Por Reinaldo Azevedo
Na quarta-feira, Michel
Temer (PMDB), vice-presidente da República, concedeu uma entrevista a Roberto
D'Avila, na GloboNews. Lembrava, assim, autoridade de antigamente. De quando?
De antigamente! Não me refiro a um tempo histórico. Falava com cuidado, evitava
inimigos, condescendia com os adversários, entendia as ruas, mantinha o tom
sempre sereno. Temer, em suma, não parecia pertencer àquele suposto "país do
caos", retratado num documento da Secom que recomenda à presidente que
caia na ilegalidade.
O vice-presidente tem
procurado líderes da oposição para conversar… Já falou com Aécio Neves, com
José Serra, com Fernando Henrique Cardoso, com ACM Neto… Enquanto isso, Rui
Falcão, presidente do PT, prefere lançar um grito de guerra contra a mídia e
denuncia golpismo. Os auroproclamados "movimentos sociais" - meras franjas do
próprio petismo - saem por aí a bloquear estradas e avenidas, a incitar Dilma a
dar um guinada à esquerda e a pedir a cabeça de Joaquim Levy. Em sua mente
perturbada, querem aproveitar a crise para radicalizar.
Vale dizer: embora a
presidente legal seja Dilma; embora o PT domine a quase totalidade da máquina
pública; embora os companheiros estejam maciçamente aboletados no Estado, é o
PMDB que está se ocupando da governabilidade - dessa precária, que está aí, ou
de outra que possa sucedê-la.
Temer tem conversado
ainda com empresários. Nesta sexta, almoça no Secovi, o Sindicato das Empresas
de Compra, Venda, Locação e Administração de Imóveis Residenciais e Comerciais
de São Paulo. E, obviamente, ninguém deve supor - porque seria mesmo
falso - que ele conjecture sobre qualquer outra possibilidade que não seja
Dilma concluir o seu mandato. Ao contrário: o vice-presidente expressa a
convicção de que a crise vai arrefecer. E conversa.
Dilma, com suas escolhas
incompreensíveis, presta um favor imenso a seu vice: resolveu deixar claro que
ele não é governo e pronto! A esta altura, convenham, só restaria a Temer um
embevecido agradecimento, não é mesmo? Embora a "Lista de Janot" inclua Eduardo
Cunha (RJ) e Renan Calheiros (AL) - presidentes da Câmara e do Senado,
respectivamente -, o PMDB não está no olho do furacão.
É bem verdade que Cunha
ocupou, na legenda, parte do espaço que antes cabia ao vice. Há, e isto é
inescapável, uma certa tensão no ar, mas nada que não se resolva com uma boa
conversa. Erra quem apostar num curto-circuito nessa relação. De resto, o
presidente da Câmara também tem buscado ampliar a sua interlocução.
Assisti à entrevista de
Temer em companhia da minha mulher. Depois de alguns minutos de respostas
monocórdias, pautada por um rigoroso decoro institucional, ela comentou, com
alguma ironia: "Não é a isso que chamavam antigamente de 'ar presidencial?'" Respondo: é, sim!
Não custa destacar que
ninguém se lembrou do PMDB nas ruas. O nome do vice não foi pronunciado. Se
Temer tivesse vestido uma camiseta amarela e gritado "Fora Dilma", poucos o
reconheceriam. A crise política tem sigla. A crise política tem cara.
Não estou sendo oblíquo,
não. Não estou "batendo na cangalha para o burro entender", como se diz na
minha terra. Estou sendo até bem claro: no campo governista, alguém precisa
fazer alguma política que não seja só a do desespero e da porra-louquice.
Não sei se Dilma vai ou fica. Com ela ou sem ela, o tão malhado PMDB, vejam que coisa!, começa a surgir como uma garantia contra o "caos", aquele que, segundo a Secom, já estaria por aí.
Não sei se Dilma vai ou fica. Com ela ou sem ela, o tão malhado PMDB, vejam que coisa!, começa a surgir como uma garantia contra o "caos", aquele que, segundo a Secom, já estaria por aí.
Fonte: "Blog Reinaldo
Azevedo"
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