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quarta-feira, 25 de março de 2015

"Novo partido de Kassab: por que Dilma entra, mais uma vez, num jogo de 'perde-perde'? Ou: PMDB e DEM vão à Justiça contra truque"

Por Reinaldo Azevedo
As pessoas têm o direito de caminhar para o abismo. Dilma é uma pessoa. Logo, Dilma tem o direito de caminhar para o abismo. Se a "presidenta", como eles dizem, quer ser vítima do silogismo perfeito, o que fazer a não ser assistir à sua queda espetacular?
Ela está numa enrascada em razão de escolhas que fez e de escolhas que não fez. Poderia fazer outras tantas para tentar se segurar no cargo enquanto der ou para evitar turbulências desnecessárias. Mas ela não é do ramo. Está na cara que, a esta altura, deveria chamar seu ministro das Cidades, Gilberto Kassab, e dizer: "Pare com esse negócio de criar o PL agora. Isso só me arruma confusão com o PMDB. Se essa gente quiser, acaba me empurrando para o impeachment, e não haverá Supremo que salve, até porque nem sei quantos capetas vão sair ainda da Operação Lava-Jato".
Mas Dilma não faz isso. Ao contrário! Por tudo o que se sabe e se dá como certo em Brasília, Kassab está criando o PL sob a inspiração da… governanta. Para vocês terem uma ideia, entre 2007 e 2014, o famoso Cleovan Siqueira (conhecem?), o suposto chefão do suposto novo partido, havia conseguido apenas 80 mil assinaturas para criar a sigla. Aí a máquina kassabiana entrou na parada e se alcançaram as 500 mil, embora reportagem da Folha já tenha evidenciado a existência de fraudes. Nota para quem ainda não entendeu: parlamentares hoje na oposição ou no PMDB não poderiam migrar para siglas já existentes, inclusive o PSD, de Kassab, mas poderiam ir para uma nova: o tal PL.
Muito bem! O Congresso já aprovou medidas restritivas à criação de novas legendas: a fusão com outros partidos só poderia se dar depois de cinco anos, e os parlamentares migrantes não levariam a parte correspondente ao tempo na TV e ao Fundo Partidário. Espertamente (será que é esperto mesmo?), Dilma nem sancionou nem vetou. A turma de Kassab aproveitou a brecha para entrar com o pedido de criação do novo partido.
DEM e PMDB decidiram recorrer à Justiça Eleitoral. Mais uma vez, para Dilma, é um jogo de perde-perde, como foi o lançamento da candidatura de Arlindo Chinaglia (PT-SP) para a presidência da Câmara: se Eduardo Cunha fosse derrotado, ela teria contra si fatia considerável do PMDB. Se ganhasse, também! Bingo!
Agora, se a Justiça der um "ok" para a criação do PL - o que será um escândalo a céu aberto -, haverá, sim, a migração de alguns peemedebistas, o que vai indispor o partido com Dilma. Se a Justiça disser "não", a indisposição está dada porque é evidente o dedo do Planalto na tentativa de quebrar as pernas do PMDB. Por que alguém entra numa operação como essa? Não sei.
Dilma desafia a lógica.
Dilma desafia o bom senso.
Dilma desafia o óbvio.
Acho que isso diz muito da qualidade do seu governo. Tudo compatível com quem tem nove coordenadores políticos - Kassab inclusive.
E o que deve fazer a Justiça Eleitoral? Os juízes já sabem tudo o que é preciso saber sobre o PL: quem o está criando; por quê; as suas especificidades, digamos, "ideológicas"; que mão balança o berço… Ficarão entre fazer a coisa certa e se desmoralizar.

Fonte: "Blog Reinaldo Azevedo"

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