Por
Reinaldo Azevedo
O tempo passa, e as coisas só pioram na Petrobras e no Brasil. A
presidente Dilma se comporta como o último imperador romano, que, no fim da
linha, preferia cuidar de galinhas. Ocorre que esta senhora, que encerra
melancolicamente o seu mandato, terá mais quatro anos - caso cumpra o
calendário e não seja atropelada pela lei. A entrevista concedida nesta segunda
por Graça Foster, presidente da estatal, evidencia que o governo perdeu o pé da
situação. Raramente se viu soma tão robusta de sandices. Para piorar, as
denúncias chegam à atual diretoria da empresa: segundo Paulo Roberto Costa e
Alberto Youssef, José Carlos Cosenza, atual diretor de Abastecimento e
substituto do próprio Costa, também recebeu propina. Ele nega. E tudo pode
sempre piorar: surgiram sinais de que o esquema criminoso pode ter atuado
também na Eletrobras, cujas ações despencaram nesta segunda.
Obviamente, não vou eu aqui afirmar a culpa de Cosenza. Denúncias
precisam ser provadas para que possam ter consequência penal. Ocorre que esse
caso tem mais do que a esfera puramente criminal. Será que a Petrobras aguenta
ter um alto membro da atual diretoria sob suspeita? Não é o mais recomendável
para uma empresa que não consegue divulgar números de seu balanço trimestral e
que já enfrenta sinais de que terá dificuldades para se financiar no mercado
externo em razão da falta de credibilidade.
Cosenza estava ontem no evento-entrevista que Graça organizou,
compondo a mesa da diretoria da Petrobras. Que a roubalheira comeu solta na
empresa - seja ou não para financiar partidos -, isso já está comprovado. Um
único gerente, Pedro Barusco, fez acordo de delação premiada e aceitou devolver
US$ 97 milhões - o correspondente a R$ 252 milhões. Seu chefe, no entanto,
Renato Duque, homem de José Dirceu na empresa e ex-diretor da cota do PT,
afirma não saber de nada e se nega a colaborar com as investigações. Assim, se
formos nos fiar nas palavras de Duque, devemos acreditar que seu subordinado conseguiu
a proeza de amealhar R$ 252 milhões fazendo falcatruas às escondidas do chefe.
O processo será longo. Estamos só no começo. Pensem, por exemplo,
que o caso vai mesmo esquentar quando aparecerem os nomes dos políticos, que
estão se acumulando lá o STF. Aí é que vocês verão a barafunda.
Desde o começo da crise, tenho chamado a atenção para o óbvio: por
que a prática seria diferente nas demais estatais se os atores são os mesmos,
se a política é a mesma, se os critérios são os mesmos? Surgiu o primeiro
elemento que pode indicar que os criminosos atuaram também na Eletrobras - e
sabe-se lá onde mais. A presidente brinca com o perigo.
Para começo de conversa, deveria intervir já - e não mais tarde -
na Petrobras. Está na cara que Graça Foster perdeu a condição de presidir a
empresa. Cosenza tem de ser afastado não porque esteja comprovada a sua culpa,
mas porque a estatal não pode conviver com desconfiança. Evidenciada a sua
inocência, que volte.
Um mês
Vejam vocês: hoje, 18 de novembro, faz exatamente um mês que Dilma admitiu pela primeira vez a possibilidade de haver desvios na Petrobras. E ainda o fez daquele modo rebarbativo. Disse então: "Se houve desvio de dinheiro público, nós queremos ele de volta. Se houve, não; houve, viu?". Até o dia anterior, ela atribuía as críticas aos desmandos na empresa à pressão dos que quereriam privatizá-la.
Vejam vocês: hoje, 18 de novembro, faz exatamente um mês que Dilma admitiu pela primeira vez a possibilidade de haver desvios na Petrobras. E ainda o fez daquele modo rebarbativo. Disse então: "Se houve desvio de dinheiro público, nós queremos ele de volta. Se houve, não; houve, viu?". Até o dia anterior, ela atribuía as críticas aos desmandos na empresa à pressão dos que quereriam privatizá-la.
Dilma terá dias bem difíceis pela frente. O show de horrores está
só no começo. Imaginem quando começarem a sair do armário os esqueletos das
contas secretas no exterior, onde foi depositada parte da propina. Uma única
conta de Barusco da Suíça teve bloqueados US$ 20 milhões. Na delação premiada,
Youssef se prontificou a ajudar a PF a chegar inclusive a contas que
pertenceriam ao PT. Se elas existem ou existiram, a cobra vai piar.
Fonte: "Blog
Reinaldo Azevedo"
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