Por Reinaldo Azevedo
O Brasil já estava devagar, quase parando, antes da Operação
Lava-Jato. Agora, empacou de vez. E, à diferença do que supõe Lula, a saída não
é declarar a existência de uma grande conspiração, ignorar as investigações,
pôr o exército de João Pedro Stédile nas ruas, liberar o financiamento público
para as empreiteiras tocar as obras, xingar o FHC…
Nada disso! Com ou sem Dilma no
comando, o país continua. Seja ela impichada ou não, existe amanhã. O transe em
que vivemos já demitiu alguns milhares de trabalhadores. Muitos outros vão se
seguir a esses… E aí?
O que proponho aqui não é um
caminho para Dilma se livrar do impeachment - essa questão é, em primeiro
lugar, jurídica e, em segundo, mas com igual peso, política -, mas para o país
se livrar do caos. O 'Estadão' informa que empresas investigadas pela Lava-Jato,
ou suas subsidiárias, têm pedidos de empréstimo no BNDES que somam R$ 31
bilhões. O banco, lembre-se, pode ser alvo de uma CPI; seu presidente, Luciano
Coutinho, em vez de tentar dar as explicações que lhe pedem, dedica-se a
conversas ao pé do ouvido para impedir a comissão… Que coisa!
Não para segurar o seu mandato,
mas para o país não despirocar de vez, o mais sensato que Dilma tem a fazer - e, por isso mesmo, ela não o fará - é deixar o PT, instalar um gabinete de
crise, estabelecer algumas prioridades para a infraestrutura do país, submeter esses
projetos a uma comissão de notáveis - com o endosso do Congresso, da CGU, do
TCU e do Ministério Público - e tocar o que pode ser tocado.
Em vez disso, sabe-se lá sob
qual inspiração e atendendo a que princípio de economia política, a governante
mobiliza o advogado-geral da União para propor acordos de leniência que, dado o
contexto, só intoxicam o ambiente e criam dificuldades novas. De fato, tais
acordos, se fossem feitos, não isentariam o criminoso de nada nem impediriam a
ação penal. Ocorre que a questão não é só técnica: ela é também política.
Notem: ainda que o propósito fosse o mais legítimo, quem iria acreditar?
Tanto pior quando tal proposta
é feita antes que o Ministério Público Federal conclua a primeira etapa do seu
trabalho, cujo desfecho é a chamada "lista de Janot". Ainda que Dilma e Luís
Inácio Adams tivessem a melhor das intenções, parecia evidente que a inciativa
não iria prosperar. E ainda acrescentaria, como aconteceu, a suspeita de que o
governo está tentando livrar a cara das empreiteiras, em vez de puni-las.
Naquela desastrada entrevista
quebra-queixo que concedeu, em que culpou o governo FHC, Dilma se estabacou ao
falar sobre as empresas. Exercitando aquela sua estranha língua, afirmou: "Nós
iremos tratar as empresas tentando principalmente considerar que é necessário
criar emprego e gerar renda no Brasil. Isso não significa de maneira alguma ser
conivente ou apoiar ou impedir qualquer investigação ou qualquer punição a quem
quer que seja".
O que isso quer dizer? Não dá
pra entender. O país precisa de petróleo, de gás, de estradas, de aeroportos,
de portos, de hidrelétricas, de sondas… Refaço a frase: não é o país, mero ente
abstrato, que precisa disso; são as pessoas. E é evidente que não se poderá
esperar a conclusão da Lava-Jato, com as devidas punições, para que
financiamentos sejam concedidos, e obras, retomadas.
Mas como é que se dá
operacionalidade a um país que existe independentemente da cambada que o
assalta? Uma recessão já estava contratada, pelas razões conhecidas, antes
dessa desordem. O que estou dizendo é que é preciso achar um caminho, e ele
existe, que leve a investigação às últimas consequências, que honre o devido
processo legal, que meta na cadeia os culpados, mas que, de fato, não nos
conduza ao abismo.
As ruas já começaram a dar o
seu recado a Dilma. E se farão ouvir com clareza no dia 15 de março. Em vez de
passear num supermercado no Uruguai, a presidente tem de se dar conta do
tamanho da crise, livrar-se da canga petista e evitar o pior. Não para
preservar o seu mandato, mas para que os brasileiros sofram menos.
Fonte: "Blog Reinaldo Azevedo"
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