseguir licenças especiais. Quem quer que o tenha
redigido não está em busca de resolver a crise, mas de aumentar o seu próprio
poder no governo. Pretende ter uma vista mais aguda do que os outros para que
possa ocupar mais espaço.
Já escrevi aqui e já
disse em toda parte: o risco da radicalização, da violência, do confronto, não
parte das ruas que vestem verde e amarelo, mas de um governo acuado,
pressionado por um partido de aloprados, instigado por mentalidades estreitas,
que só entendem a linguagem do confronto, que era eficiente quando estavam por
cima. Agora, acuados, podem se tornar também violentos.
A única chance de Dilma
minorar a crise - e o que vou dizer nada tem a ver com a possibilidade de ela
ir ou ficar; esse é outro departamento - é diminuir o protagonismo do PT,
exigir que o partido sirva ao governo, em vez de se servir dele; buscar um
entendimento com o PMDB e, dentro do governo, as lideranças desse partido para que
dialoguem com a sociedade. Isso salva mandato? Pensar tal solução não é tarefa
minha. Essa, sim, deveria ser a agenda "deles", em vez de se entregar à
alopragem.
Os petistas e alguns que
se querem especialistas em opinião pública estão, reitero, empurrando Dilma
para a beira do abismo. No fundo, isso tem nome: ódio à democracia. E a prova é
evidente. As manifestações do dia 13, orquestradas pelo PT e pela CUT, regadas
a R$ 35 por cabeça, foram saudadas, ainda que malsucedidas, como evidência do
Brasil democrático. As do dia 15, que reuniram dois milhões, foram, segundo os
gênios, expressão do golpismo.
Eis o PT: o povo que
está com eles é o portador da verdade; o que está contra precisa ser enfrentado
numa guerra suja. Acreditem: esse é o caminho mais curto para Dilma.
Fonte: "Blog Reinaldo Azevedo"
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