Por Dr. Fábio Blanco
Muitas pessoas me
pedem para escrever sobre a Teologia da Missão Integral, desejosas que estão de
entender melhor o que é esse movimento dentro das igrejas evangélicas. Confesso
que este não está entre meus assuntos favoritos, e se comento sobre ele é
apenas por uma questão de responsabilidade e necessidade. Isso porque considero
a TMI como o maior perigo à igreja brasileira da atualidade, por trazer para
dentro do ambiente eclesiástico uma visão contaminada de marxismo, esquerdismo
e toda sua retórica materialista.
No entanto, neste
artigo, especificamente, vou apenas tecer alguns comentários sobre um vídeo, com um pequeno trecho de uma
conversa, em forma de palestra, entre o pastor Ed René Kivitz, meu
conterrâneo da cidade de Santos, com quem até já almocei uma vez, quando ainda
eu era bem jovem e que agora parece estar bem engajado na divulgação da
Teologia da Missão Integral, o pastor Ariovaldo Ramos, talvez o maior expoente
do movimento no Brasil e o pastor Davi Steuernagel, a quem conheci apenas aqui.
O pastor Kivitz, bem
no início do vídeo, afirma que a Missão Integral assusta as igrejas evangélicas
brasileiras porque "o evangelho assusta". E aqui nós já encontramos a pretensão
de ver a TMI como o reflexo do próprio evangelho, como se os princípios
levantados pelo movimento fossem simplesmente a interpretação exata das
palavras e exemplos de Cristo. Assim, não há dúvida que, para os
integrantes da TMI, evangelho e Teologia da Missão Integral são a mesma coisa,
tratam do mesma tema, possuem as mesma preocupações.
Mas o pastor segue
afirmando que quando falam em igreja evangélica, não necessariamente estão
falando "do povo convertido", mas de "auditórios religiosos superlotados
de pessoas que ouviram uma mensagem de que Deus existe para resolver os seus
problemas, o que é absolutamente distinto do que é a convocação do evangelho de
Jesus".
Até aqui, as palavras
de Kivitz não são tão problemáticas, ainda mais quando já conhecemos o que
pensa o pessoal da TMI em relação às grandes igrejas neopentecostais. No
entanto, a sequência do que diz contém algo bem mais sério e que se apresenta
quase como calúnia contra a maioria evangélica brasileira. O pastor,
simplesmente, afirma que "O evangelho de Jesus assusta [pois] você tem que
negar a si mesmo, viver para o próximo, incluir o outro na sua agenda, repartir
o que você tem, devolver o dinheiro injusto que você acumulou, você tem que
restituir quem você roubou…" e por isso ele assusta a igreja evangélica.
Ora, é muito
interessante a forma como esses representantes da TMI enxergam a população
evangélica. Veja que o pastor afirma que as pessoas que frequentam esses
auditórios lotados, dessas igrejas que vivem pregando as promessas divinas, não
aceitam a proposta da TMI por ser ela verdadeira. E o que representa essa
proposta é, entre outras coisas, não cometer crimes. Portanto, pode-se concluir
que, segundo a cabeça do pastor Kivitz, as pessoas das igrejas evangélicas não
aceitam a TMI porque pretendem continuar roubando, fraudando, enganando os
outros. Ao dizer que os evangélicos se assustam por causa da proposta do
evangelho, está acusando-os de serem egoístas, interesseiros e até criminosos.
Isso é de uma
arrogância impressionante, mas não é tão surpreendente quando conhecemos as
origens intelectuais e ideológicas da Teologia da Missão Integral. Como bons
esquerdistas, eles se enxergam como os paladinos da justiça, santos imaculados
que só fazem bem à sociedade, enquanto acusam aqueles que não abraçam sua causa
de serem criminosos. Isso está no DNA da esquerda e parece que foi bem
assimilado pelos representantes da TMI.
Além disso, a
hipocrisia também é parte inerente ao discurso dessa turma. Tanto que o
pastor fala em "repartir o que você tem", quando, é bem sabido, que todos os
líderes da Missão Integral são bons burgueses, pessoas da classe média, com uma
vida bem confortável e, até onde se sabe, não repartiram seus apartamentos,
carros, salários e outras benesses com os pobres. Isso apenas significa
que a hipocrisia esquerdista também foi absorvida e está bem forte em seus
discursos.
Antes de seguir na
análise do vídeo, deixe-me fazer uma observação: para entender a linguagem dos
representantes da TMI, é necessário alguma experiência com a linguagem das
esquerdas, a fim de captar a sutileza do que dizem e entender onde realmente
eles estão querendo chegar.
Por exemplo, para
compreender o que diz o pastor Valdir Steuermagel, que falou logo em seguida, é
preciso saber como os movimentos socialistas assumiram o poder em todos os
lugares que lograram êxito na assunção ao poder. Ele diz que a TMI assusta
as igrejas evangélicas porque elas não estão acostumadas com o sistema de "horizontalidade", que significaria, nada menos, que a abolição do sistema
hierárquico da igreja ou, como ele mesmo diz, o "sistema clerical".
Quem estudou um
pouquinho de história sabe que essa sempre foi a retórica dos marxistas. Da
promessa da ditadura do proletariado, passando pelo governo dos sovietes,
sempre lutaram pelo poder prometendo acabar com a força das autoridades e da
hierarquia, distribuindo esse mesmo poder entre o povo. O problema é que o
resultado, invariavelmente, foi apenas a substituição de uma elite por outra,
sendo esta ainda mais centralizadora e poderosa.
Na Missão Integral
não ocorre algo muito diferente. Apesar da linguagem bonita, conclamando à
horizontalidade da gestão, o que vemos são os poucos e mesmos líderes a frente
de todos os trabalhos. Ariovaldo Ramos (participante dessa conversa), o próprio
Ed René Kivitz, Ricardo Gondim e mais uns dez fazem parte dessa liderança. Se
houvesse uma horizontalidade verdadeira, isso já deveria ter se manifestado na
própria representatividade da TMI no Brasil. Mas, na verdade, o que vemos são
os mesmos nomes, os mesmos expoentes que estão a frente de todos os trabalhos.
Portanto, a tal horizontalidade é apenas retórica, uma propaganda que não tem
nada a ver com a realidade. Mas isso já é uma prática bem conhecida dos
esquerdistas.
E o pastor
Steuernagel ainda afirma que a Missão Integral "é um convite para baixo e
não para cima, para a periferia e não para o shopping center". Para quem
não entendeu, ele quer dizer que a TMI trabalha com os pobres, não com a classe
média e os ricos da sociedade, que ela está inserida dentro da população mais
carente.
Só que aqui a
realidade desmente fragorosamente o discurso. Na verdade, são as igrejas
neopentecostais que se espalharam entre a população carente e têm contribuído
para tirar muita gente das drogas, do tráfico e do crime. São essas igrejas
pequenas e loucas que ajudam mulheres que apanham dos maridos, tirando estes do
bar, trazendo-os para dentro do culto. Enquanto isso, as igrejas dos
representantes da TMI são formadas, maciçamente, de pessoas com poder
aquisitivo muito maior do que a média da população brasileira.
É muito fácil falar
que preferem os pobres, difícil é viver entre eles!
O mesmo pastor ainda
critica os modelos religiosos "que trabalham com o pressuposto que todos temos
que chegar ao shopping center. E a Missão Integral é um convite (…) para a
periferia". Aqui, claramente, aparece o ranço anticapitalista que está no âmago
do discurso da Missão Integral. Como se o evangelho fosse um chamado à pobreza,
simplesmente. O problema, é que a vida de seus próprios líderes não reflete
nada disso, pois todos vivem de forma bastante confortável. Inclusive, os
seminários e palestras da TMI são todos feitos em auditórios luxuosos, como
esse do vídeo, com uma plateia composta de pessoas da classe média, com ar
condicionado, cadeira almofadadas e todo o conforto que todo bom burguês
merece. Claro que há trabalhos desses grupos com gente da periferia, mas nada
que um bom banho e a limpeza das mão com álcool gel não resolva. Viver entre os
pobres, dividir o que têm, nenhum deles quer.
E apesar da crítica
constante que esses líderes fazem do culto à personalidade e da hierarquia tão
presentes nas grandes igrejas evangélicas, basta observar como o pastor Kivitz
se refere ao líder maior da TMI, na América Latina, René Padilla, para perceber
o grau de reverência, culto e quase idolatria como ele enxerga seu guru. Não
adianta, quanto mais ouvirmos os representantes da Missão Integral mais perceberemos
a oposição constante entre a fala e a vivência. Isso acontece porque, como todo
pensamento de esquerda, a TMI é uma artificialidade, uma negação da experiência
e sempre acaba em contradição.
Há diversos pontos
que podem, teoricamente, ser levantados contra a Teologia da Missão Integral.
No entanto, por ora, basta ver esse pequeno trecho disponível em vídeo para
perceber a arrogância e a hipocrisia que permeiam esse movimento.
Fonte: "Mídia Sem Máscara"
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