Por
Reinaldo Azevedo
As
pessoas têm o direito de caminhar para o abismo. Dilma é uma pessoa. Logo,
Dilma tem o direito de caminhar para o abismo. Se a "presidenta", como eles
dizem, quer ser vítima do silogismo perfeito, o que fazer a não ser assistir à
sua queda espetacular?
Ela está
numa enrascada em razão de escolhas que fez e de escolhas que não fez. Poderia
fazer outras tantas para tentar se segurar no cargo enquanto der ou para evitar
turbulências desnecessárias. Mas ela não é do ramo. Está na cara que, a esta
altura, deveria chamar seu ministro das Cidades, Gilberto Kassab, e dizer: "Pare com esse negócio de criar o PL agora. Isso só me arruma confusão com o
PMDB. Se essa gente quiser, acaba me empurrando para o impeachment, e não
haverá Supremo que salve, até porque nem sei quantos capetas vão sair ainda da
Operação Lava-Jato".
Mas Dilma
não faz isso. Ao contrário! Por tudo o que se sabe e se dá como certo em
Brasília, Kassab está criando o PL sob a inspiração da… governanta. Para vocês
terem uma ideia, entre 2007 e 2014, o famoso Cleovan Siqueira (conhecem?), o
suposto chefão do suposto novo partido, havia conseguido apenas 80 mil
assinaturas para criar a sigla. Aí a máquina kassabiana entrou na parada e se
alcançaram as 500 mil, embora reportagem da Folha já tenha evidenciado a
existência de fraudes. Nota para quem ainda não entendeu: parlamentares hoje na
oposição ou no PMDB não poderiam migrar para siglas já existentes, inclusive o
PSD, de Kassab, mas poderiam ir para uma nova: o tal PL.
Muito
bem! O Congresso já aprovou medidas restritivas à criação de novas legendas: a
fusão com outros partidos só poderia se dar depois de cinco anos, e os
parlamentares migrantes não levariam a parte correspondente ao tempo na TV e ao
Fundo Partidário. Espertamente (será que é esperto mesmo?), Dilma nem sancionou
nem vetou. A turma de Kassab aproveitou a brecha para entrar com o pedido de
criação do novo partido.
DEM e
PMDB decidiram recorrer à Justiça Eleitoral. Mais uma vez, para Dilma, é um
jogo de perde-perde, como foi o lançamento da candidatura de Arlindo Chinaglia
(PT-SP) para a presidência da Câmara: se Eduardo Cunha fosse derrotado, ela
teria contra si fatia considerável do PMDB. Se ganhasse, também! Bingo!
Agora, se
a Justiça der um "ok" para a criação do PL - o que será um escândalo a céu
aberto -, haverá, sim, a migração de alguns peemedebistas, o que vai indispor o
partido com Dilma. Se a Justiça disser "não", a indisposição está dada porque é
evidente o dedo do Planalto na tentativa de quebrar as pernas do PMDB. Por que
alguém entra numa operação como essa? Não sei.
Dilma
desafia a lógica.
Dilma
desafia o bom senso.
Dilma
desafia o óbvio.
Acho que
isso diz muito da qualidade do seu governo. Tudo compatível com quem tem nove
coordenadores políticos - Kassab inclusive.
E o que deve
fazer a Justiça Eleitoral? Os juízes já sabem tudo o que é preciso saber sobre
o PL: quem o está criando; por quê; as suas especificidades, digamos, "ideológicas"; que mão balança o berço… Ficarão entre fazer a coisa certa e se
desmoralizar.
Fonte: "Blog Reinaldo
Azevedo"
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